segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Barak Obama: A divindade salvadora da humanidade?


A madrugada de quarta feira, foi de júbilo em todo o mundo, na América, na África e na diáspora, mesmo os negros do partido republicano, todos torceram de algum modo, e gritaram ainda que em seu intimo e no silencio: Yes!, Ganhou Obama! Ganhamos! Ganhou Barak! Nem as lagrimas do Reverendo Jesse Jackson, critico feroz de Obama, histórico militante das causas negras, e herdeiro direto de Martin Luther King, deixaram dúvidas: O inimaginável aconteceu! O sonho do Dr King tornara-se realidade. Os EEUU agora tem um presidente negro! A segregação, a dominação e o racismo praticado pelos Estados Unidos contra os não brancos no mundo, está redimido. Nosso orgulho e a auto estima está nas alturas. Um irmão, é o presidente da maior potencia do planeta.

O que mudou depois dos Sit-ins e das manifestações do Rev. King, dos Black Muslins de Malcoln X, da resistência armada e das ações sociais dos Black Panters? Mudou a nação americana? Avançou tanto assim, o negro na América?

É indiscutível a historia de organização e resistência dos negros americanos. Lutaram na a Guerra da Secessão contra a escravidão; nas 1ª. e 2ª. Grandes guerras, como bucha de canhão, por suas vidas; as guerras da Coréia e do Vietnã por afirmação, e as guerras do Oriente Médio, como cidadãos. Nesse período, muitos foram os avanços na área econômica, política, do direito, nas artes e sobretudo da organização. Adquiriram o respeito dos brancos.

Sou da opinião que há sentimentos que não se superam, o racismo por exemplo. Trata-se de um sentimento-cultura adquirido, que vigiado sob pressão e denuncia permanente, e sob uma legislação eficiente, recua, mas não desaparece. Fica lá, guardado no arquivo morto, jamais é deletado. Se houver uma brecha, uma oportunidade, ele volta. É como erva daninha.

Com todas as contradições da nação mais rica do mundo, que já foi a mais racista, que mantém uma população de mais de 20% de americanos negros, indígenas e latinos abaixo da linha de pobreza pobreza, deixando morrer a mingua milhares de cidadãos afro americanos no episódio do Furacão Katrina, e mantendo a quase totalidade da juventude negra desempregada, marginalizada e nas prisões. Como essa nação se permite eleger um negro presidente? Fenômeno? Mistério?

No mundo inteiro, até as racistas elites brancas mais perversas do planeta, deste Brasil varonil, e suas classe médias, torceram freneticamente por Obama. Ninguém agüenta mais esse cow-boy fanfarrão, assassino e belicoso chamado Bush, bem como os prejuízos que causou a todos povos e negócios. Em 8 anos de mentiras levou os EUA a terceira aventura guerreira da historia, contra povos e governos soberanos, a Guerra perdida do Afeganistão e do Iraque, depois das Guerras também perdidas, da Coréia e do Vietnã. Os custos econômicos e em vidas dessa prioridade tresloucada e belicosa teve como conseqüência a desmoralização total da nação, constituindo uma unanimidade internacional anti-Bush, algo impar na historia.

Imbróglio de difícil solução para qualquer presidente americano. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Como sair desse impasse, se em quaisquer circunstancia, a retirada será cara em recursos financeiros, em vidas humanas e em uma maior desmoralização do pais. Os EUA terão de investir pesado para acomodar todos os interesses, ou fazer uma retirada incondicional e atabalhoada, como no sudeste asiático, provocando um conflito generalizado na região.

Os americanos gostam de acreditar que seu rico país também é o mais generoso com os povos bárbaros, atrasados e preguiçosos do resto do mundo. Algo como o máximo da hipocrisia judaico-cristã. "Nós matamos, mas os ajudamos a serem melhores". É para ter a sensação de que o crime justificado, valeu a pena.

Barak é um negro incomum, revelado neste pandemônio conjuntural, mostra-se individualmente capaz e competente, sabendo explorar com sabedoria as oportunidades que a vida lhe oferece. Alguns chamam isso de sorte! Resultado de uma família problemática e desfeita, encontra carinho na avó remediada. Bom aluno, inteligente, cursa excelentes colégios e universidades. Inicia-se no movimento social como opção de militância e de carreira política. Obama constrói seu caminho na militância social e profissional, com compromisso, dedicação, ética e coerência, sobretudo buscando um ideal legitimo, uma carreira política de destaque.

A perseverança, sua dedicação, a boa oratória e a cara de bom moço, revelou um elemento convincente e sedutor, cheio de credibilidade, que o vendeu para o mundo um negro não radical, coerente e centrado. Fosse Obama um agitador esquerdista ou um nacionalista negro, seria vendável do mesmo modo? É obvio que não! O presidente dos EUA, é resultado da confluência de todos esses fatores: inteligência, habilidade, conjuntura, oportunismo e um produto muito bem marquetado. Todos estes fatores contribuíram para esse, o momento do Obama.

Mas Barak teve pela frente uma Hillary, Senadora, consorte do presidente anterior, que terminou seu mandato com índices fantásticos de aprovação, mesmo assim não conseguindo fazer seus sucessores. Falta brilho próprio aos Clintons, ou é incapacidade de transferência de prestigio e do voto do ex-presidente? Ao contrario, os Clintons tem charme, e Hillary é uma mulher forte, simpática, politicamente experiente, primeira dama por dois mandatos. Tinha tudo pra dar certo. O machismo democrata não acreditava em uma vitória, especialmente em ser a hora e a vez de uma mulher no cargo e na função mais poderosa do universo, jogariam para perder, mas perderiam com um macho, ainda que ele fosse negro.

Ocorre que os republicanos responsáveis pelas ações desastradas (que se aprofundavam cada vez mais) de seu presidente, não tinham quadros capazes de reverter a impopularidade dos últimos mandatos, (Bush foi reeleito em eleição fraudada, lembram-se?), e escolheram num momento de repúdio à sanha guerreira de Bush, um herói de guerra, McCain, provavelmente tão belicoso quanto o primeiro, para ser o candidato, e com um programa, (embora negasse semelhança e tentasse se desvencilhar da figura do presidente) de continuidade, para fazer e beneficiar os mesmos. Um homem velho, de direita e fora de seu tempo.

Muito mais estava por vir. Se todos se lembram a crise das bolhas das hipotecas apareceu em agosto ou setembro de 2007. De lá pra cá, o governo Bush manobrou, se equilibrando como pode, para não transparecer as evidencias de que a crise prenunciada
era inevitável e semelhante em gravidade e importância á Grande Depressão de 1929, que durou até 1935/36, provocando a maior tragédia social e econômica para os americanos e para o mundo só comparável à bomba atômica em Hiroshima e Nagazaki em 1945. Hum ano depois, e apesar de todas as tentativas mágicas, Bush não debelara a crise, e ela reaparece com toda força catastrofista, um mês antes do pleito eleitoral. Não tendo o que fazer, senão injetar dólares para evitar um caos maior, sem representatividade no congresso, Bush revela ao mundo o seu drama.

Barack, moço pratico, e hábil, cercado de competentes assessores e marqueteiros (sua campanha arrecadou e gastou quase o dobro de McCain), enfrentando o conservadorismo dos eleitores republicanos, brancos operários, pequenos fazendeiros, classe média preconceituosa e racistas de todos tipo, soube aproveitar-se das oportunidades, com um discurso genérico de mudança, do favorecimento do contribuinte das classes médias, os políticos, os juizes, os pequenos e médios empreendedores, maioria do eleitor americano; prometendo injetar mais algumas centenas de bilhões de dólares na economia para debelar a crise, liquidou a fatura. Seu discurso de autonomia americana em fontes energéticas acabou por adoçar o bico dos empresários e consumidores, que não deixam seus carros na garagem de jeito nenhum.

Acabou o racismo na América, ou Obama é um fenômeno? Durante os anos da revolução Negra Americana, nos idos de 60 e 70, quando as autoridades do país admitiam que a guerra interna com os negros, (que lutavam contra a segregação e pelos direitos civis), trazia mais prejuízo a nação que a guerra da Coréia e do Vietnã, confessando que a prioridade era por um fim a revolta dos negros, mais cara para o país. Tempos em que os negros, eram votados para lideres sindicais para representar os trabalhadores brancos, mas não eram aceitos, por estes, como vizinhos, em seus condomínios, sob alegação de que iriam desvalorizar as suas propriedades. Qualquer semelhança com o argumento das elites brancas "donas" das universidades publicas, no Brasil, contra as COTAS, não é mera semelhança.

Agora, para salvar os bolsos da nação, qualquer individuo, mesmo um negro, com perfil de bom moço, serve para ocupar o maior símbolo de poder capitalista: Ironicamente, A Casa Branca será ocupada por um negro, quebrando todos os velhos paradigmas. Era isso ou McCain, o mesmo remédio que está matando o paciente.

O racismo não morreu nos EUA, como não morrerá no Brasil. Uma contingência de fatores que vão do caráter, competência e sorte, colocaram Obama, no lugar e no momento certo. Isto tem precedentes na historia. Lula arrasando Serra após o repudiado governo de FHC; a eleição do Hitler em um momento de desespero do povo alemão, após a primeira Guerra mundial; A vitoriosa revolução bolchevique em 1917, após a anarquia e destruição praticadas na Rússia pelo Kzar incompetente e corrupto. As fragilidades e contradições político-sociais, moldam os momentos da humanidade, e haverá sempre alguém, com criatividade e inteligência para ocupar as brechas que se abrirem. Essa foi a hora e a vez de Obama, a vez de negras e negros, da juventude, indígenas, dos latinos, de todos daqueles que, respeitando os espaços conquistados por outros seguimentos e culturas, pagaram pra ver mudanças. “A esperança venceu o medo!”

No entanto, não nos iludamos, as instituições americanas solidamente estruturadas, a mais de 200 anos, jamais dariam o mesmo cheque em branco, (que deram a Bush no momento de torpor, após o atentado as torres gêmeas), a outro presidente, especialmente a um representante da minoria. E este, cauteloso e tático como se mostrou, não vai desafiar estas mesmas instituições, será fiel a elas, procurando resolver prioritariamente a crise financeira; utilizar a sua representatividade buscando formas para sair do imbróglio da Guerra no Oriente Médio; implementando uma diplomacia aos moldes de Clinton, que costure acordos entre árabes e judeus; que ajude os africanos combater a AIDES; que coloque seu prestigio a serviço da paz; que talvez, levante o inexplicável bloqueio contra Cuba, pois mais beneficiaria os EUA.

Provavelmente, implementará uma política de distensão e de relações de amizade, com os paises sub e em desenvolvimento baseado na velha cartilha democrata, de proteção e de relações comerciais que atendam prioritariamente os interesses americanos. Será um governo tipicamente democrata sem os escândalos. O novo será um chefe negro.


Reginaldo Bispo-MNU-CPN-SP

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