segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Seção "Entrevistas"

Começando a seção "Entrevistas", uma forma de dialogar com pessoas que tentam transformar esse mundo imundo nosso, tentando torna-lo justo e igualitario. Será uma seção mensal. Acompanhem e compartilhem as idéias... Para começar, convidamos Davi Perez, diretamente de Santa Catarina.

Quem é Davi Perez?

Davi Perez compõe, canta e produz Rap’s em Florianópolis/SC desde o ano 2000. Seu contato com o Hip-Hop se deu quando conheceu membros do grupo Código Negro, e posteriormente no extinto Ch2f (conexão hip-hop da grande Florianópolis). Atualmente Davi Perez está trabalhando em algumas músicas solo.
 

Como que aconteceu seu contato com Hip Hop?
Quando eu tinha entre 13 e 14 anos comecei a escutar alguns sons nacionais e internacionais e a compor alguma coisa. Posteriormente tive contato com os camaradas do Código Negro (grupo de rap daqui de Floripa), e participei de algumas viagens e eventos com eles. A partir daí sempre estive interagindo com o Hip-Hop. Participei até meus 18 anos do já extinto Ch2f (Conexão Hip-Hop da grande Florianópolis), um coletivo que buscava unir os membros do Hip-Hop da grande Florianópolis e organizar eventos, palestras e oficinas nas comunidades. Porém, era bastante limitado por estar atrelado a uma ONG que muitas vezes impedia que o coletivo tivesse um caráter de militância e que buscasse elevar o nível de consciência dos seus membros.
Atualmente estou fazendo algumas músicas solo e buscando a interação com outros membros do Hip-Hop daqui de Floripa que possuam uma perspectiva transformadora.

O escritor inglês Nick Hornby, em entrevista para a Revista Veja, disse q o rap é conservador. O que acha dessa afirmativa?

É uma afirmativa leviana e sem consistência.
Sabemos que o Rap tem origens na Jamaica e também nos guetos dos EUA, e que existia um conteúdo de contestação à ordem vigente já nesta origem. Isso é importante levar em conta. Mas também é preciso perceber a diferença entre forma de expressão e conteúdo. Depois que um estilo musical se propaga, ele pode ser apropriado por pessoas com as mais diferentes concepções: Conservadores, revolucionários, reformistas, individualistas, niilistas e etc. Não há como ter controle sobre isso. Garanto que em todos os estilos musicais (samba, rock, reagge, MPB. Etc.) é possível encontrar músicas conservadoras e músicas com uma perspectiva de transformação. A forma de expressar a música não determina automaticamente o seu conteúdo, por isso que eu não tenho nenhum preconceito com os mais variados tipos de ritmo existentes no mundo.
E mesmo se tratarmos apenas da musicalidade do Rap, chegaremos a conclusão de que ele pode ser bastante inovador. O próprio Caetano Veloso disse em uma entrevista que admira como que o Rap consegue transformar ‘o que seria o extremo do não-swing em um super-swing’.
 O que espera alcançar com seus raps?
Eu espero apresentar alguma inovação na musicalidade, com mistura de diferentes ritmos, e não apenas ‘mais do mesmo’ ou Xerox de gringo. Espero atingir as pessoas com letras que realmente ‘coloquem de cabeça pra baixo’ o senso comum propagado no dia a dia, trazendo temas diferenciados. Mostrando que a única forma de sermos essencialmente humanos é nos unindo e agindo em torno de um objetivo comum, em torno do bem comum. Me vejo em um constante processo de aprendizado, acredito que ainda posso evoluir muito...
 Como é a cena local?
A cena em Floripa e no estado de Santa Catarina já foi mais forte, atualmente o movimento está bastante fragmentado (cada um na sua) e são raros os eventos. Destaco alguns grupos como: Código Negro, Retaliação, Manifesto, Mc Maníaco, Poeta Urbano...
O pessoal que participa do Hip-Hop em SC precisa compreender que a única maneira de termos força aqui no nosso estado é nos unindo por nossos próprios esforços, criando uma verdadeira coletividade. E não esperando a ‘boa vontade imaginária’ de terceiros e tendo ‘compromisso’ somente em torno do seu próprio umbigo.
 O que o rap brasileiro precisa e onde ele pode chegar?
O Rap Brasileiro precisa de mais criatividade, independência, conteúdo, leitura, musicalidade, união, humildade e posicionamentos firmes. Os setores do Rap que acreditam que é possível superar esse atual modo de organização social podem contribuir bastante com a elevação do nível cultural do nosso povo. Contribuindo para que o povo se organize e construa um projeto diferente de sociedade.

Você tem uma veia militante né. Diga mais sobre, por favor.
Eu sempre tive uma visão crítica em relação à sociedade que vivemos atualmente, nunca achei que ela era ‘natural e insuperável’, mas apenas uma fase histórica que pode sim ser superada pela ação consciente dos seres humanos. Quando eu participava do Ch2f o coletivo acompanhou as manifestações de 2004 e 2005 que lutavam pela redução da tarifa de ônibus. E depois me aproximei mais do movimento estudantil. Atualmente estou cursando Serviço Social na Federal de Santa Catarina (UFSC) e participo do MUP (Movimento por uma Universidade Popular), um movimento que luta em favor de um projeto de universidade diferente desse que conhecemos hoje (elitizado e a serviço do mercado). Lutamos por uma universidade construída pelo povo e para o povo, que produza ciência e tecnologia a serviço dos interesses de emancipação dos explorados e oprimidos, e não a serviço das grandes corporações e latifúndios.
No curso de Serviço Social participo do NETEG (Núcleo de Estudos em Trabalho e Gênero), um núcleo que busca aprofundar um estudo coletivo em favor da emancipação humana, a partir daquilo que o proletariado já construiu de acúmulo prático e teórico em suas lutas históricas, tendo como principais referências: Marx, Engels, Lênin, Lukács, Mészáros. Outras referências que eu tenho aqui em nosso continente são: Luiz Carlos Prestes, Che Guevara, Florestan Fernandes, Zumbi dos Palmares, Tupac Amaru, Juana Azurduy, Schafik Handal, Manuel Marulanda, Victor Jara, Alí Primera, entre outros.
Com certeza não devemos nos limitar à atuação acadêmica, devemos sempre buscar o contato com as pessoas do Hip-Hop nas nossas comunidades, com o movimento sindical, comunitário, camponês e etc.

Acredita em um Brasil viável?
O projeto de sociedade dos poderosos (dos monopólios, do imperialismo e do latifúndio) é viável para impedir a queda da sua taxa de lucro. O projeto de sociedade dos explorados e oprimidos é viável para a sobrevivência da espécie humana. Acredito que o povo Brasileiro precisa construir um bloco de forças sociais que derrote (militarmente, ideologicamente e economicamente) a classe dominante, abrindo caminho para a transição histórica à uma sociedade sem exploradores e explorados, sem opressores e oprimidos, uma associação de seres humanos livres onde os que trabalham possuem controle sobre o destino daquilo que é produzido.
 Acredita em um mundo viável?
Com certeza essa luta deve ser travada pelos povos de todo o mundo.
 Revolta ou conformação?
Revolta! Mas revolta com conseqüência, conhecimento da realidade, amor, coletividade. Buscando transformar a indignação em força de vontade para lutar por uma sociedade humana.

Recado para os leitores do blog.
Nada é impossível de Mudar!
Valeu!
HTTP://www.myspace.com/davimp
Link para baixar músicas do Davi Perez aqui



2 comentários:

Unknown disse...

Legal a iniciativa do blog! Valeu pela entrevista, Davi! Contribuindo na luta sempre =) Abraços

O Vermelhinho disse...

Massa a entrevista, isto é o hip hop, comprometido com a luta e com aqueles que precisam reagir.
abraços