segunda-feira, 3 de maio de 2010

Seção "Entrevistas" Deo Cardoso

Ei Felas, a entrevista demorou mais saiu, mas a demora valeu a pena. Convidamos um professor, cineasta e aspirante a rapper para exprimir um pouco das idéias, aspirações e sonhos desse camarada. Com vocês:

Emerson de Oliveira Cardoso, mais conhecido como “Déo”, tem 33 anos, é natural de Madison, estado de Wisconsin (EUA) e naturalizado brasileiro.

Cineasta e Professor de cinema, Emerson realizou 5 curtas-metragens, com destaque para “Level Orange” (Alerta Laranja), premiado no Festival de Cinema Estudantil de Ohio - EUA em 2004 e seu documentário “Assentamento Maceió”, exibido pela Rede PBS – Public Broadcasting System (Rede Pública de TV Norte-americana) em 2005;

Em 2005 formou-se Mestre em Produção Cinematográfica pela Escola de Cinema da Universidade de Ohio (Ohio University – School of Film - USA). Também realizou o curta “Porto de Jangadas” e foi diretor de fotografia do curta “Flutter”, do diretor norte-americano Mark Sewards.

Atualmente está divulgando seu 5º curta-metragem, “Pode Me Chamar de Nadí”, vencedor do VI Edital Ceará de Cinema e Vídeo, e premiado com melhor desempenho para atriz infantil na 36ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia/2009.

No momento trabalha na assistência de direção do longa-metragem “As Mães de Chico Xavier” e capta recurso para seu primeiro longa-metragem “Flores Sob o Concreto”.

Perguntas para Deo Cardoso

      1-    O que é cinema para você?

Essa pergunta, que parece tão simples, é exatamente o título de um verdadeiro tratado filosófico sobre a questão. Em fins dos anos 1950, o crítico francês André Bazin publicava seu livro “O que é o Cinema?” (Qu'est-ce que le cinéma?) justamente questionando o papel dessa arte junto à sociedade da época. Essa pergunta acompanhou a produção de vários cineastas preocupados em fazer do cinema um instrumento revolucionário, de mudança de comportamento, de provocação. 

Pra mim, cinema é transgressão e poesia. Uma arte poderosíssima que pode influenciar desde a compra de uma série de produtos como também é capaz de tocar profundamente a alma de alguém e fazer desse alguém uma pessoa melhor na vida. Portanto, parafraseando um grande mestre, pra mim Cinema é compromisso! Não me refiro àquela coisa da esquerda ortodoxa que acha que um filme precisa ser didático e incitar as massas.

Eisenstein, um dos maiores gênios que o cinema já teve, foi de fundamental importância para a União Soviética revolucionária, mas hoje eu já não sei se sua proposta daria certo, entendeu?! Quando eu digo que pra mim cinema é compromisso, eu me refiro à responsabilidade enorme que um cineasta deve ter com seu próprio povo, com quem ele quer atingir. Me refiro, nos dias de hoje, a um cinema que seja capaz de entreter e tocar a alma... um cinema que traga sim um pouco de Eisenstein, de Godard, mas que não perca a conexão com os anseios dos mais humildes.

     2-    Como enxerga o cinema nacional altamente dependente do Estado para produção e totalmente órfão para exibição?

Na verdade o Estado oferece uma série de mecanismos para financiar produções e/ou co-produções de produtores independentes. No geral, esses mecanismos acabam sendo de investimento, patrocínio ou financiamento direto do poder público. No geral, pelo fato de o cinema ser uma arte bastante elitizada, quem acaba usufruindo desses mecanismos, em sua maioria, são os mesmos grupos, muitos deles poderosíssimos.

O cinema é profundamente ligada à uma lógica de produção industrial que almeja resultados, ou seja, segue uma receita de mercado, tendo o cinema norte-americano como exemplo maior desse modelo de negócios. O Brasil tem dado avanços enormes no fomento à produção, mas tem deixado a desejar na parte da distribuição.

Fazer cinema no Brasil é um tiro no escuro. Estamos em uma época onde as pessoas pouco vão ao cinema, onde existem pouco mais de 3 mil salas de cinema – muito pouco se levarmos em conta o tamanho desse país e sua população de quase 200 milhões de pessoas –  e a maioria dessas salas se concentrando-se nos shopping centers. Aí o cineasta brasileiro, depois de passar 2 anos tentando captar grana pro filme dele, na hora do lançamento vai disputar bilheteria com “Homens Aranhas”, “Avatares”, “Hulks” da vida... e se o filme dele não for bem na primeira semana já sai de cartaz porque o exibidor não vai querer ter prejuízo e esse é o nosso dilema. Por outro lado, as grandes produtoras, atrelada ao poder midiático da Rede Globo (Globofilmes) pode fazer um trabalho espetacular de divulgação através da programação desse canal e fazer o filme ficar até 3 meses em cartaz. Baseado nessa discrepância o Estado tem buscado reparar tais contradições.

Outro dia, em uma conversa que tive com o distribuidor Bruno Wainer, sócio-proprietário da Downtown Filmes, (que já distribuiu inúmeros filmes como “Cidade de Deus”, “Os Normais”, “Meu nome não é Johnny”, dentre outros), ele dizia só algo muito forte e chamativo é capaz de fazer uma pessoa se levantar de seu laptop, saír à rua, pegar um transito louco só pra assistir um filme no cinema a 14, 15 reais. Segundo ele, é fundamental que um filme, para atrair o público, tenha atores reconhecidos e uma história fácil.

Ele tem razão, mas será que isso não engessa o cinema? Será que isso não corta espaços para se investir em um cinema de invenção, de denúncia, que dialogue com os anseios da maioria sem ser através de uma fórmula que privilegia a estética televisiva? 

     3-    Fale sobre suas produções

Comecei no cinema em 1997, quando ingressei no então famoso Instituto Dragão do Mar para estudar dramaturgia e roteiro. Tive como professores verdadeiros mestres. Gente como Orlando Senna (cineasta, roteirista e ex-secretário do audiovisual), Maurice Capovilla (diretor de “o profeta da fome”, dentre outros filmes), e vários roteiristas e diretores de reconhecimento nacional e internacional. O curso era gratuito e durou 2 anos.

No início do curso, comecei a assistir a todo tipo de filme. Assistia a filmes em que eu dormia na metade, por não entender nada e, ao final, ouvia os professores e alunos debatendo incessantemente cada plano, cada cena, cada atuação.  Sentia-me um burro. Então resolvi entrar de cabeça. Comecei a ler vários livros, assistir os filmes de novo e aos poucos fui desbravando essa arte e me fascinando por ela.

Em 2002 fui aos Estados Unidos fazer mestrado em cinema. Foi lá que eu realmente comecei minhas produções. Fiquei fascinado quando eu escrevi um roteiro e aprendi, na marra, a usar a câmera e a ilha de edição para realizar o que tinha no roteiro. O filme se chamava “The Letter” (A Carta), filmado em película 16mm e contava a história de um jovem soldado negro americano, recém-casado, que se despede da esposa para ir à guerra do Iraque. Era um filme sem diálogos, com uma montagem sonora que misturava frases de George Bush, aplausos, frases de Martin Luther King e Malcom X e uma câmera na mão estilo Glauber Rocha. O filme foi realizado 1 mês antes de os Estados Unidos declararem guerra à Saddam Hussein e ao povo iraquiano.

Quando fiz esse filme me senti o cara mais poderoso do mundo. Não por uma questão de ego, mas por poder expressar minhas preocupações naquele momento, quando os EUA queria criar qualquer motivo pra impor sua soberania econômica e cultural no oriente médio.

Eu havia me descoberto enquanto artista, mesmo com todas as falhas que o filme teve por ser meu primeiro filme. A sensação foi a melhor possível. Acho que a mesma sensação que um menor abandonado sente quando segura uma arma pela primeira vez e vê o mundo a seus pés. Só que, ao contrário de quem segura uma arma, eu segurava uma máquina de sonhos. Um processo revolucionário.

O aparato cinematográfico pra mim não era um brinquedo do tipo “ah, agora eu vou fazer uma comédia... agora eu vou fazer um filme de terror cheio de sangue... agora vou fazer uma comédia romântica, etc”. A responsa era outra. O cinema pra mim é uma forma de ser sincero com você mesmo e com os outros. De propor, de provocar debates, de fazer rir, chorar, trazer à tona nossa essência. Senti que ao mesmo tempo em que aquilo era fascinante, era também uma responsabilidade muito grande. Era preciso ter uma essência, ta me entendendo?

Depois disso fotografei vários curtas de amigos, escrevi e dirigi mais 4 curtas: “Level Orange” (Alerta Laranja), sobre a xenofobia americana após os ataques de 11 de setembro de 2001. Em seguida vim ao Brasil realizar um documentário sobre o conflito entre empresários do ramo de turismo e o povo da Praia de Maceió, município de Itapipoca, no Ceará. Esse documentário chegou a ser veiculado na TV Pública Norte-Americana em rede nacional nos EUA. Depois realizei o curta “Porto de Jangadas”, sobre o mesmo tema. E mais recentemente, realizei o que considero meu melhor filme até aqui: “Pode Me Chamar de Nadí”, com produção da minha namorada Tamylka Viana. O filme conta a história de uma menina negra, complexada por ter o cabelo crespo, e que aprende a gostar dela mesma quando conhece uma bela modelo que se parece com ela.

Minhas produções falam daquilo que está ao meu redor. Daquilo que me faz rir, pensar, refletir... daquilo que me faz raiva, que eu quero mudar... cada filme meu é um estado de espírito!

     4-    E o rap na sua vida?

Cara, o rap foi um grande amigo que tive e tenho. Hoje a gente se afastou um pouco devido aos afazeres e à correria diária. A gente já curtiu muito e nos desentendemos muito também. O rap nasceu na mesma época que eu e cresceu comigo, velho... um amigo que me mostrava que um povo oprimido, principalmente o povo preto e latino, podia revolucionar através da união, da amizade e da cultura. O rap me ensinou que é possível reverter uma situação adversa através da consciência, da dança, do discurso politizado envolto num ritmo cadenciado e envolvente. Coisa de preto mesmo. Coisa dos griôts africanos. A coisa da cultura oral, sabe... o rap, por ser uma colagem musical, me fez conhecer e gostar de vários outros ritmos como o Jazz e a própria música regional brasileira. Se eu for contar os sambas que eu tive acesso só por ouvir alguns raps, eu perderia a conta. Mas eu lembro exatamente como o rap entrou na minha vida. 

Eu era moleque e morava nos EUA. Num bairro negro da cidade de Raleigh, Carolina do Norte. Eu tinha 7 anos quando saí do Brasil e fui morar lá. Isso era em 1983, 84... a febre Michael Jackson, Grandmaster Flash, Fat Boys, Easy-E, Run DMC e principalmente Public Enemy. Eu e a negrada toda curtindo esses sons lá embaixo na rua. Em casa, meu pai matava as saudades do Brasil ouvindo João Bosco, os sambas de João Nogueira, Paulinho da Viola, etc, e eu me amarrava tanto no som de dentro de casa quanto no som dos meus amigos da rua. A primeira musica que me lembro de ficar cantarolando quando pivete foi justamente “The Message” (A Mensagem), do Grandmaster Flash. Eu achava irado a forma deles cantarem, pedindo pras pessoas lerem pra ficarem espertas e não serem enganadas pelos brancos ricos e poderosos... contando a vida como ela é e como ela poderia ser. Depois disso percebi também que tinha rap que também jogava a galera no caminho do mal. Aprendi a diferenciar os verdadeiros dos que só queriam fama, grana e mulher. Ao chegar no Brasil, o primeiro rapper que eu ouvi e curtia era Gabriel o Pensador. Achava muito show. Depois conheci o “Racionais MC’s” e esses sim... esses me fizeram ter ainda mais respeito pelo meu povo e pela favela. A musica “A Fórmula Mágica da Paz” até hoje me emociona. O rap até hoje, mesmo com algumas contradições, ainda é a musica que influencia meu trabalho e que me mostra que um futuro melhor é possível.

     5-    Como enxerga a questão do audiovisual brasileiro e o não retrato do rosto brasileiro?

Nosso cinema ainda retrata mais o nosso povo do que outras cinematografias, mas entendo bem o que você quer dizer. O nosso povo não aparece integralmente nos filmes da Globo filmes. Quando aparece é de maneira caricata, violenta ou mera participação coadjuvante. “Cidade de Deus” e “Carandiru” mostraram a cara do nosso povo.

Mas a pergunta é: mostrar a cara do nosso povo basta? Esses filmes também estigmatizaram nosso povo. Muita morador da CDD (Cidade de Deus) deixou de ganhar emprego quando o empregador via o nome da favela nos currículos dos candidatos. Ao mesmo tempo, não se deve cobrar do cinema a solução para os problemas do país. Se na vida real o negro e o índio ocupam situações bem inferiores na sociedade, não se deve culpar um filme que mostre o negro nessas situações.

Devemos culpar sim o filme que espetaculariza e reforça negros e índios como subalternos, sacou?! Eu não posso assistir a um filme como “Ó Paí Ó” e me calar diante do fato de que o povo preto da Bahia, nesse filme, é representado como um povo exótico, dado à vadiagem, à preguiça e que só encontra talento na música. Eu não posso assistir a um filme desses, morrer de rir e sair do cinema sem me questionar um monte de coisas. É um filme preconceituoso sim. Só não vê quem não quer ou quem já se acostumou a isso.  

O povo preto da Bahia é muito mais do que aquilo. O povo preto da Bahia é o Dr. Sílvio Humerto, presidente do Instituto Steve Biko, que já fez com que mais de 1000 estudantes negros de baixa renda ingressassem na faculdade; o povo preto da Bahia é Maria Nazaré Mota, Claudia, e as pretas do Centro de Estudos Africanos que tão na batalha diária lutando por um mundo melhor para os pretos e índios pobres da Bahia. Mas será que essas pessoas “dão filme”? Ou o que “dá filme” é a caricatura do negro baiano feliz por ser pobre?  

Somos diversos e temos muitas caras. 90% dos roteiristas, produtores e diretores nacionais são brancos e vêm da elite. Isso significa que esses cineastas são racistas e ignorantes? Obviamente que não. Mas significa que esses cineastas muitas vezes, por uma questão cultural, não se aprofunda em questões mais essenciais ao nosso povo. Como diria Edi Rock, do Racionais Mc’s: “ver o preto pobre, preso ou morto já é cultural”. Muitas vezes a elite brasileira não age com racismo e preconceito por maldade. A elite “adora” os negros. Nos acham fashion, e estilosos; nos acham sexualmente atraentes; A elite nos adora, desde que não ultrapassemos esses rótulos. É o famoso “cada macaco no seu galho” (frase criada pelos brancos em referência aos negros, na era colonial). Se passarmos dessas “fronteiras” sócio-ideológicas, aí o bicho pega. E quando eu falo isso, eu também não acho legal o negro lutar somente pelo direito dos negros não. Isso é básico, o mínimo que devemos fazer. Devemos também ir além disso. Lutar pela comunhão mesmo. Pela diversidade de ações e pensamentos. O ideal é uma sociedade onde prevaleça a igualdade, mas desde que haja respeito quando as diferenças aparecerem. Só isso!

Na época do cinema novo, o povo era mostrado tal como era em sua maioria nas favelas e no sertão dos anos 1970: desdentados, analfabetos, espontâneos, etc, recheando essa representação de símbolos e de uma alegoria barroca tipicamente brasileira e acabou afastando o público dos cinemas. Ainda acredito num cinema realmente feito por membros de camadas menos favorecidas para debaterem suas próprias questões junto à sociedade.

      6-    E sua experiência com os editais?

Cara, os editais...vamos lá. O edital é, em tese, a forma mais democrática que existe de acesso à verba pública para a produção de um espetáculo de dança, de teatro, cinema, artes plásticas, etc. Creio que todos que buscam seriamente não só o cinema, mas alguma modalidade artística, devem estar atentos aos editais federais, estaduais e municipais. Transforme sua idéia em algo concreto. Desenvolva o que você quer, pesquise, cole imagens, deixe tudo pronto e leia atentamente o que pede cada edital.

Meu primeiro edital foi nos Estados Unidos, quando entrei de cabeça em um projeto que queria desenvolver sobre o conflito entre empresários do turismo e os povos que viviam da pesca no litoral cearense. Pesquisei e criei um roteiro de ficção, porém baseado em fatos reais. O projeto tinha umas 50 páginas e tirei primeiro lugar, competindo com mais de 400 cineastas em todo país na minha categoria.

Chegando no Brasil já participei de dois editais. Ganhei um e o segundo fiquei em 2° lugar. É só uma questão de acreditar no seu trabalho, pesquisar bem, descrevê-lo e fazer o selecionador “entrar” na idéia do seu filme, visualizando-o.


     7-    E o que me diz de Hollywood?

Hollywood é uma máquina de sonhos. Um bairro onde se concentram os seis maiores estúdios do mundo: Warner, Fox, Paramount, Sony/Columbia, Universal e Disney, sem contar os estúdios e distribuidoras ligadas a essas seis. Hollywood nos ensinou como se ver um filme. Nos ensinou a amar um tipo de personagem. Hollywood criou e reforçou padrões de beleza. Criou fórmulas de sucesso que realmente nos prendem a atenção com sua pirotecnia e seus espetáculos, mais vivos do que nunca através da tecnologia de 3 dimensões.

Isso não é de agora. Hollywood ganhou força durante a “golden age”, a era de ouro dos filmes que baseavam seus lucros cultuando a figura da estrela, da celebridade. Isso começou nos anos 1930/40 com Marilyn Monroe, Humphrey Bogart, Cary Grant, Greta Garbo, etc. Cultuando suas vidas dentro e fora dos filmes, a indústria faturava alto e a expectativa pelo novo trabalho gerava milhões. Hoje isso é ainda mais forte e acontece em vários países (a Globo aqui que o diga).

O mais triste em tudo isso é saber que Hollywood aniquila e inibe o desenvolvimento das cinematografias de outras partes do mundo. Aprendemos a admirar muito mais o Bem Affleck e a Angelina Jolie do que nossas próprias atrizes ou atrizes sensacionais da África, da Ásia e da Europa. Hollywood trabalha subliminarmente nosso impulso consumista. Devemos não só assistir a um filme, mas já ficamos com vontade de usar a calça que a celebridade estava usando e etc.

      8-    E o Cinema no Mundo? Alguma consideração?

O cinema pelo mundo é revelador, emocionante e diferente. É muito legal conhecer outras formas de contar histórias, outras sensibilidades. Por exemplo, a primeira vez que vi um filme iraniano, ainda nos anos 1990, mudei completamente minha concepção sobre o Irã e o oriente médio. A gente vai absorvendo os valores do ocidente, a mídia, os filmes norte-americanos, e nos esquecemos que existem outras sensibilidades e concepções de vida em outras culturas.

Eu sou um fã do cinema de Senegal, por exemplo. Ousmane Sembene é um dos meus diretores favoritos. Seu filme “La Noire de...” (Mulher Negra) fez muito minha cabeça. Outro diretor africano que me amarro é o Guineense Flora Gomes, diretor do excelente “Nha Fala”, sobre os guerrilheirois da Guiné-Bissau lutando contra os opressores portugueses nos anos 1970. Também me amarro no cinema contemporâneo chinês, sendo o Wong Kar-Wai (diretor de “Amor á Flor da Pele”) e Tsai Ming Liang (que dirigiu o sensacional filme “Que horas são aí” e “O Rio”). São filmes únicos, de uma sensibilidade e beleza que impressionam. Nos fazem sentir pessoas melhores.




     9-    Revolta ou conformação?

Revolta sempre! Não uma revolta sem causa. Pelo simples fato de ser do contra, como muuita gente por aí bate no peito e usa de arrogância pra dizer que todos estão errados e só elee o grupo dele está certo. Nada disso! A revolta não significa violência ou arrogância. Significa apenas uma ação de quem não se conforma com injustiças, sejam elas quais forem. Essa é a minha concepção de revolta. E enquanto eu perceber as injustiças perto de mim, seja lá onde eu estiver, eu estarei inconformado e buscando reparar aquilo. Mesmo com meus defeitos, que todo mundo tem, jamais quero me conformar com a injustiça. No dia em que isso acontecer, não tem mais sentido fazer cinema pra mim!

     10- Considerações finais.

Quero agradecer o convite e dizer que espaços como esse são de fundamental importância para que a gente se conheça cada vez mais e percebamos que não estamos sozinhos. A quadrilha é grande e a vontade de fazer do amanhã um dia melhor que hoje é uma meta em comum a muitos de nós. Vamos debater, discutir, propor idéias, cada um na sua arte, “cada um no seu quadrado”, mas formando uma corrente de ações que visem amenizar as injustiças e o direito de todos a realizarem seus sonhos. Tamojuntoemisturado!!!





3 comentários:

Patrícia Marques disse...

O blog está de parabéns por ter explorado tão bem este entrevistado, que provou que ama o que faz, que defende o que pensa e o que acredita de forma inteligente e sensata. E que acima de tudo não tem o cinema apenas como uma profissão, a sétima arte faz parte de sua essência.

Paty

Rafaela disse...

Esse é o Déoo,espelho pra muita gente, inclusive pra mim ^^
Parabéns Déo e Familia Bandeira Negra

Hélio 'I love Rock n' roll' disse...

Bora Déoo!
tamo junto brother! abraço!