segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Hip Hop Zumbi

Vinte de novembro é o chamado Dia da Consciência Negra. É um dia com shows de musica negra, milhares de capoeiristas demonstrando sua arte, são varias apresentações de dança afro, inúmeros concursos de beleza negra etc.
Essa data não foi escolhida por acaso. Foi num 20 de novembro de 1695 que Zumbi foi assassinado comandando a luta pela libertação do povo preto contra os senhores de escravos – a classe dominante de sua época.
Quando esses senhores descobriram que era mais caro manter um escravo do que pagar salário, e que, com tantas revoltas escravas, a qualquer hora o povo preto poderia tomar o poder, eles aboliram a escravidão. Mas é bom que se saiba que até 13 de maio de 1888 o Brasil era o único país a ter escravos.
Por quase 400 anos não foi permitido ao nosso povo se desenvolver como seres humanos, até porque por todo esse tempo fomos vendidos, trocados, comprados, descartados... como coisas.Trezentos e quinze anos após a morte de Zumbi e 122 anos depois da lei áurea, vemos que o povo preto ainda não se libertou. Nosso povo ainda é escravo. Escravo das drogas, da TV, prisioneiro da pobreza e da miséria, do desemprego, do subemprego, do analfabetismo, da criminalidade, da violência policial e de todo tipo de atraso. Até hoje nosso povo está acorrentado à ideologia da classe dominante branca que faz com que nos sintamos inferiores em vários aspectos. Faz com que as pretas só se sintam belas se seus cabelos estiverem alisados ou “relaxados”, sem perceber que só quem ganha com essa mentira são os fabricantes dos produtos químicos que elas consomem. E o que é pior: muitos dos nossos irmãos não conseguem nem se reconhecerem como pretos ou negros. Geralmente recorrem a termos intermediários como moreno/a, mulata/o, marrom bom bom, entre outros mais esquisitos ainda.
Porém, para os vigias que controlam as portas giratórias dos bancos, seguranças de shoppings e lojas de departamento, policiais e empregadores, não existe confusão. Eles sabem muito bem quem é quem. 
Por exemplo, vejamos o que nos revela pesquisa do IPEA de 2003:
 O salário médio de um homem branco é de R$ 931,00, enquanto o salário médio do preto é de R$ 428,30. Acrescentando a essa discussão a questão de gênero, as coisas pioram. A mulher branca ganha em média R$ 554,60, ao passo em que as pretas ficam só com  R$ 279,70 . No país das desigualdades o homem branco ganha em média mais que o triplo que a mulher preta.
Pesquisa realizada pelo sociólogo Ignácio Cano revela que do total de pessoas mortas pela policia do Rio de Janeiro – a policia que mais mata no mundo todo – 70,2% são pardas e negras. Em outras palavras, para cada mil pessoas que a policia fluminense mata 702 são afro-descendentes. Se você tem ou o cabelo crespo, ou o nariz espalhado, ou os lábios grossos, ou a pele escura, ou mais de uma dessas características e ainda não se considera preto ou preta, a burguesia e o seu braço armado não têm a menor duvida. E se o ECA não resolveu os problemas de nossas crianças e adolescentes, nada podemos esperar desse Estatuto da Igualdade Racial –  que inclusive se omitiu sobre as cotas universitárias.  
Zumbi teve sua cabeça cortada por Domingos Jorge Velho por que liderava o maior centro de resistência contra a escravidão. Para ele não bastava a garantia de que o quilombo não seria mais atacado – como rezava o acordo firmado entre a classe escravista e Ganga Zumba, antecessor de Zumbi. A sua luta era pela libertação de todo o povo preto do Brasil. Ele não morreu só para que hoje pudéssemos tocar pagode, nem só para que pudéssemos dançar musica afro, nem só para termos o direito de escolhermos quem são os pretos e pretas mais bonit@s. Ele morreu na luta pela nossa libertação, que não veio com a lei Áurea.
Por isso, mais do que ser um dia de manifestarmos a nossa riqueza cultural, esse é um dia de manifestarmos nossos anseios de um mundo sem dominadores e dominados (motivo único pelo qual o homenageado foi morto).
Que as nossas manifestações artísticas sejam instrumentos de mobilização, e canais de propagação de uma proposta de luta por um mundo sem senhores, como prega o hino da classe trabalhadora, o hino d’A Internacional.

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