quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

domingo, 26 de dezembro de 2010

As violações de direitos no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro

Ativistas visitam regiões ocupadas e colhem relatos de moradores. Execuções, tortura, arrombamento de portas e roubo são denúncias constantes

21/12/2010

Leandro Uchoas
do Rio de Janeiro (RJ)


No dia 8 de dezembro de 1980, Mark Chapman acertou quatro tiros em John Lennon, em frente ao Edifício Dakota, em Nova York. Morria o mais famoso dos Beatles, aos 40 anos. Nos dez anos que antecederam o assassinato, o músico vinha assumindo um discurso pacifista e antiimperialista – à sua maneira, claro. Em Nova Brasília, no Complexo do Alemão, um caso emblemático ocorreu 30 anos depois. Ali vivia o jovem João Lennon, de 25 anos, viciado em crack. Ser irmão de um famoso traficante local era sua única vinculação com o crime. O local onde ele morava era próximo de uma boca de fumo, o que o tornava mais vulnerável à ação policial, após a ocupação. No dia em que a polícia entrou no Complexo (28 de novembro), arrombou a porta de sua casa e o interrogou. Como seu xará de Liverpool, Lennon foi friamente executado. A simbólica morte do rapaz é apenas uma das ações policiais que, além de carecer de maior fundamentação, é pouco veiculada pelos principais veículos de comunicação – à exceção da Folha de S.Paulo, que tem dado certa visibilidade aos abusos policiais.
Os casos de arrombamento de porta são fartos no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro. “Não é permitido entrar na casa de ninguém sem mandado. Isso é ilegal”, afirma Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da UERJ. Embora seja, de fato, proibida, a ação é historicamente comum em favelas no Rio de Janeiro. Como muitas, essa é uma lei que não vale para regiões pobres da cidade. Entretanto, nas ocupações recentes da Zona Norte, a lei nunca foi tão desrespeitada. Como há, na região, todos os tipos de polícia, além do Exército, uma mesma casa está sendo invadida mais de uma vez. Tem sido comum moradores próximos se unirem para vigiar as casas dos vizinhos. “Muita gente está perdendo oportunidade de emprego, porque tem que ficar em casa vigiando nossas casas de quem deveria protegê-las”, acusa a moradora Solange*. Quem anda pelas favelas da região encontra incontáveis bilhetes colados na porta. “Senhores policiais, não estou em casa porque estou trabalhando. A chave está com a vizinha do lado. O nome dela é Patrícia*”, diz uma das mensagens.
Segundo Carla*, que mora há 43 anos no Complexo e tem denunciado arbitrariedades junto a entidades de direitos humanos, nas vielas internas das favelas o abuso policial é mais comum. “Eles impõe o terror lá dentro. Só quem mora no interior é que sabe o que está acontecendo. É uma terra sem lei. Tem muita mãe que perdeu o filho, e não vai relatar porque tem medo. A população precisa de um trabalho sério de saúde mental”, diz. Nas ruas principais, há uma concentração enorme de policiais e soldados armados. Jornalistas também têm sido vistos a todo momento. Equipes de TV chegam a dormir na favela. “É muito fácil o jornal Extra fazer um varal com mensagens de elogio. As pessoas que escreveram ali foram escolhidas”, acusa Carla, sobre o jornal popular das Organizações Globo. Mototaxistas já foram avisados por policiais que, assim que acabar a “celeuma midiática”, vão ter que pagar taxas para circular no Alemão. Uma vez confirmada, a ameaça é grave, porque significaria um embrião de milícia sendo instalado num dos maiores complexos de favela do Brasil.
“A gente anda pelas vielas [da Vila Cruzeiro] e sente que há alguma coisa errada no ar. Um clima de terror. A mãe que teve o corpo do filho lançado aos porcos foi procurar a polícia. Eles disseram para ela que, se ela ‘foi capaz de colocar um vagabundo no mundo, também era capaz de tirá-lo da pocilga’”, relata Alexandre Magalhães, da Rede Contra a Violência. Em uma visita de organizações de direitos humanos às comunidades, foram relatados diversos casos de pessoas tomando remédios controlados e crianças com problemas psíquicos. Uma mulher grávida de sete meses foi torturada por policiais. Disseram que estavam à procura de R$ 100 mil. Quando ela negou qualquer possibilidade de possuir a quantia em casa, os policiais teriam dito: “pode ser R$ 10 mil”. Um menino foi trancado num quarto de casa, sofrendo tortura durante aproximadamente 90 minutos por cerca de dez policiais. A família, que logo antes já teria sofrido achaques na sala, teria ouvido tudo do lado de fora. O pai, deficiente físico, estaria com problemas psíquicos, considerando-se culpado.
“Ninguém consegue informação sobre as pessoas detidas no Alemão. Virou uma caixa-preta”, diz Isabel Mansur, da Justiça Global. Segundo os moradores, é comum a polícia, nos casos de abuso, dizer que vai voltar, para evitar denúncias. Há acusações também de que, nos dias iniciais, durante tiroteio, moradores foram utilizados como escudo pela polícia em algumas localidades mais afastadas. “Essa diversidade de polícias diferentes, essa pulverização, serve justamente para dificultar a investigação. Tudo é construído para a gente não saber quem é, quem fez”, afirma Camila Freitas Ribeiro, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ). As entidades de direitos humanos pretendem contatar o ministro Paulo Vannucchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, para levar as denúncias. Porém, a transição no governo federal pode atrapalhar o processo. Na gestão de Dilma Rousseff (PT), a pasta será ocupada pela petista gaúcha Maria do Rosário.
Alguns moradores aproveitam para reclamar da instalação das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na região. Segundo eles, as ações dos governos não atacariam os verdadeiros problemas da área. Grandes obras estariam convivendo, lado a lado, com ruas esburacadas, fiação caótica, lixo e esgoto a céu aberto. Também haveria o apadrinhamento político para a contratação de funcionários, e dívidas trabalhistas de algumas das empreiteiras. Entidades locais, como a Raízes e Movimentos e a Verdejar, estão apresentando um pacote de projetos para o desenvolvimento local. Eles foram desenvolvidos pelos próprios moradores, e teriam gestão pública. O Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia, que reúne as entidades, não tem entre seus objetivos lidar com denúncias dos moradores, mas frequentemente são procurados. “Tenho medo até do Disque Denúncia”, disse um morador, numa das reuniões de apresentações dos projetos.











*nomes fictícios
Fotos: Leandro Uchoas e Gustavo Mehl

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O presente de Natal de Obama a AT&T (e Comcast e Verizon)

Uma das promesas de campanha do presidente Barack Obama foi proteger a liberdade na internet. Em dezembro de 2010, pode-se dizer que o presidente dos Estados Unidos não está cumprindo esse compromisso. Acaba de ser aprovada uma norma sobre neutralidade na rede que é considerada desastrosa pelos ativistas da internet. A proposta apresenta vazios legais que deixam a porta aberta a todo tipo de abusos no futuro, o que permitiría que empresas como AT&T, Comcast, Verizon e os grandes provedores de serviços na internet decidam que sites funcionarão, quais não e quais poderão receber um tratamento especial. O artigo é de Amy Goodman.
Uma das promesas de campanha do presidente Barack Obama foi proteger a liberdade na internet. Ele disse em novembro de 2007: “Assumirei pessoalmente o compromisso com a neutralidade da rede, porque quando os provedores começam a privilegiar alguns aplicativos ou sites acima de outros, as vozes menores são silenciadas e todos perdemos. A internet é possivelmente a rede mais aberta da história e debemos mantê-la assim”.

Voltemos a dezembro de 2010, momento em que Obama claramente não está assumindo esse compromisso, motivado por gigantes como AT&T, Verizon e Comcast. Junto a ele se encontra o presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC, em sua sigla em inglês), Julius Genachowski,companheiro de Obama na Faculdade de Direito de Harvard e nas quadras de basquete, que acaba de conseguir a aprovação de uma norma sobre neutralidade da rede que os ativistas da internet consideram desastrosa.

O diretor da revista Free Press, Craig Aaron, afirmou: “Essa proposta parece repleta de vazios legais que deixam a porta aberta a todo tipo de abusos no futuro, o que permitiría que empresas como AT&T, Comcast, Verizon e os grandes provedores de serviços na internet decidam que sites funcionarão, quais não e quais poderão receber um tratamento especial”.

Para o comediante eleito senador, Al Franken, democrata por Minnesotta, as novas normas sobre neutralidade da rede não devem ser tomadas como uma brincadeira, já que as mesmas podem permitir a redes móveis como AT&T e Verizon Wireless bloquear por completo certos conteúdos e aplicativos quando quiserem. Franken deu o seguinte exemplo: “Talvez você goste do Google Maps. Bom, é uma pena. Se a FCC aprova esta norma, a Verizon poderá cortar o acesso a esse aplicativo em seu telefone e obrigá-lo a usar o seu próprio programa de mapas, Verizon Navigator, ainda que não seja tão bom e ainda que tenha que pagar para utilizá-lo, já que o Google Maps é gratuito. Se as empresas tiverem permissão para priorizar conteúdo na internet ou para bloquear aplicativos no iPhone, não há nada que impeça esas mesmas empresas de censurar um discurso político”.

A AT&T é um dos conglomerados que, segundo os ativistas, praticamente redigiu as normas da FCC promovidas por Genachowski. Já fomos testemunhas de mudanças radicais desse tipo. Semanas antes de sua promessa de neutralidade na rede, realizada em 2007, o então senador Obama contratou a AT&T, que foi denunciada por participar de escutas telefônicas sem ordem judicial contra cidadãos estadunidenses a pedido do governo de Bush. A AT&T queria imunidade judicial retroativa. O porta voz da campanha de Obama, Bill Burton, disse a Talking Points Memo: “Para ser claro: Barack apoiará a obstrução de qualquer projeto de lei que inclua a imunidade retroativa às empresas de telecomunicações”.

Mas, em julho de 2008, um mês antes da Convenção Nacional Democrata, quando Obama era o possível candidato à presidencia, ele não somente não obstruiu, mas também votou a favor do projeto de lei que outorgou imunidade judicial retroativa às empresas de telecomunicações. A AT&T conseguiu o que queria, e rápidamente mostrou seu agradecimento. A bolsa oficial entregue a cada delegado da convenção trazia estampado um grande logo da AT&T. A empresa organizou uma festa para os delegados, à qual a imprensa não teve acesso, para festejar que o Partido Democrata havia firmado sua liberdade.

AT&T, Verizon,a gigante de televisão a cabo Comcast e outras empresas expressaram seu apoio à nova norma das FCC. Os aliados democratas de Genachowski na comissão são Michael Copps e Mignon Clyburn (filha do líder da maioria da Câmara de Representantes, James Clyburn). Novamente, Criag Aaron, da Free Press, registrou:

“Entendemos que Copps e Clyburn tentaram melhorar esas normas, mas Genachowski se negou a ceder, aparentemente devido ao fato de que já havia firmado um acordo com a AT&T e os lobistas da tv a cabo acerca do alcance das normas”.

Clyburn advertiu que as normas poderiam permitir que os provedores de internet móvel adotem práticas discriminatórias e que as comunidades pobres, em particular afroestadunidenses e latinos, usem os serviços de internet móvel mais que as conexões a cabo.

Craig Aaron considera lamentável o poder dos lobistas da industria de telecomunicações e de tv a cabo em Washington: “Nos últimos anos deslocaram 500 lobistas, basicamente um para cada membro do Congresso, e isso é somente o que declaram abertamente. A AT&T é a empresa que doou mais dinheiro para campanhas políticas em toda a história. E a Comcast, a Verizon e as outras grandes empresas não ficam atrás. Estamos realmente vendo esse jogo aqui. Mais uma vez, os grandes interesses empresariais estão utilizando sua influência, suas contribuições para as campanhas, para eliminar qualquer ameaça a seu poder, a seus planos para o futuro da internet. Quando a AT&T quer reunir todos os seus lobistas, não há uma sala que abrigue a todos. Tiveram que alugar uma sala de cinema. As pessoas que representam o interesse público e que lutam pela internet livre e aberta aqui em Washington ainda podem compartilhar o mesmo táxi.

O dinheiro das campanhas eleitorais é, mais do que nunca, o que mantém vivos os políticos estadunidenses, e podem estar certos que Obama e seus assessores estão pensando na eleição de 2021, que provavelmente será a mais cara da história dos Estados Unidos. Acredita-se que o uso enérgico e inovador da internet e das tecnologias de celular ajudaram Obama a asegurar sua vitória em 2008. A medida que a internet aberta é cada vez mais restringida nos Estados Unidos, e que as empresas que controlam a internet se tornam cada vez mais poderosas, é possível que não exista essa participação democrática por muito mais tempo.

(*) Denis Moynihan colaborou na produção jornalística dessa coluna

Tradução: Katarina Peixoto

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Liu Xiaobo merece o prêmio Nobel da Paz?

O governo chinês cometeu a bobagem de transformar Liu Xiaobo em mártir Ele nunca deveria ter sido preso, mas os políticos que compõem o comitê do Nobel, liderados por Thorbjorn Jagland, ex-primeiro ministro trabalhista, quiseram dar uma lição a China e, para isso, fecharam os olhos para os pontos de vista de seu herói. En tre outras coisas, Xiaobo defende as guerras da Coréia, do Vietnã e do Iraque e sustenta que a tragédia da China é não ter sido colonizada ao menos durante 300 anos por uma potência ocidentral ou pelo Japão. O artigo é de Tariq Ali.
O vencedor do prêmio Nobel da Paz de 2010 intensificou a guerra no Afeganistão poucas semanas depois de receber a honraria. O prêmio surpreendeu ao próprio Obama. Este ano o governo chinês cometeu a bobagem de transformar em mártir o ex-presidente do Independent Chinese PEN Centre e neocon Liu Xiaobo. Ele nunca deveria ter sido preso, mas os políticos noruegueses que compõem o comitê, liderados por Thorbjorn Jagland, ex-primeiro ministro trabalhista, quiseram dar uma lição a China e, para isso, fecharam os olhos para os pontos de vista de seu herói.

Ou talvez não tenham feito exatamente isso, uma vez que suas perspectivas não são muito diferentes. O comitê pensou em conceder a Bush e Blair o prêmio da paz conjunto por invadir o Iraque, mas o protesto público obrigou a que desistissem da ideia.

Para constar, registre-se que Liu Xiaobo declarou publicamente que, na sua opinião:

(a) A tragédia da China é não ter sido colonizada ao menos durante 300 anos por uma potência ocidental ou pelo Japão. Aparentemente isso teria civilizado a China para sempre;

(b) As guerras da Coréia e do Vietnã empreendidas pelos Estados Unidos foram guerras contra o totalitarismo e aumentaram a "credibilidade moral" de Washington;

(c) Bush fez bem em ir à guerra no Iraque, e as críticas do senador Kerry eram "propagadoras de calúnias";

(d) Afeganistão? Aqui não há nenhuma surpresa: apoio completo à guerra da OTAN.

Ele tem todo o direito a ter essas opiniões, mas, considerando as mesmas, deveria receber um prêmio da Paz?

O jurista norueguês Fredrik Heffermehl disse que o comitê infringe a vontade e o testamento deixados pelo inventor da dinamite, cuja fortuna financia os fundos para os prêmios:

"O comitê do Nobel não recebeu o dinheiro do prêmio para uso livre, mas sim foi encarregado de outorgá-lo a um elemento fundamental no processo de paz, rompendo o círculo vicioso da corrida armamentista e dos jogos do poder militar. Deste ponto de vista, o Nobel de 2010 é d enovo um prêmio ilegítimo outorgado por um comitê ilegítimo".

(*) Tariq Ali é jornalista, escritor e membro do conselho editorial de Sin Permiso. Seu último livro publicado é "The Protocols of the Elders of Sodom: And Other Essays", publicado pela editora Verso de Londres. Tradução para
www.sinpermiso.info: Daniel Raventós. Tradução do espanhol para o português: Katarina Peixoto.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Brasil atualiza o racismo por não discutir "branquitude"

Na Escola, instituição discriminatória, ser branco é ser exemplo, perpetuando a ideia de superioridade racial
Nos debates sobre raças e racismo pouco se fala sobre "branquitude". E foi a partir desta constatação que a pedagoga e professora de educação infantil, Luciana Alves, demonstrou que ações afirmativas, como a lei sobre ensino da cultura africana, só fazem sentido se forem realizadas em ambiente de reflexão e reconstrução sobre o "ser branco".
O tema "miscigenação" é muito falado no Brasil, mas o que se esconde por trás desse discurso é uma cultura que atualiza o racismo. A escola se apresenta como instituição discriminatória, onde o assunto "branquitude" é pouquíssimo discutido nos debates sobre raça. Essa situação colabora para que o branco se sinta superior e em posição de neutralidade a respeito do tema, fazendo perpetuar a "positividade da brancura" e os estereótipos negativados do "ser negro".
Para realizar seu estudo Significados de ser branco - a brancura no corpo e para além dele, orientado pela Professora Marília Pinto de Carvalho, Luciana entrevistou 10 professores de ensino básico, sendo 4 autodeclarados brancos e 6 negros, a fim de saber o que pensavam sobre "o que é ser branco no Brasil". O estudo foi apresentado na Faculdade de Educação (FE) da USP. A pesquisadora conta que os professores foram selecionados para o trabalho quando participavam de um curso sobre a Lei 10639/2003, que obriga o ensino de cultura e história africana e afro-brasileira nas escolas.
Metade branca
No Brasil, cerca de 50% da população se autodeclara branca, denunciando que no País onde existe um discurso sobre a mistura de raças ainda há motivos que levam as pessoas a se declararem brancas, mesmo sendo provenientes de família mestiça. De acordo com Luciana, esses motivos estão relacionados aos "significados de ser branco, para além da cor da pele". Esses significados são um conjunto de características atribuídas culturalmente às pessoas que se reconhecem e são reconhecidas em suas comunidades como brancos.
"Ser branco é não ser negro", disse um dos entrevistados. Tal resposta evidencia que o significado de ser negro geralmente já é construído como o contrário de ser branco. Por causa dessa mentalidade, é muito comum perceber no dia-a-dia situações em que "ser negro" é relacionado a características negativas. Em contra partida, o que é associado à brancura são valores positivos, socialmente estimados. A inteligência, a castidade, a beleza, a riqueza, a erudição e a limpeza, por exemplo, seriam características de um "negro de alma branca", expressão utilizada por um dos professores entrevistados.
Nas entrevistas, o que ficou claro nas falas dos negros, além da tal positividade da brancura, foi a sensação de medo, insegurança, opressão e desconfiança. Isso confirma a imagem do branco como potencialmente opressor para os negros, construída e atualizada ao decorrer da história.
As respostas dos professores brancos sobre "ser negro" geralmente recorriam aos estereótipos muito bem fixados no imaginário popular. Quando falavam de suas infâncias, lembrando momentos em que presenciaram situações de discriminação, evidenciavam que desde aquela época esses estereótipos, criticados por eles atualmente, já estavam sendo construídos.
Essa construção coloca a "brancura" como padrão, como norma, e é essa padronização a principal responsável pela atualização do racismo no Brasil, segundo a pesquisa. "As memórias dos professores revelam a neutralidade de sua pertença racial, indicando que ser branco é não ter que refletir sobre esse dado", constata a pesquisadora.
Nas Escolas
O racismo ainda existe e permeia o cotidiano do brasileiro e, nas escolas, não é diferente. Segundo Luciana, a melhor forma de não atualizar a discriminação nas salas de aula é colocar o tema "branquitude" em pauta. "É preciso entender que os brancos também formam um grupo racial que defende seus interesses, e acabam se beneficiando, direta ou indiretamente com o racismo", diz a pesquisadora. Ela acredita que deve haver no ambiente escolar oportunidades de se discutir e questionar a adesão à ideia de superioridade da brancura. "É aí que entra a formação adequada dos professores, como aposta para que a idealização branca deixe de ser objeto de desejo para negros e brancos, pois ela pressupõe hierarquia", descreve a pesquisadora. Nas salas de aula, a brancura ainda é construída como referência de humanidade, onde "o branco é sempre o melhor exemplo".

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Mensagem de Ramona África ao comício em apoio a Mumia Abu-Jamal no México, em 9 de dezembro de 2010

Viva John África. A MOVERNOS minhas irmãs e irmãos!
O 9 de dezembro marca 29 anos da prisão injusta de nosso irmão Mumia Abu-Jamal, quase 28 deles passados em confinamento no corredor da morte, na Pensilvânia. Mumia é inocente, mas, nesta altura, nós da organização MOVE não gastamos nossa energia em convencer os inconvencíveis da inocência de Mumia. Ainda assim, mostramos que Mumia não está na prisão ou no corredor da morte devido à acusação de homicídio.
As autoridades querem que as pessoas acreditem que sua meta seja a justiça, que são contra o assassinato e que acham que um assassino deve ser executado, ou pelo menos deveria passar a vida na prisão. Mas nós do MOVE (e milhares de outras pessoas) somos a prova viva do contrário. O governo dos EUA bombardeou nossa casa e queimou 11 pessoas do MOVE vivas, incluindo crianças, mas sequer um único oficial foi acusado de um só crime, e nenhum oficial pisou na prisão. Nenhum destes assassinos se encontra no corredor da morte ao lado de Mumia e nenhum está na cadeia com uma sentença de 100 anos, como é o caso dos "9 do MOVE”, que são minha família. Eles e elas são nove membros da organização MOVE, condenados por ter disparado contra um policial uma bala de uma arma, mesmo quando tal coisa é impossível. Além disso, o juiz (não um júri, apenas um juiz) os considerou culpados e condenou as minhas irmãs e irmãos à pena de 30 a 100 anos de prisão. Ele foi a um programa de rádio no dia seguinte e reconheceu, em público, que não tinha idéia de quem matou o policial em 8 de agosto de 1978.
Ironicamente, Mumia e minha família estão na prisão, enquanto os assassinos da minha família andam livremente ao redor do mundo, como se nada tivesse acontecido. Os policiais que matam as pessoas na rua diariamente andam livremente entre nós, cobrando as suas pensões. E com tudo isso, as autoridades esperam que as pessoas acreditem que sua meta é a justiça.  
O MOVE não aprova o homicídio (embora os oficiais do sistema o façam); estamos simplesmente dizendo que as autoridades permitem que a polícia assassine as pessoas habitualmente e não os envia para a cadeia por isso. E os pobres, que são predominantemente pessoas de cor, por que devem aceitar ser taxados como assassinos, enviados para a prisão e executados? Não há nada justo sobre o preconceito fatal das autoridades e o MOVE nunca aceitará isso. Nunca iremos parar de lutar contra esta loucura.
Agora Mumia está no último estágio de suas apelações e é mais importante do que nunca que as pessoas mantenham a pressão sobre as autoridades, deixando-as saber que há pessoas, em todas as partes do mundo, que estão observando tudo e que não vão aceitar nada que não seja a liberdade de Mumia. Neste momento, a única solução possível dos recursos será a aplicação da pena de morte ou prisão perpétua, sem a possibilidade de liberdade condicional para Mumia. Nenhuma dessas opções é aceitável, especialmente para uma pessoa inocente, por isso temos que continuar lutando. Devemos manter a pressão e mandar uma forte mensagem às autoridades - que não nos podem enganar e que não aceitaremos qualquer escolha injusta. O poder do povo, capaz de dar um exemplo de firmeza e coerência, pode forçar as autoridades a fazer o que tem que ser feito para liberar Mumia. Não é impossível. Eles só querem que as pessoas pensem que é impossível.
Com relação aos “9 do MOVE”, embora presume-se que a liberdade condicional é baseada no comportamento de uma pessoa na prisão e que não tem nada a ver com culpabilidade ou inocência, as autoridades continuam negando a liberdade condicional, porque as presas e presos do MOVE não estão dispostos a dizer que mataram alguém, quando não o fizeram.
A atitude das autoridades é óbvia para qualquer pessoa que ouse levantar a sua voz contra a traição deste sistema podre. Suas intenções são claras sobre Mumia, os “9 do MOVE”, os 5 cubanos, Leonard Peltier e inúmeras outras pessoas que se atrevem em tomar uma posição digna contra a opressão.
O que temos que entender é que o destino de nossos guerreiros e guerreiras, os nossos lutadores e lutadoras pela liberdade, não estão nas mãos das autoridades, estão em nossas mãos, nas mãos do povo. MOVE nunca aceitará o mal que as autoridades estão fazendo. Nunca deixaremos de lutar contra a opressão. Mumia tampouco, e nenhuma outra pessoa realmente dedicada a acabar com as injustiças as quais todos temos padecido durante muito tempo. Então, MOVE lhes pede que se mantenham fortes e façam tudo o que possam para resistir aos grilhões da opressão. Nunca parem de lutar contra a injustiça e pela justiça. É o compromisso que todos nós temos que fazer se queremos ser livres, felizes, saudáveis, e se nós quisermos o mesmo para nossos bebês, seus bebês.
A MOVERNOS! Viva Mumia! Viva os “9 do MOVE”! Viva Leonard Peltier! Viva os Zapatistas! Viva os independistas porto-riquenhos! Viva as avós indígenas, lutando para existir no Big Mountain, Arizona! Viva o povo que defende o meio ambiente, a terra e os animais! Viva nossos irmãos e irmãs no México na vanguarda das lutas! Viva o espírito da resistência! Viva John África! Viva a Revolução! E abaixo com este sistema podre e fedorento!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Prefeitura expulsa artistas de rua da av. Paulista; para jurista, proibição é "ato nazista"

Avenida mais famosa da cidade de São Paulo, a Paulista é conhecida por ser o centro financeiro da capital, e também por ser um tradicional reduto de artistas de rua. Esse cenário, porém, vem mudando. Enquanto os prédios de empresas e bancos permanecem na paisagem, a classe artística  vem minguando no local com a chegada da Operação Delegada, iniciada em dezembro do ano passado pela Polícia Militar, após a assinatura de um convênio com a prefeitura paulistana e o governo do Estado.

Estátuas vivas, palhaços, saxofonistas, guitarristas e malabaristas: todos eles agora estão sujeitos à ação policial, cujo objetivo principal é coibir e enquadrar o comércio ambulante ilegal nas principais vias do município. Para o jurista Luiz Flávio Gomes, a ação é um "ato nazista". "A atividade deles é lícita. Expressão artística você pode fazer quando quiser. Eles serem proibidos é uma ilegalidade, um abuso patente", diz. "Se houver prisão então é crime: abuso de autoridade", afirma.
O UOL Notícias caminhou pela avenida durante uma hora na última sexta-feira (19), e não encontrou nenhum dos artistas de rua no trecho mais movimentado da via, entre as estações Consolação e Brigadeiro do metrô.  "Não tem autorização, não fica", disse um policial ouvido pela reportagem.
Gomes afirma que a atividade não é comercial. "É uma atividade que gera remuneração livre das pessoas que decidem se vão doar ou não", argumenta. "É uma mera doação, e doação para serviço não é atividade comercial."
Para reforçar a Operação Delegada, a polícia conta com a ajuda de policiais de folga. Se o PM interessado for praça, recebe R$ 12,33 por hora trabalhada na operação; se for oficial, a remuneração extra é de R$ 16,45 por hora. Antes, apenas guardas civis metropolitanos podiam realizar esse tipo de fiscalização.

Proibição do skate

Em 1988, o então prefeito Jânio Quadros proibiu, por decreto, a prática do skate no Parque do Ibirapuera. Depois de alguns meses, a medida foi revogada e hoje o esporte é um dos mais praticados no país. Neste ano, uma proposta do vereador Adolfo Quintas (PSDB) para proibir skates em calçadas também chegou a ser debatida na Câmara Municipal

População critica

Cidadãos ouvidos pelo UOL Notícias criticaram a medida. "Deixa os caras trabalharem, eles animam a cidade", disse o segurança Rogério Alexandre.
"A arte sempre tem que ter lugar, misturada com a cidade", afirmou o publicitário Lucas Lamenha. "É um jeito do povo ganhar a vida", concordou Stephanie de Souza, analista de atendimento.
"Isso só prejudica os caras, eles querem trabalhar", afirmou o gari Edson da Silva. "Não tem do que reclamar dos artistas. Eles não atrapalham ninguém e, na verdade, estão trabalhando", disse o Jerônimo dos Reis, jornaleiro de uma banca em frente ao Parque Trianon. "Não tem nada a ver. Isso aqui é a av. Paulista, tem que deixar eles trabalharem", finalizou a comerciante Julia Delácio.

Proibições na capital

Durante a gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM), diversas restrições e proibições começaram a vigorar nas ruas da capital paulista, como a de gritos em feiras livres. Também foi proposta, dentre outras, a retirada de bancas de jornal no centro e, no trânsito, foi proibida a circulação de caminhões na marginal Tietê e o tráfego de motos na avenida 23 de Maio, esta última revogada pouco tempo depois.

No que diz respeito à proibição de artistas de rua, a medida não é nova. Em julho de 2006, a Prefeitura de Florianópolis (SC) proibiu malabaristas de trabalharam nos semáforos da cidade, sob o argumento de que eles "perturbam a ordem pública" e "causam transtorno". "Sinaleira não é lugar de entretenimento, e sim de atenção", afirmou à época José Carlos Ferreira Rauen, secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano.

Outro lado

Procurada pela reportagem do UOL Notícias, a prefeitura negou a proibição dos artistas na Paulista e afirmou que a Operação Delegada se restringe aos vendedores ambulantes. Já a Polícia Militar, por meio de nota oficial, afirmou que os artistas se incluem no critério comercial. "As manifestações culturais podem ser exercidas em qualquer lugar e a Polícia Militar respeita e garante os termos constitucionais. Contudo, é preciso separar manifestação cultural da comercialização do talento. Quando há qualquer tipo de exploração comercial, caracteriza-se um evento e há a necessidade de autorização da Prefeitura, que é competente para disciplinar o uso e a ocupação do solo. No caso de artistas e pessoas que aproveitam para divulgar seu trabalho e comercializar CDs e DVDs, ou ainda 'estátuas vivas' que sugiram algum pagamento em dinheiro, são situações que descaracterizam a manifestação cultural e se classificam como um evento", afirma a nota oficial da PM.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Áreas rurais concentram 75% da pobreza mundial

Em todo o mundo, 925 milhões de pessoas seguem sofrendo fome crônica, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Cerca de 75% da pobreza mundial está concentrada em áreas rurais. Relator especial da ONU sobre direito à alimentação diz que camponeses de países pobres estão capturados por um círculo vicioso: os governos não investem o suficiente na agricultura e os produtores locais estão sendo expulsos de suas terras e lançados em periferias urbanas onde se afundam ainda mais na pobreza.
Nova York (IPS) – Por todo o mundo, camponeses estão sendo apanhados em um círculo vicioso: os governos não investem o suficiente na agricultura e os produtores locais estão sendo expulsos de suas terras e lançados em periferias urbanas onde se afundam ainda mais na pobreza. Isso só dificulta os esforços para aliviar o problema da desnutrição: em todo o mundo, 925 milhões de pessoas seguem sofrendo fome crônica, segundo dados divulgados em setembro pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

Olivier de Schutter, relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre direito à alimentação, assinalou que a solução mais sustentável é incrementar os investimentos agrícolas nos países em desenvolvimento do Sul para melhorar a renda dos camponeses e dar-lhes uma maior estabilidade no setor. De Schutter, que trabalha de forma independente, foi designado em maio de 2008 pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra. Desde então, visitou a Nicarágua, Guatemala, Brasil, Benin e Síria. Segue a entrevista que ele concedeu a IPS:

IPS: Qual a importância da agricultura nas economias dos países em desenvolvimento?

Vários países em desenvolvimento dependem demasiadamente de um punhado de matérias primas, como o algodão, o café, o tabaco e o açúcar. Isso os torna muito vulneráveis a mudanças dos preços desses produtos e também significa que têm uma tendência a investir muito nestes cultivos para sua exportação e menos para o consumo local. Esse é o caso de quase todos os países da África Subsaariana. Neste contexto, eu estou sugerindo a esses países que façam duas coisas: primeiro, investir na agricultura para produzir alimentos internamente e, assim, tornar-se menos vulnerável no futuro aos aumentos de preços no mercado de alimentos, uma medida fundamental para a sua segurança alimentar.

Segundo, que diversifiquem suas economias para ter um setor secundário (a indústria) e outro terciário (os serviços) que possam absorver a mão de obra excedente e diminuir a dependência de um pacote limitado de cultivos de exportação como fonte de renda.

IPS: Uma maior produtividade agrícola impulsionaria as economias de alguns dos países mais pobres na África e Ásia?

Os investimentos na produtividade agrícola podem ser fundamentais se beneficiarem os camponeses, que são os mais pobres. Cerca de 75% da pobreza mundial está concentrada em áreas rurais. Melhorar a renda dessas pessoas fará com que comprem mais de produtores e provedores de serviços locais, com um importante efeito multiplicador nas economias, beneficiando também os setores da indústria e de serviços em seus respectivos países.

IPS: Que tipo de investimento está recomendando?

São necessários investimentos públicos e privados. Os países simplesmente não tem o orçamento necessário, muitos carecem de recursos. Certos investimentos provavelmente devem ser feitos pelo Estado, já que não existem incentivos ou são débeis para o setor privado. Por exemplo, os estados deveriam desenvolver serviços de extensão rural, infraestrutura e pesquisa agrícola. Deveriam criar escolas agrárias e apoiar organizações e cooperativas de camponeses.

Os investimentos do setor privado também são importantes e podem complementar os do setor público. Mas não devem tomar a forma de aquisições ou de compra de terra em grande escola, pois isso pode causar enormes perturbações sociais e políticas, constituindo um retrocesso nos esforços para melhorar o acesso a terras por parte dos pobres que, em geral, já tem pouco para cultivar. Então, qual é a alternativa? Creio que certas formas de contratos agrícolas podem garantir importantes benefícios para os camponeses, possibilitando que sejam apoiados por investimento e garantam o acesso à terra.

IPS: De quanto exatamente necessita a agricultura e quanto está sendo investido hoje? Qual é o déficit?

Estima-se que, para relançar a agricultura na África Subsaariana e cobrir 30 anos de esquecimento, são necessários entre 35 e 45 bilhões de dólares anuais durante um período de cinco anos (2010-2015). Isso é mais do que se prometeu até agora e, de fato, pouco dinheiro foi prometido para essa finalidade.

IPS: Quais são algumas das soluções para esta falta de responsabilidade?

A participação dos parlamentos nacionais e de organizações da sociedade civil, incluindo grupos de camponeses, pode ser muito importante para garantir que os governos tomem decisões bem informadas na base de uma adequada compreensão sobre o que os pobres necessitam. Eu recomendo a adoção de estratégias que sejam desenvolvidas em marcos participativos, por meio dos quais os governos estabeleçam pontos de referência para eles mesmos dentro de um prazo determinado e atribuam responsabilidades em diversos departamentos para a adição das medidas necessárias para atingir tais metas. Isso aumenta a responsabilidade do governo, já que terá que justificar a ausência de ações e explicar por que não cumpriu as metas que fixou para si mesmo.

IPS: O alimento pode ser usado como arma de guerra?

Pode sim. Interromper o transporte de ajuda alimentar a zonas afetadas pela guerra sob o pretexto de que a ajuda poderia terminar em mãos de guerrilheiros, matar de fome uma população para castigá-la por ser hostil ao governo central ou destruir cultivos para privar as pessoas de alimentos são graves violações aos direitos humanos. Em alguns casos podem constituir crimes de guerra ou contra a humanidade. No entanto, o mais frequente é o uso de alimentos como ferramenta política, para recompensar partidários e castigar adversários.

Tradução: Katarina Peixoto

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A democracia fugiu do controle?

Ainda é cedo para maiores projeções nessa ou naquela direção sobre os telegramas wikis ou sobre o papel representado por Julian Assange. Uma coisa é certa. A pergunta que se configura aos poucos e que o confronto entre a força avassaladora da nova informação eletrônica e a da velha mídia mundial a serviço do poder hegemônico do capitalismo nos coloca é a seguinte: a democracia representativa burguesa está fugindo ao controle de quem a tutela? O artigo é de Izaías Almada.
Um curioso artigo do jornalista espanhol Pascual Serrano publicado em “El Periódico de Catalunya” e reproduzido no site www.rebelion.org levanta uma questão interessante provocada pelos milhares de telegramas vazados pelo site Wikileaks na internet, mas que – de algum modo até intrigante – ultrapassa a polêmica criada na imprensa mundial diante do volume e do conteúdo ali exibidos.

Diz Serrano na introdução do seu texto que o fenômeno Wikileaks tem monopolizado numerosas análises e reflexões sobre o futuro da informação, da internet e da própria difusão de notícias. É natural. Como o direito à informação e à liberdade de imprensa se constituem em pilares, entre outros, da democracia tal qual a conhecemos e é praticada em boa parte do mundo ocidental, chama a atenção o fato de que parece se configurar com maior nitidez uma verdade que a hipocrisia de muitos ‘democratas’ procura esconder e maquiar há algum tempo: afinal existem informações e... informações. Como também existem concepções diferentes sobre a liberdade de imprensa.

Quando um país, como os Estados Unidos da América, apóia um golpe de estado contra um governo democraticamente eleito, o último exemplo é a deposição do presidente Manuel Zelaya em Honduras (mas a lista é imensa só nos últimos 50 anos), é justo encobrir ou negar essa informação? Em nome de quê? De quem? E a liberdade de imprensa onde é que fica? Os chamados segredos de estado só pesam em um dos pratos da balança?

Não é por acaso que o pensador e lingüista Noam Chomsky declara, a propósito dos recentes vazamentos no Wikileaks, que os governantes norte americanos tem profundo desprezo pela democracia, essa mesma da qual se orgulham e querem impor ao mundo através da força.

Muito a propósito, vejamos as recentes declarações do atual embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, em artigo escrito para o jornal Folha de São Paulo no dia 2 de dezembro passado: “O presidente Obama e a secretária de Estado Hillary Clinton decidiram dar prioridade à revigoração das relações dos EUA no mundo. Ambos têm trabalhado com afinco para fortalecer as parcerias existentes e construir novas parcerias no enfrentamento de desafios comuns, das mudanças climáticas e da eliminação da ameaça das armas nucleares até a luta contra doenças e contra a pobreza.”

Obedecendo à orientação de Washington para minimizar os telegramas wikis, o blá, blá, blá retórico de Thomas Shannon é vazio de significado prático e recheado de conteúdo cínico. No contexto da América Latina, quais seriam esses desafios, senhor embaixador? O combate ao narcotráfico, por exemplo? Mas qual é o maior país consumidor de drogas pesadas no mundo e, portanto, grande sustentáculo do narcotráfico internacional, segundo relatórios da ONU? Os Estados Unidos da América. Qual o volume de dinheiro do narcotráfico branqueado em bancos norte americanos (e europeus)? Em termos mundiais, já ultrapassa a casa dos 400 bilhões de dólares por ano.

Quanto às mudanças climáticas, é sabido que até a presente data o país do Sr. Shannon ainda não assinou o Protocolo de Kyoto, criado em 1997 com o objetivo de reduzir a produção de gases poluentes, sendo os EUA o país que mais polui o meio ambiente mundial. Dispenso-me de comentar sobre o cinismo da “eliminação da ameaça de armas nucleares”. Repito aqui apenas a velha e surrada pergunta: por quê os EUA não dão o exemplo e começam a destruir o seu próprio arsenal nuclear? Sobre a luta contra a doença e a pobreza, o Sr. Shannon deveria olhar para dentro de seu próprio país e ver os estragos causados no sistema de saúde privatizado, tão bem avaliado pelo cineasta Michael Moore; ou avaliar o atual nível de desemprego e pensar nos imensos guetos de miséria espalhados pelo país, sobretudo entre afros descendentes e hispânicos.

O ainda referido artigo publicado na FSP é uma catilinária de parvoíces, eivada de frases vazias, mas sempre com aquela pontinha de arrogância com a qual os “nossos irmãos do norte” se acostumaram a tratar o mundo. Prestem atenção nessa simples e emblemática frase do embaixador norte americano no Brasil sobre os telegramas do Wikileaks, eivada de arrogância e ‘espírito democrático’: “Uma ação cuja intenção é provocar os poderosos pode, em vez disso, pôr em risco aqueles que não têm poder.” Ou seja: nós, os poderosos (leia-se EUA), se provocados, podemos pôr em risco os que não tem poder (o resto do mundo).

Mas é exatamente isso o que seu país já faz, senhor embaixador, com ou sem o Wikileaks. Como é que ficam os assassinatos de civis no Afeganistão e no Iraque? Quantos idosos, mulheres e crianças já morreram para receber (custa-me mais uma vez engolir o cinismo) a velha e empoeirada democracia de Abraham Lincoln? O que significa enviar dez mil soldados armados até os dentes para uma ajuda humanitária ao Haiti?

Volto agora ao jornalista Pascual Serrano. Sobre o debate entre defensores e críticos para saber se o site de Julian Assange comete uma irresponsabilidade com a e circulação de informação secreta, o jornalista espanhol considera que há uma simplificação do tema e que o modus operandi do próprio Wikileaks vem demonstrando que o assunto é mais complexo.

Serrano, sem mostrar duvidas quanto à veracidade dos tais telegramas, levanta a enigmática hipótese de se saber a razão pela qual, de início, o Wikileaks ofereceu de forma privilegiada e com exclusividade 250.000 documentos a cinco grandes meios de comunicação mundial, The New York Times, The Guardian, Der Spiegel, Le Monde e El País. Tais órgãos de informação divulgaram em seguida que tinham “autonomia para decidir sobre a seleção, valoração e publicação das informações que afetassem a seus países (EUA, Grã Bretanha, Alemanha, França e Espanha).

Portanto, e ainda segundo Serrano, a conivência entre o Wikileaks e o cartel criado entre esses cinco órgãos de comunicação, é absoluta. E conclui: “Não sei se a origem do site Wikileaks era limpa e honesta. O que parece claro, contudo, é que está se convertendo num objeto domesticado, a ponto de o primeiro ministro de Israel Benjamim Netanyahu afirmar que os documentos dão razão ao seu governo ao valorizar a ameaça iraniana”.

Os vazamentos Wikileaks significariam o simples desnudamento da diplomacia de intimidação e espionagem colocadas em prática por Washington, tornando explícito para o mundo aquilo que muitos já sabiam ou desconfiavam? Criam constrangimentos para o complexo industrial/militar e as grandes corporações capitalistas ou, ao contrário, significam uma nova e sofisticadíssima forma de contra-informação digna de um filme de Hollywood?

O atual líder republicano no senado norte americano, Mitch McConnell, declarou em entrevista para a rede de televisão NBC que Assange é “um terrorista de alta tecnologia”. O dano causado aos EUA é enorme e, segundo o senador, Assange deve ser julgado com todo o peso da lei. Se por acaso isso causar problemas legais, “muda-se a lei”, completou McConnell. Parece que desde a eleição de Bush filho, quando se fraudou a lei no estado da Flórida para sua eleição, ou mesmo bem antes, quando John Kennedy foi assassinado, a democracia norte americana vem mudando algumas de suas leis a fim de se manter como sendo a democracia exemplar para o resto do mundo.

Ainda é cedo para maiores projeções nessa ou naquela direção sobre os telegramas wikis ou sobre o papel representado por Julian Assange. Uma coisa é certa. A pergunta que se configura aos poucos e que o confronto entre a força avassaladora da nova informação eletrônica e a da velha mídia mundial a serviço do poder hegemônico do capitalismo nos coloca é a seguinte: a democracia representativa burguesa está fugindo ao controle de quem a tutela?

domingo, 5 de dezembro de 2010

Carta Aberta a Cultura da Madrasta Terra.


Venho por meio desta carta, expressar toda minha insatisfação a maneira como é gerida a cultura e cessão dos espaços para a prática das práticas culturais aqui em Cabo Frio – RJ. Não espero muita coisa com essa exposição, além de liberar toda uma raiva contida e talvez tenha a pretensão de fomentar uma reação mais objetiva ao que está rolando na cidade.
Para contextualizar, eu sou Fábio Emecê, Mc do grupo de Rap Cabofriense Bandeira Negra, além de escritor, poeta e professor de Língua Portuguesa. No dia 04 de dezembro fomos escalados para tocar no corredor cultural do Charitas, junto Taz Mureb e Amerê, Psilosamples(MG) e Marcos Geres e Cleber Dantas(SP).
Chegamos no evento as 19 horas, horário marcado, e recebemos a noticia de que não se iria rolar as atividades, pois a polícia tinha embargado. Muito estranho. 20 horas o evento começa com os artistas fora da cidade se apresentando. Detalhe: Som baixo.
Chega um representante do evento e nos diz a seguinte versão: O atual coordenador/secretario de eventos da cidade, por não ter autorizado a atividade no Charitas, usa de sua pretensa autoridade e contato com a policia militar e proibi a realização com a condição de liberar caso liguem para ele e peçam caridosamente. O atual secretario de cultural realiza esse esforço herculeo e a atividade é autorizada. Com uma condição: Som baixo para não incomodar os “vizinhos”.
Pois bem, para começar uma questão, se houve esse problema, por que anunciar no site oficial da Prefeitura, e a independência da casa de cultura da cidade? Onde fica?
Continuando: os sons rolando e uma cobertura de filmagem. Quando o Bandeira Negra vai tocar, a filmagem e desmontada, a Taz Mureb se retira do evento e no meio da nossa apresentação, somos interrompidos, pois o horário foi extrapolado.
Segunda questão: Fins de semana o som pode ficar alto até as 2 da manhã. Terceira questão: é a quarta vez que isso acontece na cidade, pelos arredores do centro com relação a uma apresentação de Rap/ ligado a cultura Hip Hop. Fora esse cerceamento de horário, já que frequentando outros eventos e essa restrição não rola de fato.
Fica aqui todo o repúdio a maneira como está sendo conduzida a cidade: a cidade anti-cultura, anti-educação e anti-trabalho. Se não houver uma reação objetiva com relação aos desmandos da cidade, ficaremos sem ter um lugar digno para convivência.
Como artista local e independente, me recuso categoricamente a baixar a cabeça para os coronéis do novo século cabo-friense, para tentar fazer algo descente e de qualidade. Até porque se for baixar a cabeça, a qualidade não será um dos quesitos que será apreciado.
Prestem atenção amigos e amigas, ser cabo-friense e ser pensante e morando em Cabo Frio não é uma boa opção hoje em dia. É para continuar assim? Não haverá reação?
Jamais me calarei diante as arbitrariedades que acontecem na cidade e se quiserem cercear os espaços de atuação, continuem. Essa boca, esse coração e essa alma jamais irão calar.
É isso!



Fábio Emecê – Mc do grupo de rap Bandeira Negra, Coletivo H2A, Escritor, Poeta, Professor de Língua Portuguesa e indignado com o cenário local.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Wikileaks: o imperador está nú

O reality show das WikiFugas prosseguirá, com novidades online aos borbotões. Pelo menos o espectáculo demonstra, mais uma vez, que a boa informação está na Internet – não nos média-empresariais globais; e que os cidadãos globais devem fazer dela o melhor uso possível para desmascarar, e rir, do poder. É salutar aprender que o imperador, em segredo, fala mal dos amigos e sicofantas, tanto quanto dos inimigos. Também é salutar aprender que o imperador é inimigo da democratização da informação. Mas agora, que já se sabe que o imperador está mesmo nu, devemos agradecer muito aos autores dos telegramas, seus amigos, inimigos e sicofantas, por nos oferecerem esse impagável reality show. O artigo é de Pepe Escobar.
Presidente Bush : Frank, estou a criar um cargo, e peço-lhe que considere a possibilidade de trabalhar connosco. Serão dias longos e noites perigosas. E você vai trabalhar cercado pela escória de nossa sociedade.

Frank: Estou a ser convidado para trabalhar no seu Gabinete?

[Corra Que a Polícia Vem Aí 2, estrelado por Leslie Nielsen]

Digam o que disserem os jornais e televisões, o facto é que 1,6 gigabytes de arquivos de texto numa pen-drive espalhando 251.287 telegramas diplomáticos do Departamento de Estado dos EUA de mais de 250 embaixadas e consulados não vão provocar “um terremoto político” – como se lê na revista alemã Der Spiegel – na política externa da maior potência decadente do mundo.

Por trás das múltiplas hipócritas camadas de um ciclo frenético de notícias, 24 horas por dia todos os dias da semana, a política aparece, sobretudo, como um reality show repugnante. Isso é o que as últimas WikiFugas mostram, em forma escrita, nua e crua. Um Muammar Kaddafi que usou botox e não seria muito activo com a sua sexy enfermeira ucraniana é personagem de “Big Brother”.

Embora seja excelente para a televisão, não se pode dizer que seja novidade que, para os diplomatas norte-americanos, o presidente do Irão Mahmud Ahmadinejad é "Hitler", que o presidente do Afeganistão Hamid Karzai é “paranóico”, que o presidente da França Nicolas Sarkozy é “imperador sem o traje”, que o “tolo e incompetente” primeiro-ministro da Itália é doido por “orgias”, que a chanceler alemã Angela Merkel “raramente produz alguma ideia criativa”, que o presidente da Rússia Dmitri Medvedev “é o Robin do Batman Vladimir Putin [primeiro-ministro russo]”, ou que o Amado Líder da Coreia do Norte Kim Jong-il é “velhote flácido”, vítima de “trauma físico e psicológico”.

Mas crer, como a secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton, que as fugas seriam “ataque não só aos interesses da política externa norte-americana, mas de toda a comunidade internacional”; ou que o WikiLeaks, como disse o presidente Barack Obama, cometeu crime grave, é nada além de manifestação de repugnante arrogância imperial. Como se o mundo não tivesse o direito de também fartar-se da mesma comida política podre servida em abundância aos selectos comensais dos palácios do poder em Washington.

Clinton deve ter farejado que o sentimento dominante depois de ler os telegramas seria de uma Washington à beira de um ataque de nervos digno de personagem de Almodovar. Por exemplo, um aliado-chave dos EUA, como Berlusconi, descrito como “ridículo, patético”, “indiferente ao destino da Europa” e perigosamente íntimo de Putin, do qual parece “o porta-voz”, visto como ameaça equivalente a Ahmadinejad. Até que ponto chega a paranóia? A embaixada dos EUA em Moscou, por falar nisso, descreve Putin como um “cão alfa” que comanda a Rússia, virtualmente “um Estado-máfia”; alguém mais cínico lembrará que a mesma definição aplica-se ao ex-vice-presidente Dick Cheney durante a era George W. Bush.

Em todo o mundo, quem tenha QI acima de 75 já desconfia que os diplomatas dos EUA espionam os próprios colegas na ONU (por ordem de Clinton); que Washington comandou um bazar de liquidação para obrigar pequenos países a aceitar prisioneiros de Guantánamo; que o establishment militar/de informações do Paquistão está articulado com os Taliban; e que o rei saudita Abdullah bin Abdul Aziz, esse defensor paradigmático da democracia e dos direitos humanos, exigiu que os EUA ataquem o Irã.

Temer o Irã xiita, afinal de contas, sempre foi regra nesse bando de ditadores/autocratas sunitas impopulares que vivem a suplicar que os EUA lhes vendam as armas que os mantêm no poder.

Mas a coisa fica muito mais séria, se se tem o embaixador dos EUA na Turquia, a dizer que o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan “é um fundamentalista. Ele odeia -nos religiosamente” e que o seu ódio “se espalha”. Isso é absolutamente falso. É mentira.

Ou que Robert Gates, “O Supremo” do Pentágono, diz ao ministro das Relações Exteriores da Itália Franco Frattini que o Irão não fornece armas aos Taliban – e assim desmente toda uma massiva campanha de propaganda de demolição orquestrada pelo Pentágono que já durava meses.

Não há prova alguma de que a liderança coletiva em Pequim tenha sido o verdadeiro poder por trás dos ciber-ataques que o Google sofreu. E quando o ex-vice-ministro de Relações Exteriores da Coreia do Sul Chun Yung-woo disse ao embaixador dos EUA em Seul que uma nova geração de líderes do partido chinês já não vêem a Coreia do Norte como aliado útil, o quanto, nessa ‘informação’, é exclusivamente opinionismo de auto-preservação e auto-ajuda? Afinal de contas, Chun é hoje conselheiro de segurança nacional do presidente da Coreia do Sul.

O contexto é a chave, em todas as fugas – cerca de 220 até agora. Os diplomatas e funcionários de baixo escalão que falam nesses telegramas dizem, essencialmente, o que o Departamento de Estado deseja ouvir, ou fazem bluff, repetindo o que quer que já esteja instaurado como pilar da política de Washington; a quantidade de análise crítica independente naqueles telegramas é praticamente zero.

O espectáculo tem de continuar

Possibilidade muito mais sumarenta é lembrar que, doravante, nenhum dos cidadãos mais ativos do mundo jamais voltará a crer no que lhes seja empurrado como “fato” ou como “verdade” naquelas cosmicamente tediosas sessões de “conferência diplomática/governamental/militar com a imprensa e fotógrafos”.

Os telegramas Wiki escapados provam que a Europa – incapaz de se auto-poupar do ridículo – já vinha sendo marginalizada desde a era Bush, processo que agora culmina, com Obama integralmente dedicado à Ásia-Pacífico. Quanto ao que já escapou até agora, sobretudo sobre o Irão e a turma que faz e acontece no Golfo Pérsico, é pura propaganda israelita-norte-americana mal disfarçada.

Não por acaso, a maioria das manchetes globais batem todas o mesmo tambor, com variações sobre o tema “Israel festeja os telegramas divulgados como aval de sua política para o Irã”. Avaliação geral dos telegramas revela que, assim como Israel e o poderoso lóbi pró-Israel dos EUA trabalharam a dobrar para conseguir a invasão e destruição do Iraque, pode-se apostar que agora querem fazer o mesmo ao Irã.

Merece especial atenção o telegrama em que se lê que o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu é “elegante e sedutor, mas nunca cumpre o que promete” (promessas como continuar a construir colonatos na Cisjordânia e bombas, bombas, bombas sobre o Irão.)

O reality show das WikiFugas prosseguirá, com novidades online aos borbotões. Pelo menos o espectáculo demonstra, mais uma vez, que a boa informação está na Internet – não nos média-empresariais globais; e que os cidadãos globais devem fazer dela o melhor uso possível para desmascarar, e rir, do poder.

É salutar aprender que o imperador, em segredo, fala mal dos amigos e sicofantas, tanto quanto dos inimigos. Também é salutar aprender que o imperador é inimigo da democratização da informação. Mas agora, que já se sabe que o imperador está mesmo nu, devemos agradecer muito aos autores dos telegramas, seus amigos, inimigos e sicofantas, por nos oferecerem esse impagável reality show – espécie de continuação de “Corra que a Polícia vem aí”. Pena que o grande Leslie Nielsen, que morreu no domingo, não esteja aqui, para rir connosco.

(*) Tradução do coletivo da Vila Vudu.