domingo, 31 de julho de 2011

15-M dá início a Marcha Internacional rumo ao Parlamento Europeu

Uma nova jornada começará em diversos países rumo a Bruxelas, onde está a sede do Parlamento Europeu. Essa marcha internacional, que começou dia 26 de julho, com a partida de cerca de 30 pessoas desde a Puerta del Sol, em Madri, que chegará a seu destino no dia 8 de outubro, uma semana antes de uma grande manifestação internacional planejada pelo movimento Democracia Real Já. Trata-se de uma mobilização, prevista para 15 de outubro, cujo objetivo será o de declarar que os cidadãos não são mercadorias na mão de políticos e banqueiros.

Dia 25 de julho foi feriado na Espanha em celebração ao dia de Santiago de Compostela, santo que dá nome a uma famosa rota espiritual e cultural de peregrinos, que conecta diversas zonas da Europa. Nessa data, os participantes do 15-M se reuniram no Parque do Retiro, em Madri, para debater a organização e o planejamento de duas ações espelhadas na Marcha Popular Indignada, que chegou à capital espanhola no último sábado, depois de 29 dias de caminhadas por diferentes cidades da Espanha.

Uma dessas novas jornadas começará em diversos países do continente rumo a Bruxelas, onde está a sede do Parlamento Europeu. Essa marcha internacional, que começou nesta terça-feira (26) às 18h00, com a partida de cerca de 30 pessoas desde a Puerta del Sol, chegará a seu destino no dia 8 de outubro, uma semana antes de uma grande manifestação internacional planejada pelo movimento Democracia Real Já. Trata-se de uma mobilização, prevista para 15 de outubro, cujo objetivo será o de declarar que os cidadãos não são mercadorias na mão de políticos e banqueiros.

Os ativistas que se propuseram a essa nova aventura continuarão seguindo o procedimento adotado para a Marcha Popular Indignada: visitar cada comunidade encontrada no caminho, para realizar nesses locais assembleias que permitam a coleta de reivindicações populares. O primeiro ponto de parada dessa nova rota saída da capital espanhola será San Sebastián de los Reyes. Um grupo francês que se somou à peregrinação partiu de Toulouse na manhã de ontem, enquanto outro coletivo deixará Aachen, na Alemanha, no dia 11 de setembro, comprometendo-se a passar pela Holanda. Essas duas rotas se encontrarão no dia 17 de setembro num protesto prévio diante da sede da Comissão Europeia.

Nessa mesma data, a Marcha Popular Indignada espanhola, que conta com representates das acampadas do 15-M em Madri, Barcelona e Cantabria, chegará a Paris, onde se encontrará com outras rotas, vindas de países, como Portugal, Itália, Grécia, Suíça, Alemanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra e Irlanda. Ainda para esse dia, está previsto o acampamento de 20 mil pessoas no baixo Manhattan, em Nova Iorque. Os participantes dessa ação pretendem se rebelar contra a ordem financeira mundial encabeçada por Wall Street, permanecendo no local durante alguns meses.

Outro protesto itinerante debatido pelo 15-M de Madri terá início no dia 26 de agosto e consistirá na passagem por diferentes povos do Vale de Laciana, na Espanha, para criar espaços de encontro e debate, bem como laços de apoio e solidariedade à defesa da região contra os riscos que sua biodiversidade corre atualmente, devido à abertura de minas de carvão a ceu aberto. Os participantes dessa ação pretendem chegar à montanha de Laciana no dia 5 de setembro, para ali acampar e realizar atividades, que serão transmitidas pela televisão da acampada de Madri, via Internet.

O planejamento dessas mobilizações fez parte do 1º Fórum Social do 15-M, realizado durante manhã e tarde de segunda-feira. Nesse dia, a partir das 17h00, podiam ser vistas frente ao Palácio de Cristal, no Parque do Retiro, centenas de pessoas distribuídas em rodas de discussão sobre Cultura, Educação, Saúde, Pensamento, Economia e Ações Sociais. Participavam dessa conversa não só os militantes do 15-M mais engajados, como também simpatizantes à causa do movimento.

A discussão sobre Economia era de longe a que mais participantes reunia. Ali, pessoas com olhar curioso buscavam compreender melhor as causas da crise financeira que lhes afeta, assistindo à exposição de dois estudiosos da área. Esses dois especialistas indicaram como maior culpado da atual desigualdade social que assola o mundo o sistema financeiro global contemporáneo, que é baseado na lucratividade do crédito e na especulação referente a juros cobrados sobre essas dívidas, em detrimento da atividade produtiva real.

Os dois condutores do debate também criticaram a subserviência dos governos europeus às instituições financeiras, que é refletida na transferência de débitos privados ao erário público, por meio do recorte de direitos sociais para que o dinheiro economizado dessa maneira seja empregado no pagamento de títulos de dívida comprados por Banco Central Europeu e FMI.

Eles ainda defenderam a redução da jornada de trabalho como forma de distribuição de recursos e a exigência de uma investigação rígida sobre a origem da dívida que os povos de países periféricos da Europa são hoje obrigados a pagar, sem que lhes tenha sido dado acesso a informação ou poder de decisão a respeito. Outra proposta do 15-M, lida por um dos estudiosos de Economia, é a responsabilização penal dos líderes das instituições financeiras que desencadearam a presente crise, a exemplo do que sucedeu na Islândia, depois de forte mobilização popular contra as medidas de austeridade econômica praticadas pelo governo do país.

O debate seguia com intensidade, quando foi interrompido pela chegada do prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, que passava por Madri e aceitou o convite de integrantes do 15-M para participar do encontro. Durante sua fala, o economista expressou solidariedade à luta dos indignados e disse que o fato de o atual sistema econômico mundial criar continuamente problemas sociais e ambientais que é incapaz de resolver, sinaliza a necessidade de mudanças urgentes. Stiglitz sugeriu que haja maior controle do mercado financeiro mundial, visto que atualmente ele funciona como fonte de lucro para poucos, e não como impulsor de oportunidades de trabalho e consumo para a população em geral.

Depois dessa rápida intervenção do economista norte-americano, foi aberto um turno de palavra e apresentação de propostas de solução à atual crise econômica. Várias pessoas se habilitaram a falar, enquanto no debate ao lado, cujo tema era Pensamento, um grupo filosofava sobre a necessidade de que os seres humanos tenham um tempo diário de ócio criativo no qual possam refletir sobre as próprias buscas, sem que lhes seja dada como única alternativa o consumo de ideologias prontas. “O trabalho deve ser um direito universal. Mas, a tecnologia que temos hoje permite que a gente trabalhe um mínimo de horas por dia, para que o restante do tempo seja utilizado para pensar e criar, fazendo filosofia. O problema é que atualmente só são financiadas e usadas as tecnologías que podem dar lucro”, compartilhou sua ideia um idoso.

Saí dessa confrontação de ideias interessantes por volta das 21h00 do dia 25, horário em que acontecia, frente à entrada do Congresso Nacional espanhol que é vizinha à Praça Neptuno, a divulgação do documento de reivindicações populares resultante da Marcha Popular Indignada. Nessa apresentação, para a qual havia sido convocada a imprensa em geral, sem que no entanto se vissem jornalistas no local, um jovem militante catalão pediu a palavra para fazer uma denúncia sobre algo que havia passado no bairro Clot, em Barcelona. De acordo com o garoto, durante um protesto contra o despejo de uma família, sem condições de pagar pela hipoteca de seu imóvel, cerca de 20 manifestantes sofreram lesões leves e graves, num confronto com a Polícia.

Em Madri, as coisas não são diferentes. Na terça-feira, dois ativistas do 15-M foram agredidos por um policial, enquanto outro foi identificado, segundo informações de integrantes do movimento. O conflito aconteceu em uma das áreas de acesso ao Congresso Nacional, que desde segunda estava cercado por viaturas da Polícia, já preparadas para evitar que no dia seguinte, quando o Parlamento voltaria à ativa, os indignados pudessem se aproximar dos deputados federais.

Na quarta-feira, quando os militantes se concentrariam às 10h00 frente a uma das entradas do Congresso Nacional, para tentar entregar o documento de reivindicações populares resultantes da Marcha Indignada aos parlamentares, muitos dos jovens que estavam acampados diante do Parlamento e no Passeio do Prado foram desalojados com violência por policiais à partir das 7h00. Diante disso, o 15-M organizou um protesto para chamar a atenção da sociedade a essa repressão policial. O ato, que reuniu mais de mil pessoas, começou às 20h00 em zona do Passeio do Prado próxima à Praça Neptuno, percorrendo Gran Via e Rua de Preciados até chegar à Puerta del Sol.

Enquanto isso, alguns dos "indignados" vindos de outras partes da Espanha preparavam as malas para voltar a seus locais de origem antes de domingo, data inicialmente prevista para o fim do acampamento estabelecido com a chegada da Marcha a Madri. Diante da atual opressão das forças policiais espanholas, parece que os integrantes do 15-M, que se autodenominam não-violentos, já escolheram suas armas: a comunicação com a sociedade, por meio da tomada de ruas e estradas, e também pelo uso da Internet para a criação de formas de expressão alternativas. Exemplo disso é o blog http://tomalaplaza.net/, que reúne informações de diversas acampadas espalhadas pela Espanha.

terça-feira, 26 de julho de 2011

"Trocamos um Mubarak por 18 Mubaraks"

Seis meses depois da revolta popular que levou à renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak, parece ter chegado ao fim a lua de mel entre a população que particicpou da mobilização e o governo interino do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), a princípio considerado “defensor da revolução”. Os protestos recomeçaram na Praça Tahrir, ante a falta de vontade do governo interino do Conselho Supremo das Forças Armadas para punir as figuras do regime de Mubarak. Por Adam Morrow e Khaled Moussa al-Omrani.

“A confiança das pessoas no CSFA, ao parecer incapaz ou sem vontade de atender nossos problemas, atingiu seu ponto mais baixo”, disse Abdel Rahman Abu Zeid, porta-voz dos manifestantes que acampam na Praça Tahrir, no Cairo. Desde o dia 8, os manifestantes voltaram em massa à histórica Praça.

Centenas de milhares se concentraram por alguns dias para protestar contra a incapacidade do Conselho para encaminhar soluções para as principais reclamações da revolução. “Se não podem atender as demandas, devem renunciar”, disse a Coalizão Juvenil Revolucionária, integrada por várias organizações que tiveram um papel importante na revolta do começo do ano. “O povo egípcio representa a única fonte de autoridade, a concede e pode retirá-la”, acrescentou. O CSFA governa o país desde a partida de Mubarak em fevereiro, após 18 dias de protestos.

Os manifestantes querem um imediato fim do uso da força para dispersar atividades de rua. Centenas de pessoas foram feridas no mês passado, quando a polícia disparou balas de borracha e lançou gás lacrimogéneo para dissolver um protesto no Cairo, feito por familiares das pessoas mortas no começo do ano. “A dura agressão, como não se via desde os dias da revolução, enfureceu a população”, disse Abu Zeid.

Eles também querem que os funcionários do regime anterior sejam rapidamente processados, em especial Mubarak e seus aliados mais próximos, bem como dos integrantes das forças de segurança implicadas nos assassinatos de civis. “Ninguém vê Mubarak há semanas. Nem mesmo sabemos se está preso”, disse Sherif Mekawi, um dos líderes do liberal Partido al-Ghad. “Também disseram que processaram o ex-ministro do Interior, mas ninguém o viu nos últimos tempos”, acrescentou à IPS.

Um tribunal egípcio determinou no começo deste mês que três ex-ministros do regime anterior, e muito próximos de Mubarak, eram inocentes da acusação de corrupção. No dia seguinte, um tribunal da cidade de Suez permitiu o pagamento de fiança para sete policiais acusados de participarem da morte de manifestantes. “As decisões judiciais avivaram o mal-estar da opinião pública e levou as pessoas novamente à praça Tahri, onde expressaram seu crescente descontentamento”, disse Mekawi.

Outra reclamação dos manifestantes é que se deixe de julgar civis em tribunais militares, uma prática comum no regime passado. Desde a revolução, centenas de jovens receberam penas de prisão, alguns de até cinco anos. “Os únicos processados em tribunais militares são manifestantes, quando ex-funcionários do regime é que deveriam ser julgados”, lamentou Mekawi. Em plena revolução, as Forças Armadas do Egito foram elogiadas pela população, pois claramente se puseram do lado dos manifestantes.

O slogan “o povo e o exército são um só” foi repetido muitas vezes nas manifestações. No entanto, diante do não atendimento das principais reclamações, o sentimento de camaradagem esfriou. “As pessoas não sentem uma mudança verdadeira”, disse Khaled Mohammad, estudante universitário de 26 anos, que teve um papel ativo nas manifestações da Praça Tahrir. “Sentimos que trocamos um Mubarak por 18 Mubaraks”, disse à IPS referindo-se à quantidade de integrantes do CSFA.

Agora, as frases que se ouve são “abaixo o marechal de campo”, em alusão ao presidente do CSFA, Mohammad Tantawi, que durante anos foi ministro da Defesa. “Antes, víamos Tantawi como protetor da revolução, mas, seis meses depois, parece governar o país com a mesma característica autocrática de Mubarak”, disse Mohammad. Os manifestantes agora querem que o conselho militar seja substituído por um civil, que sejam eliminados os governantes do regime de Mubarak e se “purgue” a justiça e a mídia de remanescentes do período anterior. “Se o CSFA quer recuperar a confiança da população deve atender as reclamações”, insistiu Abu Zeid.

O conselho divulgou no dia 12 um duro comunicado, pouco comum por seu tom, destacando que rechaça qualquer tentativa de “tomada” do poder. Também declarou que não renunciará ao seu papel de governante até a realização das eleições parlamentares no final deste ano e alertou os manifestantes a não interferirem no funcionamento do Estado e de suas instituições. “O conselho ameaçou de forma tácita dispersar os protestos à força. Foi inesperado e totalmente inaceitável para os manifestantes”, disse Abu Zeid.

O primeiro-ministro, Essam Sharaf, anunciou algumas medidas para tentar aplacar o mal estar popular. No dia 13 deste mês, destituiu mais de 500 policiais acusados de participarem da morte de manifestantes no começo do ano. Também prometeu realizar algumas mudanças no gabinete, remover todos os governadores da época de Mubarak e transmitir pela televisão os julgamentos de ex-funcionários do regime. Nesse mesmo dia, Sharaf aceitou a renúncia do primeiro-ministro adjunto, Yehia al-Gamal.

No dia 28, o chanceler, Mohammad al-Orabi, designado pelo CSFA, também apresentou sua demissão. Mas as medidas não acalmaram os manifestantes. “São ações cosméticas”, disse Abu Zeid. “Sharaf demorou quatro meses para tomar medidas simples e sob pressão popular. Perdeu toda credibilidade. Respeitamos as forças armadas do Egito enquanto instituição e também o CSFA, mas só se atender as aspirações populares”, ressaltou. Organizações sociais convocaram para hoje outra manifestação do milhão de homens, como a de fevereiro na Praça Tahrir, em apoio às suas demandas.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A elite que faz do racismo seu entretenimento


Com a luta pela igualdade racial enfraquecida desde os grandes centros até a periferia, devido a submissão das entidades responsáveis pela defesa dos negros aos interesses eleitoreiros dos barões dos Royalties, é de se entender porque alguns porta vozes dos racistas da elite emburrecida da Região dos Lagos se assanharam em desconstruir a imagem da negritude e os tantos séculos de luta pelos seus direitos.

(Registro antigo de um escravo descansando após uma sessão de chibatadas.)

Há cerca de dois meses, o diretor do Teatro Municipal de Cabo Frio, o psicopedagogo teatrólogo sr Anderson Macleyves escreveu um texto racista depreciando a imagem da mulher negra, da política de cotas e as lutas pela igualdade racial, além de colocar em dúvida a idoneidade dos movimentos da negritude.

Nesse texto difuso, sem profundidade e um tanto hilário, o psicopedagogo teatrólogo acusa o próprio negro de ser racista, talvez em uma tentativa de justificar o racismo contido no texto.
Link(Se tiver estômago forte, confira o texto clicando aqui)
Há quem diga que Macleyves acendeu um pavio e está "fazendo escola" permitindo que outros grupos da elite (ou os que cicirandeiam nos playgrounds dos ricos e precisam aparecer de alguma forma para agradar seus patrões racistas) se motivem a explicitar racismo e ódio contra os negros.

Esses tipos de racistsa são como atores que se travestem de acordo com o momento para agradar ao que parecer mais conveniente.


Seguindo na prática o mesmo mal exemplo didático do Macleyves, o Portinho Boemio, uma espécie de bar boate em Cabo Frio voltado para a classe média alta, foi palco de um ato de racismo protagonizado pelo vocalista de uma banda de rock chamado Vinni Xii. O vocalista, em um ato no mínimo infeliz, se pintou de tinta preta para caricaturar a imagem do negro ao som do reggae. (clique aqui e confira)

Link"Eu porém vos digo" que o sr Macleyves não iniciou esse processo de racismo publicitado. O psicopedagogo teatrólogo diretor do Teatro Municipal de Cabo Frio tão somente publicitou o pensamento reacionário da elite emburrecida cabofriense.

Uma elite que, enriquecida no suga-suga dos Royalties, não se conforma com nenhuma ascensão do negro na sociedade. Quer seja em empregos de maiores salários, na política ou nas universidades (basta saber porquê ainda há universidades que não aceitam o ProUni ou a política de cotas), nos direitos a saúde de qualidade ou educação de base justa.

Uma elite que diante desses atos absurdos de racismo vê tudo como se fosse entretenimento. Como se dissessem aos seus botões: "São apenas jovens querendo se expressar" - "Isso é fase, depois passa".

Uma elite que ao mesmo tempo em que se recusa a aceitar a existência de flanelinhas nas ruas, privatiza o estacionamento público na surdina.

Diante dessa submissão ao capital, por parte das entidades e do poder público, só nos resta esperar um levante popular independente de prefeitos, barões dos royalties ou da iniciativa privada.

Um levante que possa trazer a tona a discussão sobre igualdade racial e as consequências das décadas de procrastinação por parte dos expoentes na luta na Região dos Lagos. Uma nova frente de militância que tenha como alvo a mudança do quadro deplorável que está o mandato representativo e o fim do trabalho escravo perpetrado por empreiteiras e supermercados.

Um levante popular que tenha orgulho de se reunir nos quilombos e não em teatros.





Texto escrito por Clovis Bate Bola

terça-feira, 19 de julho de 2011

Filme sobre poeta Solano Trindade estreia no final de julho em Caxias

A poética e a vida de Solano Trindade, o “Poeta do povo”, vai invadir a grande tela no próximo dia 27/07. Com lançamento previsto para as 20h, no teatro Raul Cortez, em Duque de Caxias, o filme “O Vento Forte do Levante” é mais uma contribuição do circuito alternativo de cinema para a difusão da cultura brasileira. A obra tem pré-estreia marcada para 24/07, em Embu das Artes - São Paulo, cidade em que Solano também viveu e onde mora parte de sua família.

Tendo como locações diversos lugares na cidade de Embu das Artes, no município do Rio de Janeiro e em Duque de Caxias, em especial a igreja Nossa Senhora do Pilar, o documentário é resultado de um trabalho de três anos do cineasta, historiador e poeta Rodrigo Dutra e sua equipe. “Foram três anos entrevistando, pesquisando e buscando parcerias. Muitas vezes achei que esse filme não ia sair, mas agora que está pronto fico com a sensação de página virada. Que venha o próximo!”, comemora Rodrigo.

O filme conta com a participação especial do bisneto de Solano, Zinho Trindade, que brinda o telespectador com intervenções poéticas. “Solano deixou plantada belas sementes. Na família Trindade todo mundo é artista. Em especial, me encantei por Raquel Trindade (filha do poeta), que me cedeu muitas fotografias e um local para ficar durante a produção. Os demais familiares também me ajudaram muito nessa busca de tentar entender o universo boemio-político-poético do ‘Poeta do povo’”, conta Dutra.

Para os mais ansiosos, Rodrigo adianta que a obra é bastante crítica quanto ao período histórico em que o poeta viveu, suas prisões, sua arte e sua relação familiar.

A estreia será durante sessão especial do premiado cineclube caxiense Mate com Angu. O filme conta com o apoio do Arquivo Nacional, do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, do Centro de Referência Patrimonial e Histórico de Duque de Caxias, do Núcleo de Identidade Brasileira e História Contemporânea/Uerj e do portal Baixada Fácil.

Sobre Solano Trindade
Poeta, folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante, Francisco Solano Trindade completaria 103 no dia 24 de julho deste ano, se estivesse vivo. Nascido em Pernambuco, o “Poeta do Povo” morou em vários estados brasileiros, entre eles o Rio de Janeiro. Em Duque de Caxias, entre as décadas de 40 e 50, o poeta negro sentiu na pele as dificuldades da classe proletária. Para chegar ao Centro do Rio, ele utilizava o Trem da Leopoldina, que imortalizou em seu poema “Tem gente com fome”. Em São Paulo, Solano fundou a feira de Embu das Artes, onde desenvolveu intensa atividade cultural voltada para o folclore e para a denúncia do racismo. Ainda em Embu, sua filha Raquel criou o Teatro Popular Solano Trindade e, juntamente com ela, netos e bisnetos do artista cuidam para que sua memória continue viva. No Recife, uma estátua de Solano em tamanho natural, feita pelo escultor Demétrio, encontra-se no Pátio de São Pedro. Em Caxias, uma biblioteca comunitária no bairro Cangulo leva o seu nome. Solano está presente em nomes de escolas, movimentos sociais e ruas brasileiras. Mas, apesar de todas essas homenagens, o escritor ainda é pouco lembrado pela imprensa e historiadores oficiais.

Serviço:

ESTREIA DO DOCUMENTÁRIO “VENTO FORTE DO LEVANTE”
Data: 27/07/2011
Local: Teatro Raul Cortez - Praça Pacificador – Centro - Duque de Caxias
Horário : 20h
Entrada: Franca

PRÉ-ESTREIA
Data: 24/07
Local: Teatro Popular Solano Trindade - Av. São Paulo, 100 – Centro – Embu das Artes - SP
Horário : 20h
Entrada: Franca

FICHA TÉCNICA
Direção, edição e pesquisa: Rodrigo Dutra
Cinegrafismo: Guilherme Zani, Márcio Bertoni, Pablo Pablo
Produção: Rodrigo Dutra, Antonio Carlos, AnguTV!
Trilha original: Michael Sexauer
Música Tema: Luciana Savina
Voz Over: Godot Quincas
Intervenção poética: Zinho Trindade
Ator: Amenduim Duim
Co-Produção: CRPH-BF, Nibrach, Biblioteca Comunitária Solano Trindade

domingo, 17 de julho de 2011

Felipe Além - Documentário de um Anti - Herói. Download Gratuito

Direto de Bacaxá para o mundo, Felipe Além lança seu primeiro álbum entitulado O Documentário de um Anti Herói

Também conhecido como Don Cabana, Felipe Além    é um MC do Rio de Janeiro e um dos fundadores  do selo musical Faixa   de Gazah. Nascido em 1985 no Brasil, Rio de  Janeiro é filho de pais   adotivos e conheceu o hip hop envolta dos anos 90.  Aos nove anos de   idade se mudou para os E.U.A com seus pais e na  adolescência começou a   atuar na cena do hip hop participando de  batalhas e das mixtapes  locais  de Massachusetts.


Clipe filmado no centro de Bacaxá
De    volta ao seu país de origem em 2005, conheceu o movimento juventude    negra em Cabo frio, continuando suas produções e fazendo shows com    outros artistas como o Bandeira Negra representando o interior do Rio    em todos os shows com as suas letras politizada e performance    emocionantes .
Hoje com 25 anos Felipe Além está lançando seu primeiro álbum                            O Documentário de um Anti Herói no selo Faixa de Gazah produzido em parceria com Davi Baeta.
O seu primeiro single Nas Ruas    foi extremamente bem recebido na cena do underground, nas ruas e nos    blogs. A sua letra afiada irreverente e a sua habilidade de mudar de    flow sem perder a jinga sem duvida nenhuma Felipe Além é a cara da nova    geração MCs que vieram para ficar.

sábado, 16 de julho de 2011

Dica de como ficar rico realizando uma Expo(camelô)Gospel


Há dois anos atrás eu postei um "tutorial ensinando" como realizar uma Expo(camelô) Gospel e ganhar muito dinheiro se aproveitando da fé e da simplicidade do povo evangélico. A postagem foi muito bem comentada tanto informação apurada quanto a metodologia aplicada pelos famosos "empreendedores" da Fé no Estado.

Como já se passaram dois anos, vejo que há necessidade de atualizar as informações quanto a metodologia pilantresca gospel utilizada por estes estelionatários da fé, como forma de conscientizar o povo quanto aos detalhes que não são informados no palco e muito menos nas rodas de orações de "pastores". Detalhes que fazem toda a diferença na conta bancária de muitos aproveitadores profissionais da fé.

Olhando este cenário, estarei, com ajuda de alguns amigos blogueiros, fazendo um UPGRADE na metodologia usada para aplicar os velhos golpes dos eventos Gospels responsáveis pela troca de carro zero de muito pastor charlatão por aí.

Lembrando que este "tutorial" foi inspirado no que vi sendo feito no meio gospel por mais de dez anos. É uma dica para você que deseja ganhar dinheiro realizando uma exposição mesmo não tendo vergonha na cara, nenhum temor de Deus, nenhum trocado no bolso etão pouco sabendo realizar eventos. Ou seja, se você é mal caráter, ladrão ou 171, não precisa vender sua mãe. Esse tutorial é para você.

Introdução:
Você vai precisar ter a natureza do patriarca Jacó. Não pode ser Israel, tem que se Jacó. Se você for da natureza de Israel, desconsidere essa matéria na sua vida. Se for Jacó, somente tome cuidado com o Anjo.

1.0
Você precisará estar com o pires na mão diante da prefeitura. Isso mesmo, como um mendigo, fácil de ser comprado, livre de impostos e ideologias. Leia bem, eu disse livre de Ideologias e não Teologias.

2.0
Esteja pronto para ser uma alternativa para prefeito diante de uma situação política desfavorável a política do governo. Sim, porque o prefeito irá te procurar para realizar o projeto que outros tentaram e não conseguiram por não se "encaixarem no perfil".

3.0
Você irá precisar ter cara-de-pau. Do mesmo jeito que Jacó, sendo usurpador, pegou o que era do seu irmão Esaú, você precisará fazer com outro irmão, no seu caso, em larga escala:
Pegar o projeto dele (expo gospel), plagiar, diminuir em 80% o que está previsto e executar o restante dos 20% embolsando o resto.

4.0
Como você é da natureza de Jacó e não sabe fazer muita coisa a não ser usar fantasias, ter várias esposas e pegar o que é dos outros, terá de cercar-se de outros da mesma natureza. Mas que vejam em ti a possibilidade de lucro constante, do contrário o feitiço se voltará contra "o feiticeiro" e, como são da mesma natureza sua, irão usurpar o que e teu. Ou melhor, o que não é teu. Convoque outros usurpadores de bençãos e coloque-os em áreas específicas da organização do evento. Cuidado com os artistas gospels, eles são perigosos se não forem bem pagos (Muito bem pagos), podem pôr tudo a perder em cima da hora. Já vi casos de reclamarem de "calote" em pleno palco.

5.0
O prefeito, como bom populista, irá "patrocinar" a maior parte do evento. Por isso você, da natureza de Jacó, não precisará gastar e assim seu lucro será certo. Peça que a prefeitura monte umas tendas, pra dizer que há uma exposição empresarial da cidade. Isso fará com que ganhe prestígio diante dos patrocinadores e do prefeito que deseja "gastar" despreocupado com a improbidade administrativa.

6.9
Ah, já ia me esquecendo.
Não precisa cobrar entrada. Isso é um erro comum que muitos dos organizadores gospel sérios continuamente praticam. Coloque a entrada franca para o evento. Isso fará com que o povo tenha uma idéia de que estão em uma Igreja, onde tudo é de livre acesso. O que na prática não é nem pagando (essa foi inspirada).

Se conseguir colocar algum grupo missionário falando, melhor ainda. Isso sensibilizará o povo para que gaste bastante, achando que estão contribuindo com Missões, mesmo que na prática isso nunca aconteça.

7.0
Agora vem a parte que o povo mais gosta. Munido das mesmas táticas dos imperadores romanos, você tera que dar pão e circo ao povo.
Busque dentre os seus comparsas, homens que tenham contatos com outros cantores e artistas(estrelas)gospel que estejam dispostos a cobrar mais do que necessário. Isso mesmo, cobrar mais do que necessário. E claro, levar menos do que o que está contratado. Assim você poderá levar o resto do dinheiro lavadinho pelas mãos de crentes tão pilantras quanto você. Geralmente, já há uma láia de artistas gospel instruídos nessa área. Não se esqueça de trazer o artista de maior sucesso e colocá-lo pra cantar no último dia ou no sábado. Pois isso fará com que seu evento seja bem visitado.

Funciona mais ou menos assim:

Você contrata um cantor, ele cobra 20 mil pra cantar e louvar (sabe-se lá a quem). Ae você o faz assinar 50 mil, ele leva 25 mil e você fica com os outros 25 mil pra dividir com seus comparsas e com o prefeito, lógico. Ou você achava que o prefeito iria ficar de mãos abanando. Viu como é magnífico as contas, irmão. Aleluia. Jesus multiplicou o pão, porque você não pode "multiplicar" a verba.

8.0
No dia da exposição, crie uma áurea de mistério e de risco. Deixe entender que está acontecendo lutas para que o evento não se realize. Coloque algumas igrejas para orar. Use algumas rádios, mas têm que pertencer a outros Jacó's. Coloque alguns irmãos para ajudar no evento, mesmo que eles cobrem um trocado, não custa nada eles ganharem 50 reais por noite, você irá faturar mais de 100mil sem trabalhar nada.
Contrate seguranças, experientes e fortemente armados, com armas escondidas no banco de trás dos carros. Um evento desses, debaixo de sabe lá que senhor, você precisará se certificar de que tudo ocorra aparentemente bem.

9.0
Com relação as tendas, coloque uma tenda de oração. Peça ao povo que traga fotos, retratos de entes queridos que necessitam de oração. Lembre-se, você não precisará orar, basta deixar que seus "voluntários" orem pelos pedidos. Afinal, a palavra de Deus não volta vazia, mesmo sendo desferida em um evento totalmente pecaminoso.
Coloque algumas tendas de camelôs em volta do parque. Isso dará uma idéia de exposição. Como a maioria nunca visitou uma exposição, seu evento irá agradar ao povo, na maioria jovens e adolescentes querendo paquerar em um evento sem repreensão dos líderes.

10.0
Para finalizar, ore ou peça a alguém para orar no palco. Depois, bem instruído nas artes da teologia da prosperidade, peça uma oferta para ajudar nos custos do evento. Diga que é a hora do povo ser abençoado, que é hora do povo ser desafiado ou que é dando que se recebe, todo esse blá blá blá da prosperidade. Como ninguém sabe que você roubou tanta verba pública para realizar esta exposição, não ficarão acanhados em te ajudar a aumentar a conta bancária.
Você é Jacó, lembra?



*Texto escrito por Clovis Bate Bola retirado do Bloco do Clovis

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A Casa Grande e a Senzala na terra dos Royalties

A Casa Grande e a Senzala ainda são realidades do cotidiano de algumas cidades da Região dos Lagos. É comum capitães do mato colocarem negros, no processo eleitoral, a "venda" para "senhores de engenho" quando visitam o "mercado de escravos" a procura do "exemplar mais sadio" para fazer a "oferta".

Um feito ainda mais trágico é ver que alguns negros, nascidos livres, se oferecem como "escravos" para os senhores barões prefeitáveis. Como se resolvessem fazer o processo inverso da liberdade em troca de portarias.

ENTENDENDO A DESCONSTRUÇÃO DA LUTA PELA IGUALDADE RACIAL

Negros colocados a venda - são os que hoje se oferecem como força eleitoral, mesmo que em detrimento do combate ao racismo.

Capitães do mato - são os que dizem encabeçar a luta pela igualdade racial, mas que na verdade só querem promoção pessoal e agradar aos seus senhores se mostrando fortes apoiadores do pleito de 2012.

Senhores de engenho - são os pré-candidatos que, detentores de forte esquema financeiro, circundam esses "mercados" a procura do melhor exemplar de negro capaz de alavancar sua votação no pleito de 2012.
Mercado de escravos - é um espaço de auto promoção para o pleito. Momentos em que a suposta "militância" se legitima como forte agente para o processo eleitoral. Nessas áreas, eles se banham com óleo para que suas curvas e músculos fiquem a mostra, como forma de provarem que estão "sadios".

Exemplar mais sadio
- seria um estágio em que o negro "militante" se mostra capaz de resultar em boa votação no processo eleitoral. Para isso, ele precisa estar rodeado de condições favoráveis e que lhes confiram bom estado de saúde no voto.

Oferta
- é dada pelo senhor de engenho a medida em que, no processo de compra dentro desses mercados de negros, ele se sinta convencido de que essa suposta "militância" não somente esteja no preço adequado, mas fiel à sua candidatura até o momento final das eleições.

Enquanto este cenário de completa submissão aos senhores barões do petróleo continuar a influenciar a luta pela igualdade racial, a população negra - que é maioria nas áreas de maior vulnerabilidade social - continuará a ser oprimida, ludibriada e, após o processo eleitoral, abandonada.

Antes que pense se tratar de um texto surreal, responda porquê os negros são maioria entre os que ganham piores salários, os que vivem em piores condições de saneamento básico, os que ocupam os cargos de menos capacitação profissional e os que menos têm assesso à saúde de qualidade. Coincidência da história ou há uma guerra de classes que tem colocado, com apoio dos capitães do mato, o negro às margens do processo de desenvolvimento econômico social?


*Texto escrito por Clovis Bate Bola. Retirado do Bloco do Clovis

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Egito: Praça Tahrir volta a encher-se de manifestantes

Egípcios exigem “punição para os assassinos dos mártires" e contestam lentidão das reformas em curso. Os militares no governo merecem duras criticas dos egípcios e são identificados como fazendo parte do antigo regime de Mubarak. A maioria dos grupos e partidos políticos, incluindo a Irmandade Muçulmana, apelam à mobilização para aquela que pode ter sido a maior manifestação desde a queda de Mubarak em 11 de fevereiro.

Milhares de egípcios reuniram-se sexta-feira na Praça Tahrir, no Cairo, e em cidades como Suez e Alexandria, para exigirem maior rapidez no processo de implementação de reformas e a condenação imediata dos ex-funcionários do governo de Hosni Mubarak responsáveis pela morte de centenas de manifestantes.

A maioria dos grupos e partidos políticos, incluindo a Irmandade Muçulmana, apelam à mobilização para aquela que pode ter sido a maior manifestação desde a queda de Mubarak em 11 de fevereiro.

Vários manifestantes tecem duras críticas ao comandante militar, Mohamed Hussein Tantawi, que dirige o conselho militar desde a queda de Mubarak e que foi ministro da defesa do presidente durante dois anos.

"Queremos mudar tudo. O antigo regime corrompeu tudo. Queremos mudar o governo e os responsáveis, o comandante militar também", afirma um manifestante citado pela Al Jazeera.



sábado, 9 de julho de 2011

Crimes acidentais: a destruição de um continente

Em meados da década de 1880 uma força expedicionária italiana fez uma de suas periódicas incursões no nordeste da África. Sua permanência foi curta, mas teve conseqüências catastróficas. Os italianos trouxeram consigo cabeças de gado para sua alimentação; e essas cabeças de gado por sua vez trouxeram e legaram à África a Rinderpest, ou peste do gado. A doença se disseminou de forma avassaladora, primeiro pelo chamado Chifre da África e rapidamente por todo o continente. O morticínio é até hoje incalculável. O artigo é de Gilson Caroni Filho e Carlos Eduardo Alcântara Martins.

Todos sabem que o continente africano é o que paga o maior preço pela herança colonial e pela desorganização da produção agrícola provocada pelos complexos agroindustriais das potências européias.De acordo com o Informe sobre Metas do Desenvolvimento do Milênio, publicado em 2010, "entre os 36 países com índices de mortalidade infantil superiores a cem por cada cem mil habitantes, 34 estão na África Subsaariana

O legado deixado pelo colonialismo europeu foi extremamente pesado não apenas no que se refere à destruição da cultura tradicional e das reservas de fertilização do solo ou equilíbrio natural. Mas há histórias antigas que devem ser lembradas para que fiquem evidentes as múltiplas estratégias de dominação engendradas através da destruição ambiental. Na África, elas se entrelaçaram à ausência de industrialização, crescimento demográfico acelerado e deterioração das relações de trocas externas, acompanhadas não raro de bloqueios e manobras desestabilizadoras. A combinação levou o continente ao limiar de uma catástrofe alimentar sem precedentes.

Os fatos que passamos a narrar mostram a centralidade da questão ecológica e, obviamente, sua radicalidade ética. Experiências inovadoras, alternativas aos sistemas produtivos implantados pelas potências européias e, posteriormente pelo imperialismo estadunidense, devem ser implementadas. Mas se não há outro método senão o do erro e do acerto, a experiência acumulada já nos permite evitar a devastação provocada por crimes " acidentais". Relembrar é fundamental para a ação política.

No final do século 19 a África já tinha sido duramente atingida por séculos de tráfico de escravos e exploração de seus recursos naturais, notadamente os minerais. Mesmo assim, ainda existiam no continente sociedades prósperas e vigorosas, econômica e culturalmente.
Uma única e aparentemente irrelevante intervenção européia mudou esse quadro de forma abrupta, devastadora e irreversível.

Em meados da década de 1880 uma força expedicionária italiana fez uma de suas periódicas incursões no nordeste da África. Sua permanência foi curta, mas teve conseqüências catastróficas. Os italianos trouxeram consigo cabeças de gado para sua alimentação; e essas cabeças de gado por sua vez trouxeram e legaram à África a Rinderpest, ou peste do gado.

A Rinderpest é uma moléstia infecciosa de ruminantes, altamente contagiosa e virulenta, causada por um vírus, Tortor bovis. O vírus tem um período de incubação curto, de três a cinco dias. Os primeiros sintomas da doença são lassitude e inapetência, acompanhadas de febre de mais de 40 graus. Seguem-se supurações oculares, nasais e bucais, diarréia, perda de massa corporal, desidratação e desinteria, e finalmente sobrevêem, após não mais de duas semanas, prostração, coma e morte.

Originária das estepes da Ásia, a Rinderpest chegou à Europa no rastro das invasões de povos como os mongóis. Após vários surtos epidêmicos, a doença se tornou endêmica em algumas regiões da Europa; e, como freqüentemente acontece com endemias, ocorreu um processo de seleção natural pelo qual os indivíduos naturalmente resistentes sobreviviam e se reproduziam, e seus descendentes, ou parte deles, possuíam imunidade parcial ou tolerância. Eram infectados mas não desenvolviam a doença, tornando-se assim portadores e transmissores assintomáticos.

Mas até então a Rinderpest era totalmente inexistente na África sub-saariana, possivelmente porque os camelos, os únicos animais a cruzar o deserto, não eram suscetíveis à moléstia. E portanto nenhuma espécie nativa era dotada de qualquer defesa imunológica contra a doença.

Sem a barreira protetora do deserto, a Rinderpest se disseminou de forma avassaladora, primeiro pelo chamado Chifre da África e rapidamente por todo o continente. Em 1887 a "peste do gado" surgiu na Eritréia, local da invasão italiana, e em menos de um ano havia se espalhado por toda a Etiópia. Dali seguiu dois caminhos. Para o oeste, através do Sudão e do Chade, e em cinco anos chegou ao Atlântico. Para o sul, através do Quênia e de Tanganica, e dali penetrando no centro do continente.

Antes do final do século 19 a epidemia tinha chegado à África do Sul, apesar das tentativas pelas autoridades das então ainda incipientes colônias inglesas ali já estabelecidas de impedir sua passagem erguendo uma barreira sanitária ao longo de 1.500 quilômetros, e havia dizimado quase todo o gado da região. E destruído, por onde passou, as sociedades nativas.

A doença não afeta seres humanos, mas aquelas sociedades tiveram suas bases destroçadas. Os pastores e criadores perderam seus rebanhos. Os agricultores ficaram privados dos animais de tração para seus arados e para as rodas de água que serviam para irrigar seus campos. E os caçadores viram desaparecer suas presas, pois a Rinderpest ataca indiscriminadamente espécies domésticas e selvagens.

O morticínio é até hoje incalculável. Pela fome, e pelas epidemias oportunistas que se instalaram aproveitando o quadro de subnutrição generalizada. E também pelo impacto psicológico. Tribos como os Masai, celebrados como prósperos criadores de gado e bravos guerreiros, viram toda sua estrutura social desabar da noite para o dia e se reduziram a pedintes, implorando por comida às caravanas que cruzavam seu território. Os Fulani, outra tribo antes rica e poderosa, perderam todo seu gado e, incapazes de aceitar o flagelo que os havia acometido, se auto-destruíram quase que à extinção matando suas próprias famílias e se suicidando em massa.

Para as potências coloniais européias a Rinderpest foi uma benção. Ao avançarem maciçamente sobre a África no final do século 19 e no começo do século 20 encontraram uma população empobrecida e assolada por doenças, drasticamente reduzida, em alguns casos a menos de 10% do que tinha sido uma ou duas décadas atrás, e incapaz de oferecer qualquer resistência significativa aos invasores. Poucas, se alguma, conquistas coloniais terão sido tão fáceis quanto a da África pós-Rinderpest.

Mas a peste do gado teve outra consequência: mudou a própria ecologia do continente. Até então, as grandes manadas que ocupavam as campinas africanas limitavam o crescimento da vegetação, tanto pelo pasto quanto por sua presença física. Com o desaparecimento dessas manadas, as planícies foram tomadas pelas gramíneas, que cresciam sem qualquer fator limitador, e a vegetação arbórea e arbustífera se espalhou por vastas áreas de florestas e cerrados.

Esse ambiente se mostrou propício à proliferação da mosca tsé-tsé, um grupo de insetos hematófagos do gênero Glossina que infesta tanto animais como seres humanos, e é o transmissor do parasita causador da trepanossomose conhecida como "doença do sono" (outra espécie de trepanossoma é causador da Doença de Chagas). A doença é caracterizada por febre e inflamação das glândulas linfáticas, seguidas, quando ocorre o comprometimento da medula espinhal e do cérebro, por profunda letargia (daí seu nome) e, numa alta proporção de casos, de morte.

De início a Rinderpest também afetou a mosca tsé-tsé negativamente, ao dizimar seus hospedeiros animais, domésticos e selvagens, e humanos. Mas a vegetação exuberante que passou a dominar as campinas forneceu o terreno ideal para que as moscas adultas depositassem suas larvas e assim procriassem em grande número, o que permitiu à tsé-tsé sobreviver. Quando a epidemia de Rinderpest cedeu, por falta de vítimas, as populações de animais selvagens, por não dependerem de humanos para sua subsistência, se recuperaram muito mais rápida e intensamente do que as de amimais domésticos e de humanos. E a mosca tsé-tsé pôde se espalhar pelos novos hospedeiros, livre de qualquer controle. Por sua vez, a infestação pela tsé-tsé e a doença de que é portadora impediram que os humanos e seu gado voltassem a ocupar as planícies como áreas de pasto. Nessas condições, a tsé-tsé passou a dominar o novo ambiente, incluindo o leste da África onde era inexistente, e regiões do sul do continente em que havia praticamente desaparecido.

A combinação de mudança ambiental e devastação colonial fez com que as sociedades já arrasadas pela peste do gado nunca pudessem se recuperar. Além disso, muitos dos conflitos tribais que hoje ocorrem são fruto não de rivalidades milenares, mas sim de disputas resultantes da Rinderpest, quer por comida no auge da epidemia quer pelas escassas áreas de pastoreio existentes no ambiente por ela criado, e agravadas pelas tensões geradas pelas fronteiras arbitrariamente riscadas no mapa pelas potências coloniais.

Ironicamente, uma outra iniciativa européia, esta bem intencionada, serviu para preservar as condições econômicas adversas. Os colonizadores supuseram, erroneamente, que o ambiente com o qual se depararam - vastas áreas de planícies cobertas por grama alta e ocupadas por animais selvagens, de cerrados e de florestas, todas infestadas pela mosca tsé-tsé e sem a presença do homem e de animais domésticos - era a "África primitiva"; e quando mais tarde surgiram os primeiros movimentos "conservacionistas" (alguns eivados de uma boa dose de hipocrisia) que levaram à criação dos parques nacionais e das reservas animais foi esse ambiente supostamente "primitivo" que se estabeleceu como modelo para a preservação, não raro com o beneplácito e a colaboração dos governos locais, desesperadamente necessitados das receitas em moeda forte provenientes do "turismo ecológico". Com isso, as áreas de "preservação" foram para sempre vedadas a qualquer atividade econômica, desprezando o fato de que, antes da Rinderpest, homem, gado e fauna selvagem dividiam equilibradamente o território, e de que esse equilíbrio era dinâmico, com ciclos de predominância dos diversos tipos de vegetação e formas de ocupação.

Isto criou ainda uma nova figura antes inexistente: o "poacher", ou caçador clandestino, tanto para obter alimento quanto para se apoderar, quase sempre para serem contrabandeados para países ricos, de despojos valiosos como chifres de rinoceronte ou patas de macacos. O "poacher" tornou-se, ao lado do ditador caricato, o grande vilão da África pós-colonial, a ser bravamente combatido pelo destemido "defensor da natureza", sejam naturalistas (muitos deles de fato idealistas e dedicados) sejam heróis de ficção - infalivelmente caucasianos. As "vozes d'África", como sempre, não se fazem ouvir.

A África que nos é mostrada hoje, nos documentários sobre a "África selvagem" e nos noticiários sobre as "guerras tribais", na ficção popular e nas biografias romanceadas "baseadas em fatos reais", é portanto em mais de um sentido uma artificialidade criada pela intervenção européia, direta e indireta, na ecologia do continente, incluída sua ecologia social. Um embuste reeditado pelos " Nat Geos" que se multiplicam nas telas.

(*) Gilson Caroni Filho é colunista da Carta Maior. Carlos Eduardo Alcântara Martins é economista.

(**) Versão atualizada de artigo publicado no site La Insignia



terça-feira, 5 de julho de 2011

15 milhões de pessoas correm risco de fome na Europa

Um regulamento aprovado pela Comissão Europeia corta 80% da ajuda alimentar para os pobres. A Federação Europeia dos Bancos Alimentares apela ao Conselho Europeu. Apelo foi apoiado por Conselho Internacional Geral de São Vicente de Paulo, Comunidade de Santo Egídio e Caritas Italiana. De acordo com as estatísticas europeias, 43 milhões de pessoas estão em risco de pobreza alimentar, ou seja não podem pagar uma refeição adequada a cada dois dias.

A Comissão Europeia aprovou no dia 10 de junho o Regulamento 562/2011, que reduz o programa europeu de ajuda alimentar de 500 milhões de euros para 113 milhões, um corte de 77,4%. A Federação Europeia dos Bancos Alimentares (FEBA) lançou um apelo ao Conselho Europeu de ministros da Agricultura a que chegue a um acordo sobre novas formas de financiamento.

Segundo a FEBA, em 2010 a sua rede “cobriu 40% dos alimentos fornecidos pelo Programa Europeu. Os 240 bancos alimentares distribuíram 360 mil toneladas de alimentos para associações caritativas e serviços sociais em 21 países europeus. Por sua vez, as organizações de caridade distribuíram alimentos para pessoas indigentes, tais como pacotes ou refeições. 51% desses suprimentos vieram do Programa Europeu, a outra parte de doações de empresas e colectas locais. Se nada for feito, esta decisão levará a uma grave crise”.

A FEBA lembra em comunicado que, de acordo com as estatísticas europeias, 43 milhões de pessoas estão em risco de pobreza alimentar, ou seja não podem pagar uma refeição adequada a cada dois dias.

A FEBA salientando que “o alimento é a base da vida e é um direito humano fundamental”, refere que “a aplicação desta decisão poderá reforçar a percepção de uma Europa tecnocrática que não se preocupa com o destino das pessoas”.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mercador de Escravos

Por Fábio Emecê

A última semana pode ser apontada como uma nova forma de ver e pensar o movimento negro de Cabo Frio? Vamos por partes, pois gostaria de tecer algumas considerações. Considerações de um militante que já percebeu em sua curta trajetória, a completa iniquidade de pretensos dirigentes que se colocam em um patamar de pessoas acimas de qualquer suspeita.
Pois bem, Terça-feira, dia 28 de junho, foi formada a Frente Afrodescendente de Cabo Frio no Charitas e Quarta-feira, dia 29 de junho, foi lançado o jornal Afro-Lagos. Duas ações consideradas importantes no seio da militância social. Um esforço válido de juntar militantes em prol de uma causa comum.
Adentrando nos detalhes o que vemos? Dois grupos que discordam fundamentalmente nas práticas de intervenção criando formas alternativas de atuação? Tentativa de se legitimar diante da sociedade já que a ONU estabeleceu 2011 como o ano do afrodescendente? Juntar velhos e novos militantes para uma renovação organizacional e sistemática da atuação étnica?
Quaisquer dos motivos citados poderiam encampar a formação da Frente e a criação do Jornal a não ser por vermos pessoas com suas representações de uma pessoa só, seus discursos insossos e suas lágrimas de crocodilo. Ah Fábio, pontuar isso é lugar comum. Tá bom, eu sei que é! Vamos focar outra coisa então.
Fatos relevantes para posicionamentos efetivos do militantes andam pipocando aos montes no Munícipio. Exemplos como o artigo do Anderson Macleyves e o artista que se pintou de preto, caricaturando a imagem do negro no evento Portinho Boêmio, deu pano para manga para a Frente ou o Jornal Afro-Lagos se colocarem como realmente relevantes no processo de afirmação e defesa do povo afrodescendente.
O que aconteceu de fato? O jornal Afro-Lagos foi lançado no Teatro Municipal, e em vez de uma menção ao triste artigo escrito pelo diretor do Teatro, pelo menos advertindo-o, foi feito agradecimentos pela cessão do espaço e pelo esforço de contribuição para a luta. Ah, sempre a luta. O Afro-Lagos poderia ser uma trincheira da impresa escrita para articulistas de cunho racista como o Macleyves né, mas pelo jeito, ele ganhará até coluna.
E o Portinho Boêmio. Além do fato de que no dia em que o artista racista se apresentou, representantes da Frente estavam dançando alegres e felizes, ainda se poderia cobrar uma dita representação da SUPIR cabofriense. Até agora nada e se aconteceu algo, por que não publicizar?
Sem contar um terceiro fato interessantíssimo.
Cabo Frio é um segundo Munícipio do Rio de Janeiro em relação ao trabalho escravo, e um dos responsáveis diretos pelo emprego de trabalho escravo na região, trabalhadores em sua maioria negros, são justamente as empreiteiras e quem é responsável por uma empreiteira do Munícipio? Um dos prefeitáveis que ao meu exemplo, compareceu aos dois eventos, porém, ao contrário de mim, fez campanha explicíta para as Eleições de 2012, aliás, se fazer campanha antecipada configura crime eleitoral, por que o prefeitável dono de empreiteira discursou apresentando propostas de governo?
Ai, ai, acho que minha análise parca dos fatos me posiciona de fato diante da Frente Afrodescente e do Jornal Afro-Lagos, ou seja, discutir em salas fechadas ou compilar textos em papel jornal não escondem o que pode estar por trás das ações.
Ações, prática, organicidade... Onde está? Diga-me, onde está? Só sei que eu tô lá, pode ir que eu tô lá...

domingo, 3 de julho de 2011

A rebeldia dos jovens que nos faz tanta falta

Emir Sader

Entre tantas frases estimulantes e provocadoras que as rebeliões populares no mundo árabe e agora na Europa, essencialmente protagonizada por jovens, fizeram ecoar pelo mundo afora, a que mais nos incomoda – com toda razão – é aquela que diz: “E quando os jovens saíram às ruas, todos os partidos pareceram velhos.”

Aí nos demos conta – se ainda não tínhamos nos dado – da imensa ausência da juventude na vida política brasileira. O fenômeno é ainda mais contrastante, porque temos governos com enorme apoio popular, que indiscutivelmente tornaram o Brasil um país melhor, menos injusto, elevaram nossa auto estima, resgataram o papel da política e do Estado.

Mas e os jovens nisso tudo? Onde estão? O que pensam do governo Lula e da sua indiscutível liderança? Por que se situaram muito mais com a Marina no primeiro turno do que com a Dilma (mesmo se tivessem votado, em grande medida, nesta no segundo turno, em parte por medo do retrocesso que significava o Serra)?

A idade considerada de juventude é caracterizada pela disponibilidade para os sonhos, as utopias, a rejeição do velho mundo, dos clichês, dos comportamentos vinculados à corrupção, da defesa mesquinha dos pequenos interesses privados. No Brasil tivemos a geração da resistência à ditadura e aquela da transição democrática, seguida pela que resistiu ao neoliberalismo dos anos 90 e que encontrou nos ideais do Fórum Social Mundial de construção do “outro mundo possível” seu espaço privilegiado.

Desde então dois movimentos concorreram para seu esgotamento: o FSM foi se esvaziando, controlado pelas ONGs, que se negaram à construção de alternativas, enquanto governos latino-americanos se puseram concretamente na construção de alternativas ao neoliberalismo; e os partidos de esquerda - incluídos os protagonistas destas novas alternativas na América Latina -, envelheceram, desgastaram suas imagens no tradicional jogo parlamentar e governamental, não souberam renovar-se e hoje estão totalmente distanciados da juventude.

Quando alguém desses partidos tradicionais – mesmo os de esquerda – falam de “politicas para a juventude”, mencionam escolas técnicas, possibilidades de emprego e outras medidas de caráter econômico-social, de cunho objetivo, sem se dar conta que jovem é subjetividade, é sonho, é desafio de assaltar o céu, de construir sociedades de liberdade, de luta pela emancipação de todos.

O governo brasileiro não aquilata os danos que causam a sua imagem diante dos jovens, episódios como a tolerância com a promiscuidade entre interesses privados e públicos de Palocci, ou ter e manter uma ministra da Cultura que, literalmente, odeia a internet, e corta assim qualquer possibilidade de diálogo com a juventude – além de todos os retrocessos nas políticas culturais, que tinham aberto canais concretos de trabalho com a juventude. Não aquilata como a falta de discurso e de diálogo com os jovens distancia o governo das novas gerações. (Com quantos grupos de pessoas da sociedade a Dilma já se reuniu e não se conhece grandes encontros com jovens, por exemplo?)

Perdendo conexão com os jovens, os partidos envelhecem, perdem importância, se burocratizam, buscam a população apenas nos processos eleitorais, perdem dinamismo, criatividade e capacidade de mobilização. E o governo se limita a medidas de caráter econômico e social – que beneficiam também aos jovens, mas nãos os tocam na sua especificidade de jovens. Até pouco tempo, as rádios comunitárias – uma das formas locais de expressão dos jovens das comunidades – não somente não eram incentivadas e apoiadas, como eram – e em parte ainda são – reprimidas.

A presença dos jovens na vida publica está em outro lugar, a que nem os partidos nem o governo chegam: as redes alternativas da internet, que convocaram as marchas da liberdade, da luta pelo direito das “pessoas diferenciadas” em Higienópolis, em São Paulo, nas mobilizações contra as distintas expressões da homofobia, e em tantas outras manifestações, que passam longe dos canais tradicionais dos partidos e do governo.

Mesmo um governo popular como o do Lula não conseguiu convocar idealmente a juventude para a construção do “outro mundo possível”. Um dos seus méritos foi o realismo, o pragmatismo com que conseguiu partir da herança recebida e avançar na construção de alternativas de politica social, de politica externa, de politicas sociais e outras. Os jovens, consultados, provavelmente estarão a favor dessas politicas.

Mas as mentes e os corações dos jovens estão prioritariamente em outros lugares: nas questões ecológicas (em que, mais além de ter razão ou não, o governo tem sistematicamente perdido o debate de idéias na opinião pública), nas liberdades de exercício da diversidade sexual, nas marchas da liberdade, na liberdade de expressão na internet, na descriminalização das drogas leves, nos temas culturais, entre outros temas, que estão longe das prioridades governamentais e partidárias.

Este governo e os partidos populares ainda tem uma oportunidade de retomar diálogos com os jovens, mas para isso tem assumir como prioritários temas como os ecológicos, os culturais, os das redes alternativas, os da libertação nos comportamentos – sexuais, de drogas, entre outros. Tem que se livrar dos estilos não transparentes de comportamento, não podem conciliar nem um minuto com atitudes que violam a ética publica, tem que falar aos jovens, mas acima de tudo ouvi-los, deixá-los falar. Com a consciência de que eles são o futuro do Brasil. Construiremos esse futuro com eles ou será um futuro triste, cinzento, sem a alegria e os sonhos da juventude brasileira.

sábado, 2 de julho de 2011

Marcha das Vadias ocorre no Rio; Rafinha Bastos é vaiado

Na internet, ele disse que toda mulher que reclama que foi estuprada é feia, e que o homem que cometeu o ato merecia um abraço, e não cadeia.
Cerca de 500 pessoas, segundo a Polícia Militar, participaram neste sábado da Marcha das Vadias na praia de Copacabana (zona sul do Rio). O humorista Rafinha Bastos, do programa "CQC", da TV Bandeirantes, foi vaiado por causa de seu comentário no Twitter sobre estupro.

Manifestantes realizam Marcha da Maconha em São Paulo

Na internet, ele disse que toda mulher que reclama que foi estuprada é feia, e que o homem que cometeu o ato merecia um abraço, e não cadeia. O humorista não estava na marcha.

De roupas curtas, lingeries à mostra, meia arrastão, flores nos cabelos e maquiagem forte, os manifestantes --homens e mulheres--, iniciaram o ato por volta das 15h30.

A Marcha das Vadias é um protesto bem-humorado contra a ideia de culpar as mulheres pela agressão que sofrem. "Nenhuma agressão sexual pode ser justificada pelas roupas, pelo comportamento ou pelo estilo de vida da pessoa agredida", diz Daniela Montper, 29, uma das organizadoras do evento.

Para ela, as vítimas sofrem um segundo estupro quando são acusadas de terem culpa pela violência. Segundo Daniela, feministas estão se mobilizando em todo o país para que a marcha aconteça anualmente, no mesmo dia, em diversas cidades. Até que a sociedade se conscientize de que "roupas, comportamento ou estilo de vida, nada justifica a violência".

Dezenas de homens que se intitulam vadios também acompanham a manifestação, muitos deles fantasiados de mulher. Grupos de teatro, artistas de rua e outros movimentos como o da Marcha da Maconha também acompanham a passeata.

Para o engenheiro Bruno Cava, 32, esta é uma forte crítica social com tom tropicalista. "Não ensinam os homens a não estuprar, mas ensinam às mulheres como não serem estupradas". O comentário remete à origem do movimento, que começou no Canadá em fevereiro de 2011 e ganha força pelo mundo.

A primeira edição foi feita por estudantes da universidade de Toronto contra a infeliz afirmação de um policial, em palestra sobre segurança no campus. Ele sugeriu que as estudantes evitassem se vestir como "vadias", para não serem vítimas de assédio sexual.

As declarações causaram revolta e geraram um grande movimento organizado na internet, que começou no início de abril com o protesto de Toronto e já aconteceu em mais de 20 cidades norte-americanas e australianas.

"Não é culpa dos nossos vestidos, salto alto, regatas, saias e afins que todos os dias mulheres são desrespeitadas e agredidas sexualmente, isso é culpa do machismo ainda muito presente na nossa sociedade. As mulheres do mundo estão se unindo!", diz a apresentação do evento no site "Slut Walk Toronto".

Já no movimento de São Paulo, a organizadora do evento, Madô Lopez, diz em seu blog que já foi insultada pelas roupas que usava, em cantadas e gracinhas feitas por homens.

"Chega de sermos recriminadas e discriminadas nas ruas porque usamos saias, leggings, regatas, vestidos justos, chega de sermos reprimidas e intimidadas porque somos mulheres, porque somos femininas e porque queremos nos sentir sensuais, bora pras ruas mulherada! Não é porque uso saia que sou puta!", escreve ela.

No site oficial da "Slut Walk", a organização diz que historicamente o termo slut (puta, vagabunda ou vadia, em português) tem conotação negativa e se tornou ferramenta de acusação grave de caráter.

"Nós estamos cansadas de sermos oprimidas pela palavra 'vagabunda'; de sermos julgadas por nossa sexualidade e de nos sentirmos inseguras como resultado disso. Ter o controle das nossas vidas sexuais não significa que nós estamos abertas à violência e ao abuso, mesmo que façamos sexo por prazer ou trabalho. Ninguém deveria comparar gostar de sexo com atrair abuso sexual." 
 
Foto: Alessandro Buzas/Folhapress
Fonte: DAMARIS GIULIANA-Folha.com