terça-feira, 29 de novembro de 2011

Somos um inimigo em potencial só por termos nascido negros: Dexter, rapper brasileiro

Condenado a 38 anos de prisão, afirma: “Já peguei uma arma e fui assaltar os playboy… Se a gente for puxar o fio da meada a gente vai chegar até a escravidão. Eu consegui entender essas coisas e sair disso através do rap”
23/11/2011

Gabriela Moncau e Júlio Delmanto,


O rapper Dexter - Foto: Gabriela Moncau
“É o que eu falo pra vocês: o rap salva”. Durante as horas que passou conversando com a gente em Campinas, São Paulo, Marcos Fernandes de Omena repetiu diversas vezes esta frase. De fato, o rap é fundamental nos 37 anos de vida de Marcos, cerca de um terço deles vividos atrás das grades. Ouvindo Racionais MC’s conheceu a política, o movimento negro, teve orgulho de sua cor e disposição de lutar pelo respeito a ela.
O Racionais MC’s, principal grupo de rap do Brasil, surgiu no final dos anos 1980 na periferia de São Paulo, trazendo um discurso agressivo contra a opressão às populações marginalizadas. Quem conhece um pouco de hip hop no Brasil certamente tem referência nos nomes de Ice Blue, KL Jay, Edi Rock e Mano Brown. Não por acaso, o grupo foi a principal influência para Marcos, que pouco tempo depois de se envolver com a música, adotou seu “nome de guerra”, pelo qual todos o conhecem: Dexter.
Atrás de dinheiro para uma gravação, Dexter buscou “meios não convencionais” e acabou preso. Já havia cumprido o período de pena que lhe permitiria progredir para outro regime que não o fechado mas, sem saber desse direito, aproveitou a primeira oportunidade que teve para fugir. Voltou condenado a 38 anos de cadeia. Primeiro no grupo 509-E (número da cela que ocupava com o cantor Afro-X no Carandiru) depois em carreira solo, seguiu compondo e gravando, se tornando um dos principais nomes do rap nacional. Em 2009 lançou o disco Dexter e convidados – ao vivo, com participações de grandes nomes do hip hop brasileiro.
Atualmente em liberdade condicional, Dexter voltou a fazer shows e palestras. O rapper conversou com o Desinfomémonos sobre sua trajetória, suas posições políticas e o atual cenário da música brasileira.

Você pode começar contando da sua trajetória, onde você cresceu?
Nasci no dia 17 de agosto de 1973, em São Paulo e fui criado nas ruas do Jardim Calux, em São Bernardo do Campo. Minha mãe biológica não teve condições de me criar e aos 13 dias de vida me entregou para uma mulher, Dona Marina Maria de Omena, minha mãe de fato, porque mãe é aquela que cria, não aquela que põe no mundo. Vivia nas ruas de terra, nos campinhos do Jardim Calux, um morro que desde aquela época era bastante respeitado. Minha mãe já tinha duas filhas e era viúva quando me pegou pra criar. Ela dava uma segurada em mim, na época tinha uns bailes muito da hora, baile de preto, da função. Ela tinha medo, por conta da malandragem. Ela queria que eu vivesse uma vida padronizada. Acho que é o sonho de toda mãe da periferia, que o filho simplesmente estude, vire um operário padrão, não vire ladrão. Quando o 509-E estourou eu consegui ganhar um dinheiro e a gente fez uma casinha melhor, um sobrado para minha mãe morar.

E a sua adolescência?
No Calux, vi muitos amigos partirem pro crime e não voltarem mais. Vi muitos amigos infelizmente morrerem com essa política retardada que existe dentro da periferia. Essa coisa enraizada da droga, do álcool, e de você querer ser alguém dentro da quebrada. Querer ter um carro, uma mina da hora. Isso muitas vezes o sistema não te oferece, o salário que a gente ganha não permite. Muitos caras não suportam não conseguir esses sonhos de consumo, e vão buscar por outros caminhos, se revoltam. Há muito tempo percebi que a televisão é a pior doutrinadora que nós temos. E a Igreja Católica também, claro. Mas cada um de nós tem uma TV dentro de casa, não um padre. Nunca vi ninguém falar que foi roubar pra comprar os livros, que são caros também, entendeu?

Quais os fatores que geram essa revolta?
São vários os problemas de um cara que mora dentro da favela. Se ele não joga bola, se ele não faz um samba, quem é esse cara? O estudo é precário. Aí o pretinho vai na escola e ouve que o Zumbi [líder negro que fundou o quilombo Palmares, um dos maiores focos de resistência negra da época da escravidão no Brasil] foi assassinado por Domingos Jorge Velho e ponto. O branquinho aprende que na história existiram heróis e sente orgulho de ser branco, mas não sente orgulho de ser pobre. Então é uma confusão de sentimentos. Eu também era um cara revoltado, às vezes é até inconsciente. Já peguei numa arma e fui assaltar os playboy. Mas eu não fui porque eu tinha consciência da minha revolta. Só tempos depois eu entendi o que gera isso. O fato de você ser pobre e ele ter uma condição melhor. Se a gente for puxar o fio da meada a gente vai chegar até a escravidão. O que meu povo herdou? Os pretos e descendentes dos mesmos? Eu consegui entender essas coisas e sair disso através do rap, que é a música do povo, através de outros jovens que entenderam mais cedo que eu, passaram pra mim e eu abracei, falei: “tá aqui minha válvula de escape”.

Como era a sua cabeça quando jovem, vendo os seus amigos e conhecidos do bairro morrendo de graça?
Enquanto você é jovem você sabe que aquilo é uma rotina massacrante, mas não entende porque aquilo acontece, essa política de que a polícia entra na favela pra matar mesmo, que são pagos pra isso, autorizados. Eles têm que mostrar serviço pra sociedade. A gente é um inimigo em potencial, só pelo fato de ter nascido preto, de ser forte, de andar gingando na rua. Tô trabalhando dois paralelos, o social e o racial, que não estão separados. Vamo chegar no shopping aí nós dois, eu com dinheiro e você sem. Você acha que o segurança vai ficar de olho em quem? Em você? Vai ficar em mim. O preto no Brasil é sinônimo de malandragem, de crime, de assalto.
Essas coisas a gente nem sabe antes de ler, se informar, estudar, andar com uma rapaziada com uma mentalidade da hora. Eu sinto muito orgulho de cantar rap, o rap é o melhor amigo que eu tenho, já salvou muitas vidas, já ajudou muita gente a entender as coisas, a ter auto-estima, a discutir de igual pra igual. Hoje você vê meu povo fazendo palestra em faculdade, discutindo com os boy de igual pra igual e até mais, ensinando pros caras como é que as coisas funcionam. Isso é lindo.

Quando você começou a se interessar pelo rap?
A batida do rap acho que em 1984, 1985, eu já ouvia os Metralhas, que cantavam o Rap da abolição e tal. Acho que é coisa de preto mesmo, descendente de africano, a batida do som é outra fita, contagia. Quando eu ouvi o rap, que é derivado do funk, do soul, do blues e tal, aí eu endoidei, as batidas parecem o pulsar do coração. É aquele lance, os caras já tinham a ideia, já sabiam o que era ser preto no Brasil, e a gente ainda não entendia. Decidi fazer rap uns cinco anos depois, em 1990, quando eu ouvi Pânico na Zona Sul, do Racionais. Só que quando eu ouvi essa música foi como se acendesse uma lâmpada: aí o vírus da revolução entrou na minha veia. Comecei a fazer rap no outro dia!

Atualmente em regime semi-aberto, Dexter trabalha durante o dia
numa loja de roupas e discos em Campinas - Foto: Gabriela Moncau
O que você tava lendo na época?
Logo de cara fui ler a autobiografia do Martin Luther King. Hoje eu vejo uns caras fazendo rap de qualquer jeito, eu acho um puta dum desrespeito. Falando de ouro, de carro, de tênis, de mulher. Não dá. As pessoas que se mantém hoje no rap, como linha de frente, a maioria é da minha época, aprenderam a fazer rap dessa forma: tiveram que ler, estudar, buscar o autoconhecimento. Tempos depois que eu comecei a fazer rap, eu ouvi os Racionais cantando “Precisamos de um líder com crédito popular, como Malcolm X em outros tempos foi na América, que seja negro até os ossos, um dos nossos”. Mas espera aí, quem é Malcolm X? Aí fui atrás. Quando eu li Malcolm X, meu Deus, me senti útil, me senti muito bem. Veio o filme “Malcolm X”, fui lá assistir, o cinema lotado: os caras do movimento negro, os caras do rap, todo mundo junto, fiquei feliz, pensei “tamo junto, tamo nos organizando”. Nem o movimento negro conseguiu isso, o rap é foda. Acho que o movimento negro conseguiu reuniões, mas o rap transcendeu, conseguiu trazer quem precisava vir: a juventude. Quando a juventude tá junto ninguém segura. A música tem esse poder, o poder da transformação.

Então o rap te instigou a ir atrás de um conhecimento que a escola não tinha estimulado?
Exatamente. Nem a política da escola alcançou o que o rap deu pra gente. Vem um intelectual pra mim e fala “Dexter, você tem que ler Malcolm X”. Mas aí, o intelectual vai falar o que é que eu tenho que ler? Aí chega um parceiro e fala: “Negão, eu li lá e foi foda, você tem que ler”, imediatamente passo a me interessar. Percebe a diferença? É a identificação. Foi isso que aconteceu com o rap. O rap é pra mim um grande professor.

Você já era o Dexter?
Já era o Dexter. Logo quando eu li a autobiografia do Martin Luther King eu descobri que um dos filhos dele chama-se Dexter. Fui ao dicionário e vi que Dexter significa destro, de direito, correto, passa pelo esperto, sagaz. E me identifiquei com o nome porque pra sobreviver na periferia você tem que ser isso mesmo, senão você vai ser cobrado depois. Você tem que ser um cara ligeiro, porque a polícia está lá pra te exterminar. Aí quando eu li e assisti Malcolm X descobri que o X representa o desconhecido, e os caras do islã usam o X pra representar um sobrenome africano que eles não conhecem. Aí o X do Dexter também ganhou mais força. Com o passar do tempo ninguém mais me chamava de Marquinhos ou de Marcos.

Qual foi o primeiro trabalho do Dexter?
No final de 97 o grupo que eu fazia parte, Tribunal Popular, recebeu a proposta de gravar um single. Entramos em estúdio aí eu chamei o Edi Rock pra participar de uma música chamada De preto pra preto e o Brown pra produzir a Legítima Defesa. Logo em seguida a gravadora ficou sem o dinheiro pra pagar o estúdio. Eu falei “mano e agora? Tenho o Brown e o Edi Rock gravando com a gente, como vou perder essa oportunidade? Não posso!”. E aí eu fui buscar o dinheiro de uma forma não tão convencional. Foi quando eu fui preso. O disco acabou saindo, e eu continuei preso. Era janeiro de 98, e fiquei um ano sem rap, meio frustrado e tal. Graças a Deus, eu consegui fazer do pior o melhor. Um tempo depois comecei a fazer letras e tal. Eu sempre fui um cara que vivi ali, entre a linha do bem e do mal.

Cena do documentário Entre a luz e a sombra - Foto: Reprodução
Mas também o criem não é um caminho que você necessariamente condene, certo? Porque na música Como vai seu mundo quando você fala do crime, dá o conselho: “se tiver como, desista”…
Por que que eu falo “se tiver como”? Tem o cara que não quer estudar, não canta rap, não joga bola, não lê, não escreve, o que sobra prum cara desse? É pra ele que eu falo: “se tiver como”. Tem cara que não tem, eu tenho vários parceiros lá dentro que me falam: “Dexter, queria eu ter a oportunidade que você teve, irmão, que eu também abandonaria o crime. Mas infelizmente eu tô nele, não sei fazer outra coisa”. Ou seja, é um cara que tá condenado a morrer no crime. O rap não vai ter como mudar a vida de todo mundo.

Você podia contar um pouco do seu dia a dia na cadeia, como surgiu o 509-E. Nas suas letras você fala muito em liberdade…
A liberdade física dentro de uma prisão é 100% presente. Passado um tempo eu comecei a me intitular exilado e não preso. Passei a me identificar como um cara que foi afastado da família e dos amigos por um determinado tempo, mas que um dia vai voltar. E na prisão a recuperação por parte do sistema não existe, política de ressocialização não tem, tudo tem que ser iniciativa própria. Pouco se estuda, pouco se trabalha dentro de uma prisão, seres humanos são jogados dentro de um quadrado dois por dois e já era, se virem. Em algumas cadeias você convive com ratos, baratas, percevejos. Pra resumir: a cadeia não recupera ninguém, ela traz mais revolta, mais mágoa, mais tristeza.

E como foi continuar produzindo música lá dentro?
O que eu fiz foi pegar o que tinha de melhor e apresentar. Tive essa sorte, de poder mostrar do que eu era capaz, e me foi dada essa oportunidade, até mesmo pelo histórico da Casa de Detenção. Porque quando o 509-E explodiu já tinha um trabalho sendo desenvolvido ali dentro, “Talentos aprisionados”, por uma pessoa que trabalhava na época com teatro. No meio desse trabalho foi descoberto o 509-E, a gente teve uma abertura muito grande, foram 7 meses de saídas: shows, palestras em escolas e faculdades, trocando ideia com a molecada. Em 2003 o 509-E acabou porque o Afro-x foi pra rua e a gente já não encontrou motivos pra continuar juntos, eu tava falando de umas coisas, ele tava vivendo outras. Em 2004 eu começo a trabalhar o disco Exilado sim, preso não, foi um disco totalmente gravado dentro da prisão. O disco foi lançado em 2005, e em uma semana a gente vendeu 3 mil cópias.

Como avalia o rap hoje? Essa questão mesmo que você falou que é preciso respeitar o rap e que tem gente que às vezes não faz isso…
Tudo evoluiu né? E às vezes a evolução não é uma coisa muito boa. Acho que antes de você começar a falar de ouro, de carro, de mulheres, você tem que ter algumas coisas que são prioridades na vida de um ser humano. Por exemplo, às vezes o cara não tem nem seguro de saúde, nem casa pra morar e ele tá falando de carro e de ouro na música dele. Será que realmente faz parte do mundo dele isso daí? Acho que esse rap cumpre o mesmo papel que a televisão, te incentiva a ter coisas que você não tem. Esse rap consumista, rap glamoroso, rap de ostentação, pode te levar a caminhos diferentes do que aquele rap que eu conheci, que me incentivou a fazer outras coisas.

Parece muito influenciado pelo rap gringo né?
Parece não, é. Todo mundo quer ser 50 Cent. Só que a rapaziada esquece que o 50 Cent veio no Brasil e desprezou os brasileiros. Um fã subiu no palco, ele se assustou e empurrou o cara com violência, pediu pra trancar o camarim pra ele passar por trás. Isso aí é o rap americano, é o americano em si, os caras têm um lado sexista pra caralho, sei lá qual é que é a fita. E no Brasil a gente tá em outra parada, outra dimensão, outra caminhada.

Você que teve todo esse tempo preso, como diria que é a cabeça do preso para a política? Desacreditado? Revoltado? Tá a fim de participar?
Não existe uma política de ressocialização. E voto, preso não vota, né? A participação do preso na política é inexistente na verdade, porque não tem incentivo. Em 2002 quando o Lula foi entrar, era Serra (PSDB) e Lula (PT) [mesmos partidos que disputam a presidência este outubro de 2010]. Foi traçado um plano dentro das cadeias, de informação. Resumindo, se o Serra entrar ele é de extrema direita, só quer construir cadeia, nossa vida aqui vai piorar, enquanto o Lula não, ele é mais aberto, mais participativo, mais ser humano. Então houve um movimento muito grande de apoio ao Lula dentro do sistema, em 2002. Eu vi a força que a gente tem. Uma ideia, uma sementinha plantada, gerou bons frutos. Eu mesmo trabalhei nessa política, de ir de barraco em barraco [cela] trocando ideia com a rapaziada, explicando o que era a política daquele ano, a eleição.


Afro-X e Dexter em cena do documentário Entre a luz e a sombra
Foto: Reprodução
Então você fez campanha pro Lula?
Claro que eu fiz, eu acreditava e acredito no Lula. Acreditava que ele ia mudar algumas coisas, e realmente algumas coisas mudaram. Ele é um cara que veio do povo, que veio da minha quebrada também, de São Bernardo. Eu diria que o Lula é também Flor de Lótus – que é o título do meu novo CD, eu nunca tinha falado isso, hein? É uma planta, originária da Índia, que só nasce no lodo – e eles consideram a mais bonita de lá. Então acho que nós somos uma flor de lótus.

Esse período em que você esteve preso foi exatamente o da consolidação dos comandos dentro das cadeias. Você sentiu essa mudança?
Com certeza. Muita coisa mudou pra melhor, antigamente morria-se muito dentro da prisão, hoje não mais. Foi política implantada: “não morre mais ninguém”. Porque eu acho que os linhas de frente dessa disciplina acreditam que se somos seres humanos somos capazes de conversar pra resolver, de dialogar sem que alguém tenha que morrer e alguém tenha que matar. Acho válido, a vida é muito preciosa. Obviamente existem outras coisas a se considerar dentro da hierarquia do crime e tal. Às vezes sou tachado pela mídia como PCC, porque estou preso e fazendo rap. E eu não sou PCC, eu sou rapper.
Pra encerrar você podia falar algo sobre o papel da sua família durante esse período que passou preso.
Foi muito importante na minha ressocialização os familiares e os amigos. A minha esposa foi imprescindível pra minha retomada, até mesmo no rap. Família é imprescindível pro presidiário, se você é abandonado as perspectivas de coisas boas se tornam remotas.

Aos funkeiros e às funkeiras que (en)cantam a cidade carioca!

O funk carioca é hoje uma das maiores manifestações culturais de massa do Brasil e está diretamente relacionado aos estilos de vida e experiências da juventude de periferias e favelas. Trata-se de uma performance híbrida resultante de um intenso processo de apropriação, transformação, nacionalização e comodificação de ritmos da diáspora africana.

Considerando que as identidades são performances políticas de linguagem, este trabalho objetiva investigar como os atos de fala que definem os significados de raça, gênero e território constituem a identidade do funk – tanto da prática musical, quanto de seus sujeitos. Situado em um campo de estudos transdisciplinar, este estudo conjuga a análise lingüística e a interpretação etnográfica. Por meio de certa vivência nos bastidores do funk carioca, como também de um diálogo com os atos de fala encenados pelos artistas e pelas artistas de funk, mostro como essa prática musical propõe uma nova leitura sobre a cartografia social da cidade do Rio de Janeiro, que tanto desafia o racismo velado da sociedade brasileira, quanto reinventa novas identidades de raça e gênero.


Trecho tirado da tese "Funk-se quem quiser" no batidão negro da cidade carioca.

Drica Lopes

"Este texto é resultado de um trabalho de cinco anos. Porém, não posso dizer que ele é conseqüência, apenas, de um esforço individual. Muito pelo contrário, a minha pesquisa e o meu texto são o fruto de contribuições de diferentes pessoas que conheci nas mais distintas cidades em que vivi ao longo deste período. Pessoas que transformaram muitas idéias em semente plantada. É graças a elas que agora esta tese está aí para o que der e vier!"

Tese apresentada ao Curso de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Lingüística.

Baixe a Tese "Funk-se quem quiser" no batidão negro da cidade carioca

Autora: Adriana Carvalho Lopes (Drica Lopes)

Orientador: Prof. Dr. Kanavillil Rajagopalan

Unicamp - Instituto de Estudos da Linguagem/2010

Nota Pública sobre a ocupação policial da Rocinha

Nós, organizações da sociedade civil do Rio de Janeiro, manifestamos a todos nossa preocupação com a situação que a Rocinha enfrenta neste momento. Exigimos do Governo do Estado e do Governo Federal que garantam que a ocupação policial de amanhã seja feita com total respeito aos direitos dos moradores e de suas famílias.

Há cerca de um ano, durante a ação da polícia no Complexo do Alemão, com apoio e participação das Forças Armadas, diversos crimes e abusos foram praticados por agentes públicos, no exercício de suas funções. No entanto, governantes, parlamentares, meios de imprensa e outras entidades ignoraram as denúncias feitas por moradores e por organizações da sociedade civil, e comprovadas posteriormente com a investigação feita pela Polícia Federal. Ainda hoje, casos de violações de direitos cometidas por soldados do Exército têm sido documentados no Alemão.

Acreditamos que todas as favelas e comunidades pobres do Rio de Janeiro têm o direito a uma vida com segurança plena garantida pelo Estado. No entanto, a presença estatal, obviamente, deve ser feita com o respeito absoluto a todos os direitos dos cidadãos que sempre viveram na Rocinha, e que não podem ser tratados como criminosos.

Estaremos atentos e não vamos tolerar:

- invasão da casa de moradores sem mandado judicial;
- abordagem policial truculenta;
- agressões, espancamentos e execuções sumárias;
- prisões arbitrárias, feitas sem qualquer prova;
- extorsão e roubo feita por grupos de policiais criminosos.

Esperamos ainda que os meios de imprensa cumpram seu dever de fiscalização da atividade policial e façam uma cobertura que relate com fidelidade e equilíbrio o momento delicado pelo qual as famílias que moram na Rocinha passam, não omitindo as denúncias dos moradores nem baseando-se exclusivamente na versão das autoridades policiais, como infelizmente a maior parte dos veículos de comunicação procedeu por ocasião da ocupação dos Complexos do Alemão e da Penha.

Lembramos, por fim, que não acreditamos que a paz seja alcançada através da violência. Exigimos que a cultura da favela seja respeitada e que os direitos a educação, saúde, moradia, entre outros, sejam encarados como prioridade pelos governos.

As entidades e organizações abaixo assinadas estão atentas e comprometem-se a receber e dar ampla divulgação a todas as denúncias comprovadas, de quaisquer violações de direitos que venham a ser cometidas na planejada ocupação.

Apafunk
Visão da Favela Brasil
Instituto de Defensores dos Direitos Humanos – DDH
Movimento Direito para quem?
Justiça Global
CDDH Petrópolis
Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência
Jornal O Cidadão – Maré
TV Tagarela – Rocinha
Revista Vírus Planetário
Movimento Popular de Favelas
Rede Nacional de Jornalistas Populares – Renajorp

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Tem gente que sabe e tem gente que acha que sabe!

Cada um no seu quadrado. Ou seria cada um no seu círculo?



Por Caio Amorim da revista Vírus Planetário (clique aqui para conhecer a revista)

Charge+CabralHitler
“Comunidade que vive à vontade com mais liberdade tem mais pra colher. Pois alguns caminhos pra felicidade são paz, cultura e lazer. Comunidade que vive acuada, tomando porrada de todos os lados, fica mais longe da tal esperança, os menores vão crescendo todo revoltados. Não se combate crime organizado mandando blindado pra beco e viela, pois só vai gerar mais ira para aqueles que moram dentro da favela. Sou favelado e exijo respeito, são só meus direitos que eu peço aqui. Pé na porta sem mandado tem que ser condenado, não pode existir.(…) Mãe sem emprego, filho sem escola é o ciclo que rola naquele lugar. São milhares de história que no fim são as mesmas, podem reparar. Sinceramente, eu não tenho a saída de como devia tal ciclo parar. (…)o futuro da favela depende do fruto que tu for plantar. Tá tudo errado, errado e difícil explicar, mas do jeito que a coisa está indo já passou da hora do bicho pegar. (…) Tem gente plantando o mal, querendo colher o bem.” Tá tudo errado, por Mc Júnior e Leonardo.

O funk de Mc Junior e Leonardo (no vídeo acima Mc Leonardo canta a capela na audiência pública pelo funk do dia 26 de agosto na ALERJ) é a mais perfeita explicação para compreendermos as causas dos episódios de violência ocorridos no Rio de Janeiro. A música serviria para explicar não só os episódios violentos desencadeados pela queda do helicóptero da PM no morro dos Macacos , como tudo o que está errado no círculo vicioso da segurança pública desde meados da década de 80. (“Desde a queda do helicóptero da PM, em 19 dias, houve mais de 40 mortes em um período de intensificação da rotina de operações policiais realizadas em favelas” – clique aqui e confira reportagem de Paula Máiran sobre manifestação dos movimentos sociais contra o “revide” da segurança pública). Círculo que, acelerado nos últimos anos, vem atingindo seu auge no governo Cabral no tocante ao desrepeito do cidadão favelado, tratado como inimigo público pelo secretário estadual de segurança pública, José Mariano Beltrame. Entretanto, pouquíssimas pessoas conhecem essa música, principalmente se comparado com o número de indivíduos influenciados pela mídia de direita.
charge+PMO problema da segurança pública de extermínio ao povo pobre, negro e favelado está intimamente ligado à opinião pública e quais são os valores transmitidos por toda forma de mídia hegemônica, seja no jornalismo, publicidade e cinema. A maioria esmagadora da classe média e alta – que é ouvida e respeitada pelo poder público no Brasil – aprova com louvor a repressão às favelas como se fosse um território inimigo. A disputa por uma política de segurança pública que trate todos de maneira equivalente deve ser feita principalmente pela construção de uma mídia alternativa. Enquanto só tivermos Balanços gerais, RjTv’s, Meia-horas e Willians Wacks influenciando a opinião das pessoas, dificilmente teremos poder de pressão para mudar não só o que de há errado na política de segurança pública, como tudo que é injusto nesse mundo.
Mc Junior e Leonardo, no funk “Tá tudo errado” abordam o círculo vicioso alimentado pelas elites contra o povo. Ao mesmo tempo em que escrevemos este texto, uma propaganda do Bradesco passa na televisão. O narrador fala de pessoas que, quando se movimentam pra fazer seu sonho acontecer, ativam uma cadeia de outros sonhos em um poderoso elo invisível. O vídeo conta a história de um dono de tijolaria que, ao realizar seu sonho de montar uma empresa (e enriquecer), realiza o sonho da casa própria de um casal de classe média baixa que conseguiu a habitação pelo financiamento do Bradesco. Algo como um lindo círculo virtuoso, cujos elos foram construídos pelo banco, que realiza um mundo melhor a cada dia. Poético né? Os lucros milionários dos acionistas do Bradesco, sabiamente, são ocultados.
charge+BOPEEnquanto tivermos em todas as formas de comunicação (jornalismo, publicidade, cinema, música…) mensagens ludibriosas, como a da propaganda do Bradesco, ou que fomentem preconceitos contra pobres, negros, favelados, homosexuais, mulheres, será muito difícil convencer as pessoas de que só há ricos porque há pobres e de que todas as injustiças do mundo devem ser combatidas. Enquanto o herói do filme for o capitão Nascimento, o policial que der o tiro de misericórdia em criminosos ou inocentes será aclamado pela opinião pública. E o círculo vicioso alimentados pelas elites para os pobres continuará esbarrando no círculo virtuoso – supostamente blindado – das elites.






*Postada originalmente em 10 de novembro de 2009 no blog http://mcjunioreleonardo.wordpress.com

sábado, 26 de novembro de 2011

Praça Tahrir é, de novo, o centro da Revolução Egípcia

A revolução egípcia é um universo em expansão, uma massa em permanente fusão cuja propagação nada detém. O centro desse universo é a Praça Tahrir. Já não é um emblema ou um símbolo, mas sim uma irremovível plataforma de luta. Milhares e milhares de pessoas voltaram a lotar a praça para exigir da Junta Militar, que governa o país desde a queda do regime de Hosni Mubarak, que transfira os poderes a um governo civil e que anule o processo eleitoral marcado para essa segunda-feira. A reportagem é de Eduardo Febbro, direto do Cairo.

“Marechal, acorda, este é teu último dia”. Os gritos da multidão reunida na Praça Tahrir contra o chefe do conselho Supremo das Forças Armadas, o Marechal Mohamed Hussein Tantaui, soam com o acento e o humor da juventude. A revolução egípcia é um universo em expansão, uma massa em permanente fusão cuja propagação nada detém. O centro desse universo é a Praça Tahrir. Já não é um emblema ou um símbolo, mas sim uma irremovível plataforma de luta.

Milhares e milhares de pessoas voltaram a lotar a praça para exigir da Junta Militar, que governa o país desde a queda do regime de Hosni Mubarak, que transfira os poderes a um governo civil e que anule o processo eleitoral marcado para essa segunda-feira. Na quinta-feira, a Junta reafirmou que as eleições seriam realizadas segundo o calendário previsto. No dia seguinte, o povo respondeu com uma mobilização quase comparável às de 25 de janeiro que precipitaram a queda de Mubarak.

A praça voltou a se encher na sexta-feira, com um ingrediente a menos: a violência. Desde a semana passada, a repressão policial deixou um saldo de 40 mortos e milhares de feridos. Desta vez, só a arte capciosa com que a Irmandade Muçulmana embaralha as cartas conseguiu apaziguar a violência e, ao mesmo tempo, salvar as Forças Armadas de uma humilhação nas ruas ainda maior na jornada denominada “a sexta-feira da última oportunidade”. Mas o destino do gigantesco retrato de Mohamed Hussein Tantaui foi a melhor sondagem sobre o ânimo da população: os cairotas colocaram em uma placa de madeira o retrato de Tantaui e, como em uma procissão, insultos e cusparadas caíram todo o dia como golpes de faca no rosto do velho companheiro de armas de Hosni Mubarak.

Depois da primeira Revolução, de 25 de janeiro, a segunda, que começou no dia 18 de novembro, segue em pé sem que o poder militar tenha cedido no essencial: a postergação das eleições, a passagem do poder para um governo civil e a renúncia á intenção de introduzir por conta própria princípios supra-nacionais na futura Constituição, passando por cima do Conselho Constitucional que deve redigir a nova Carta Magna depois das eleições. Diante da pressão popular, o Marechal Mohamed Hussein Tantaui forçou esta semana a renúncia do governo e nomeou outro sobrevivente da era Mubarak a frente de um governo de emergência. Trata-se de Kamal-el Ganzuri, ex-primeiro ministro de 1996 a 1999. Segundo declarou, logo depois de ser nomeado, o Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) outorgou-lhe “todas as prerrogativas” dentro deste “Governo de Unidade Nacional”.

A rua, porém, atrasou o exercício dessas “prerrogativas”: a primeira coisa que o povo fez foi bloquear a passagem da entrada da sede do governo. Kamal-el Ganzuri não conseguiu entrar em seu gabinete. Ao cair da noite de sexta, os acessos continuavam bloqueados pelos manifestantes: “é uma relíquia, uma garantia desgastada, que vá embora também”, gritavam as pessoas sob o nariz da polícia.

Com a certeza da vitória eleitoral, a Irmandade Muçulmana se aliou com a Junta Militar na reta final do processo e, com isso, abandonou as manifestações e os lugares estratégicos que tinha ocupado dentro da Praça Tahrir, tanto em janeiro como no 18 de novembro. A segunda Revolução egípcia foi lançada por eles, mas ontem a Irmandade não apareceu na praça. O grito da multidão, “abaixo a ditadura militar”, não contou com suas vozes.

A Irmandade Muçulmana já está contando os votos de amanhã, enquanto as pessoas se expõem nas ruas à terrível barbárie policial. A confraria religiosa caminha com um pé em cada caminho: não critica os manifestantes, pelo contrário, mas tampouco os apoia na rua com sua presença e seu estatuto de força social e política mais poderosa do país. O Islã político que representam se apoiou na mobilização popular em sua disputa interna com os militares. Foram eles que, no dia 18, convocaram a primeira manifestação na Praça Tahrir em protesto contra o projeto central da Junta: sob a nova Constituição, os militares não dependeriam do governo civil nem no plano político nem no orçamentário. A Irmandade lançou então a batalha e, quando melhor lhe conveio, se retirou da mesma.

No entanto, os jovens do movimento do 6 de abril e outros grupos de militantes laicos permaneceram ocupando a Praça Tahrir e assim nasceu a segunda Revolução: com balas reais, gases lacrimogêneos paralisantes, e surras policiais de uma crueldade medieval, mortos e hospitais improvisados construídos ao redor da praça, no pátio de uma esquina, no cruzamento das ruas. Há dois dias, a Irmandade Muçulmana montou uma estratégia para separar a polícia do povo ao longo da rua Mohamed Mahmud, o epicentro dos mais cruentos enfrentamentos entre manifestantes e policiais.

A rua é estratégica: por ali se tem acesso à Praça Tahrir e ao Ministério do Interior. Foi precisamente neste local que ocorreram as batalhas mais sangrentas que se possa imaginar. Na quinta-feira, um sólido grupo da Irmandade formou um cordão humano para separar policiais e manifestantes e essa astúcia permitiu que o Exército se interpusesse entre ambos com a construção de uma barricada de concreto armado.

Ao contrário da Irmandade Muçulmana, os salafistas (que advogam um Islã muito mais rigoroso) se aproveitaram do fervor revolucionário para pedir o fim da Junta. “Parece que não se lembram do que aconteceu em fevereiro. O povo derrubou Mubarak e esse mesmo povo colocará esse regime na rua e não permitirá que seja imposta uma Constituição alheia a sua escolha”, dizia aos gritos um salafista que falava em um microfone com os olhos exaltados. “Tantaui, o povo vai te decapitar”, gritava saltando com uma bandeira egípcia um grupo de jovens que entrava na Praça Tahrir”.

Os clamores da contra-manifestação organizada pelos adeptos do marechal não eram ouvidos. Alguns milhares de pessoas gritavam: “este é verdadeiro Egito e não o que está na praça Tahrir”. Mas a correlação de forças na praça era assombrosa. “Eles são mandados para cá para que saiam na televisão, mas não representam mais do que alguns policiais disfarçados de povo”, dizia com raiva um jovem cairota. Tinha um braço quebrado e o rosto ferido. Havia participado durante dois dias na ocupação da praça até que a polícia o tirou dali a pauladas. A dor dele era visível mesmo na sombra, mas ele estava ali presente de novo.

Os egípcios acabaram vendo os 20 membros do Conselho Supremo das Forças Armadas com um grupo de piratas que roubou o barco da Revolução de janeiro para ganhar poder e lucros. “Nos roubaram a Revolução e nossos sonhos, pisotearam o sangue derramado, não ouviram o anseio de um povo inteiro, mataram, reprimiram, cometeram crimes espantosos. Não tem perdão e não os perdoaremos”, disse com veemência Saad, um jovem também protagonista da primeira Revolução. Para Rami el-Souissy, líder do Movimento 6 de abril, a situação é muito clara: “Os militares entraram em um caminho sem saída, caíram em sua própria armadilha; ou saem do poder como exige o povo, ou o país se levantará de novo e haverá outro grande incêndio”.

Um dos imãs que falou sexta-feira na Praça Tahrir não fazia mais do que repetir: “a Junta só tem uma opção: ir embora e que em seu lugar assuma um governo de unidade nacional dotado dos poderes de um presidente”. Fato pouco comum nos lábios de um religioso, o grande imã da mesquita de Al-Azhar, o xeique Ahmed el-Tayyeb, fez chegar aos manifestantes uma mensagem dizendo que “rezava para a vitória”.

Para o Marechal Mohamed Hussein Tantaui, a sexta-feira foi um dia de más notícias. O povo continua ocupando a Praça Tahrir e, além do apoio da Irmandade Muçulmana, se atravessou a opção de Washington. A Casa Branca se meteu pela primeira vez na segunda Revolução mediante um comunicado onde a administração norteamericana contempla os argumentos do povo: “o novo governo egípcio deve estar imediatamente dotado de autoridade real (...) Acreditamos que uma transferência completa do poder a um governo civil deve ocorrer de uma maneira justa e responda às legítimas aspirações do povo egípcio tão logo seja possível”.

A rota de fuga apontada por Washington é clara, ainda mais que os EUA fornece ao Egito 1,3 bilhões de dólares anuais em ajuda militar. Neste complexo e instável terreno, o ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e prêmio Nobel da Paz, Mohamed el Baradei, parece ser quem mais tira proveito. Enquanto Tantaui e seu recém-nomeado primeiro ministro eram insultados em todos os tons, el Baradei foi aclamado como um herói quando ingressou na praça. Há alguns meses, Mohamed el Baradei, que também é candidato à presidência, era tratado com certo desprezo. Como há muito tempo não vivia no Egito foi chamado de “o estrangeiro”. Na sexta, foi aclamado como uma esperança cheia de legitimidade. “Ele não sujou as mãos com esse jogo”, comenta Hussein, um dos jovens que o aclamavam.

Tahrir é um lugar, ao mesmo tempo, trágico e mágico. Houve muitos mortos e feridos. Sofrimento extremo. Mas uma força coletiva transcende a tragédia e deixa intacta a magia. Daqui ninguém se move. O Cairo é como um beijo cálido. A noite já o envolveu. Envolveu tudo menos a combatividade e a convicção deste povo que desafia a repressão e a morte que espreita em cada esquina. Hazem tenta conter a emoção ao olhar a Praça Tahrir cheia de gente. Faz isso com esforço. Tem um olho vendado, dois dedos quebrados e várias luxações sérias herdadas da repressão policial dos últimos dias. Mesmo assim, veio para a praça: “para estar presente na construção do futuro, para ser mais. Meu povo já sofreu muito. A dor do meu corpo passará amanhã. Isso se decide hoje e é hoje que é preciso estar presente”.

Tradução: Katarina Peixoto

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Belo Monte é a gota d`água?

Belo Monte é um equívoco. Um ponto a se colocar, mas é estranho é vídeo publicitário com cara de super-produção com atores globais, colocando uma série de questões que não elucidam niguém, apenas tem a proposta de persuação a assinatura de lista. O movimento é interessante para quem quer uma etiqueta de "politizado", só que existe a informação e ela precisa ser colocada a tona para tirarmos nossas conclusões, coisa que o Movimento Gota D`Água não faz. E o Raoni hein, ele chorou por Belo Monte ou por dizerem algo que ele não fez? Vai saber... abaixo um texto no mínimo interessante. É Isso!!!


Obs.: Não sou defensor de Belo Monte, muito pelo contrário. Sou totalmente contra a construção daquela usina, que poderá inundar mais de 500km² de floresta e, de quebra, prejudicar muitos indígenas. Mas também sou contra a divulgação de boatos. Se é para impedir Belo Monte de ser construída, que seja com a verdade, não com mentiras.
Dilma Rousseff não está merecendo ser defendida, depois que suspendeu a confecção dos kits educativos anti-homofobia para proteger Antonio Palocci da chantagem política da bancada do ódio religioso, mas não quero ver sua imagem ser depreciada por mentiras que visam desestabilizar seu governo que começa a cambalear em termos de compromisso com sua base eleitoral.
Um boato está atualmente em circulação, em blogs no Tumblr (exemplo), com direito a foto do Cacique Raoni chorando:
O Cacique Raoni chora ao saber que Dilma liberou o inicio das construções de Belo Monte. Belo Monte seria maior que o Canal do Panamá, inundando pelo menos 400.000 hectares de floresta, expulsando 40.000 indígenas e populações locais e destruindo o habitat precioso de inúmeras espécies. Tudo isto para criar energia que poderia ser facilmente gerada com maiores investimentos em eficiência energética.
Palmas, para os que votaram… e jogaram o voto na mão de gente oportunista, e sem escrupulos!!
QUE VERGONHA BRASIL , acabando com nossa tão preciosa cultura. :(
Alguns fatos verdadeiros devem ser postos:
1. Não consta em nenhum site de notícias (link para resultados do Google News entre 10 e 26 de maio de 2011) nem no site da Presidência que Dilma já teria liberado a construção da usina;
2. A “notícia” não conta com fonte original, e só consta em redes sociais, blogs e fóruns, assim como acontece com os hoaxes, as lendas de internet;
3. Mesmo quando algum blog anuncia “fonte”, a “fonte” é um blog, um Tumblr ou uma rede social como o Facebook ou o Twitter – e essas não são fontes idôneas para nada, por mais bem intencionados que sejam seus divulgadores;
4. Atualmente a licença ambiental para a instalação de Belo Monte está parada no Ibama, e não tem data para acontecer. A notícia verdadeira mais recente diz que o Ministério Público Federal recomendou ao Ibama que não licencie a obra. Dilma não pode interferir assim no Ibama, sobrepondo sua decisão a uma pendência ambiental de órgão subordinado. A Constituição não lhe dá poder para isso.
5. Números errados no hoax que circula:
a) Belo Monte, caso seja realmente construída, não inundará “400 mil hectares”, mas sim um máximo de 51.600 hectares. Ainda assim não é um número pequeno, visto que são 516km², 2 Recifes e meio de extensão, quase 75 vezes a extensão do desmatamento que o Governo de Pernambuco pretende fazer no entorno do Porto de Suape. Mas não convém nem um pouco exagerar, superestimar os números da destruição que Belo Monte causará.
b) Não haverá a expulsão de “40.000 indígenas” com a inundação. 40 mil, aliás, são mais de 10% de toda a população indígena de todo o território brasileiro. Na verdade não há números certos sobre o número de indígenas que serão deslocados caso a obra aconteça. Fala-se na verdade de influências negativas sobre os habitantes da Reserva Indígena do Xingu – como prejuízos na pesca e a inundação de igarapés -, pouco sobre desabrigar índios que morem às margens do rio.
6. Nada se afirma sobre a fonte e data da foto do Cacique Raoni chorando. Ela existe, é fato, mas quem tirou a foto? Pessoas de que agência jornalística? Quando? Em que evento? Vale lembrar que ela também não consta nas notícias mais recentes sobre Belo Monte nos noticiários brasileiros.
Aliás, o cacique já chorou uma vez perante a mídia, no passado. Foi no enterro do amigo Orlando Villas-Bôas, em 2002 – embora a notícia não traga a foto. [Atualização (08/06/11, 14:57): A foto, como a índia Kuana fala abaixo, não foi tirada no enterro de Villas-Bôas, mas num outro evento, 4 anos atrás, dissociado da questão de Belo Monte.]
7. @ presidente da república não tem, segundo a Constituição, a prerrogativa de autorizar ou embargar oficialmente obras. No máximo ela pode inaugurá-la em evento divulgado pela imprensa ou discursar a favor, sempre diante de câmeras.
Portanto, os brasileiros estão sendo enganados e, ainda que sem intenção, enganando outrem mais uma vez. Assim como no caso da mentira sobre Dilma ter dito que “nem Jesus Cristo” lhe faria perder para José Serra.
Atualização (08/06/11, 14:57): A irmã de consciência indígena Kuana Ankakilla revelou nos comentários:
Quem tirou a foto foi um colega (fotografo independente) de Raoni que estava no momento do evento, porem n sei o nome dele.
este evento foi há uns 4 anos atras quando ele recebeu uma homenagem de um grande amigo que ha muito tempo ele não via. Foi devido a isso que ele chorou, mas chorou emocionado.
Vim aqui te esclarecer e esclarescer a todos que vêem este blog, por que, quem divulgou esta foto com esta mentira na internet foi um branco irresponsavel que não seguiu os concelhos do cacique Diekeguá Guarani, e esse ato esta causando o maior rebuliço. Raoni e os outros kaiapós estão revoltados com a mentira.
Sou muito amiga de cacique diekeguá e quem falou dos detalhes da foto foi cacique Megaron, filho de Raoni. Estamos tentando desfazer esta mentira que foi iniciada por Ronaldo Tadeu Rainha.


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Após ataque, Guarani Kaiowá decidem permanecer em terra tradicional

Indígenas começam a retornar ao local onde ocorreu o massacre, que resultou na morte do cacique Nísio Gomes; quatro pessoas estão desaparecidas
21/11/2011

da Redação


Cacique Nísio Gomes, morto por pistoleiros
Foto: MPF/MS
Os indígenas Guarani Kaiowá do acampamento Tekoha Guaiviry, entre os municípios de Amambaí e Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul (MS), começam a retornar ao local após o ataque que sofreram na última sexta-feira (18).
Eles seguem a orientação do cacique Nísio Gomes, 59 anos, executado com tiros de calibre 12 por cerca de 40 pistoleiros fortemente armados que invadiram o acampamento. Antes de cair inconsciente, o cacique pediu aos indígenas que não desistissem da luta que travam por seu território tradicional. “Vocês não deixem esse lugar. Cuidem com coragem dessa terra. Essa terra é nossa. Ninguém vai tirar vocês...Cuidem bem de minha neta e de todas as crianças. Essa terra deixo na tua mão. Guaiviry já é terra Indígena”, disse o cacique, segundo divulgado pelo conselho da Aty Guasu, movimento político guarani kaiowá.
Durante o ataque, os indígenas correram para a mata e chegaram aos municípios de Amambai e Ponta Porã. Alguns deles chegaram a prestar depoimento na Delegacia da Polícia Federal em Ponta Porã e disseram que, além do cacique, pelo menos outras três pessoas foram atingidas pelos pistoleiros. Sete mulheres indígenas contaram que três jovens – J.V, 14 anos, M.M, 15 anos, e J.B, 16 anos – foram baleados, sendo que um encontra-se hospitalizado e os outros dois desaparecidos.

Indígena ferido por balas de borracha - Foto: MPF/MS
Ainda não se tem o número exato de vítimas, justamente porque a comunidade se dispersou para a mata para se proteger do ataque. O Ministério Público Federal (MPF) recebeu informações, ainda não confirmadas, de que uma mulher e uma criança também teriam sido baleadas. Além da munição convencional, os pistoleiros usaram balas de borracha contra os indígenas, deixando muitos feridos.
De acordo com os relatos das testemunhas, o massacre tinha como alvo o cacique. Depois de morto, o corpo de Nísio Gomes foi levado pelos pistoleiros em uma das caminhonetes usadas durante o ataque – prática vista em outros massacres cometidos contra os Guarani Kaiowá no MS.
“Estavam todos de máscaras, com jaquetas escuras. Chegaram ao acampamento e pediram para todos irem para o chão. Portavam armas calibre 12”, disse um indígena da comunidade que presenciou o ataque e terá sua identidade preservada por motivos de segurança.

Marcas de sangue encontradas durante a perícia - Foto: MPF/MS
“Chegaram para matar nosso cacique”, afirmou. O filho de Nísio tentou impedir o assassinato do pai, segundo o indígena, e se atirou sobre um dos pistoleiros. Bateram no rapaz, mas ele não desistiu. Só o pararam com um tiro de borracha no peito.
A Polícia Federal, integrantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e do conselho Aty Guassu (Grande Assembleia Guarani), Fundação Nacional do Índio (Funai) e MPF estiveram no acampamento. Em nota, o MPF afirma que abriu investigação e na perícia constatou marcas de sangue que remontam a cena de um corpo sendo arrastado, possivelmente o do cacique Nísio Gomes.

Luta pela terra
Os indígenas ocupam desde o dia 1º deste mês a terra localizada entre as fazendas Chimarrão, Querência Nativa e Ouro Verde – instaladas em Território Indígena de ocupação tradicional dos Kaiowá. Antes, a comunidade vivia na beira de uma Rodovia Estadual.

Agentes da Polícia Federal no local do massacre - Foto: MPF/MS
A área ocupada pela comunidade está em processo de identificação desde 2008 e em fase de conclusão do relatório pela Funai. Há aínda um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) do Ministério Público Federal (MPF) em execução, referente ao processo de demarcação da Terra Indígena. Por conta disso, o ataque tem como principal causa o conflito pela posse do território. A região do ataque fica a meia hora da fronteira com o Paraguai.
Conforme recente publicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) sobre a violência praticada contra os povos indígenas do MS nos últimos oito anos, no estado está concentrada a maior quantidade de acampamentos indígenas do país, 31 - há dois anos, em 2009, eram 22.
São mais de 1200 famílias vivendo em condições degradantes à beira de rodovias ou sitiadas em fazendas. Expostas a violências diversas, as comunidades veem suas crianças sofrerem com a desnutrição – os casos somam 4 mil nos últimos oito anos - e longe do território tradicional.
Atualmente, 98% da população originária do estado vivem efetivamente em menos de 75 mil hectares, ou seja, 0,2% do território estadual. Em dados comparativos, cerca de 70 mil cabeças de gado, das mais de 22,3 milhões que o estado possui, ocupam área equivalente as que estão efetivamente na posse dos indígenas hoje.
Em nota, o Cimi responsabilizou a presidenta da República, Dilma Rousseff, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o presidente da Funai, Márcio Meira e o governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli pela chacina praticada contra a comunidade Guarani Kaiowá.
“O Poder Executivo tem sido omisso, negligente e subserviente. Com isso, promove e legitima as práticas de violências. O ministro da Justiça recebe latifundiários, mas não cobra Márcio Meira, presidente da Funai, sobre o andamento do processo de identificação e demarcação das terras indígenas que desde 2008 caminha de forma lenta – enquanto a morte chega cada vez mais rápida aos acampamentos indígenas. ”, afirma a nota do Cimi. (com informações do Cimi)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Em 10 anos de cotas no RJ, apenas metade das vagas são ocupadas

Negros, pardos, estudantes oriundos da rede pública e pessoas com deficiência viram suas chances de chegar ao ensino superior aumentarem no ano de 2001. A lei 3.708/01, implementada no Estado do Rio de Janeiro, foi a primeira a assegurar 40% das vagas a estudantes afrodescendentes e pobres nas universidades estaduais. Dez anos depois, apenas metade das vagas são preenchidas.
Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), são destinadas 45% das vagas para cotistas. Porém, no primeiro semestre deste ano, somente 26,5% foram ocupadas. Na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o número de cotistas matriculados foi diminuindo a cada ano, enquanto as matrículas de não-cotistas aumentaram. Em 2004, 2.125 cotistas ingressaram na instituição, junto a 3.237 não-cotistas. Cinco anos depois, o número de alunos beneficiados pela lei baixou 35%, enquanto o total de outros estudantes aumentou cerca de 14%.
Para Frei Davi Raimundo dos Santos, um dos fundadores do Educafro - entidade que oferece aulas de pré-vestibular em quase todo o País, tendo mais de 200 escolas e 13 mil alunos -, os baixos números se explicam por duas razões: mecanismo de vestibular que exclui cotistas e a falta de divulgação na mídia.
"O principal motivo, que envolve todas as universidades, é a falta de divulgação do sistema de cotas para a grande massa. Muitos alunos não sabem que essa possibilidade existe", afirma. Em pesquisa feita com três escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro, a Educafro chegou a um dado que comprova a tese: 70% dos alunos de ensino médio entrevistados não sabiam da existência do programa de cotas.
Frei Davi, que luta há anos pela implementação de políticas públicas para afrodescendentes em universidades, também ataca o mecanismo de processos seletivos que, no seu entender, exclui as possibilidades de ingresso para cotistas. "A Universidade do Estado do Rio de Janeiro é um exemplo. Eles têm duas fases eliminatórias, entre as quais somente a segunda considera o sistema de cotas", afirma.
Na primeira fase do vestibular da Uerj, chamada de Exame de Qualificação, o aluno resolve uma prova objetiva com questões de múltipla escolha que abrangem todas as áreas de conhecimento. Na segunda etapa, responde três provas discursivas comuns para todas as carreiras, mais disciplinas específicas de acordo com o curso escolhido. Contudo, só passa para a segunda fase quem for classificado na primeira, que não garante vagas para cotistas. O benefício é válido só a partir da segunda fase. "Pouquíssimos estudantes conseguem ir para a segunda fase. Por uma questão histórica e de estudo em instituições públicas¿, diz. "Os cotistas tendem a ter um rendimento 30% abaixo dos não-cotistas", completa Frei Davi.
Para Hilda Montes Ribeiro de Souza, diretora do Departamento de Projetos Especiais e Inovações da Uerj, o motivo para os baixos índices de cotistas na universidade é outro e nada tem a ver com o vestibular: "Hoje, são admitidos pelas cotas os estudantes com renda familiar de até R$ 960 per capita. Nós do departamento sabemos que, normalmente, esses indivíduos concluem o ensino médio e não podem ingressar no ensino superior pois precisam trabalhar para ajudar a família. Então ocorre um afunilamento no número", diz.
Hilda associa ainda os baixos números de cotistas na Uerj a bolsas como o Programa Universidade Para Todos (ProUni), pelas quais candidatos que se encaixariam no perfil de cotista estariam ingressando em instituições particulares. "Quando as cotas entraram em vigor, as vagas eram preenchidas em sua totalidade. De uns anos para cá, tem sobrado cada vez mais vagas, Percebemos que isso tem relação com os diversos incentivos do governo para o ensino superior, entre eles o Prouni. Os estudantes estão se deslocando das cotas e conseguindo vagas através dessas bolsas", explica.
Hoje no País, a adoção de cotas por universidades públicas é uma decisão que cabe a cada instituição. Tramita no Congresso Nacional um Projeto de Lei que institui a obrigatoriedade da destinação de vagas a estudantes. Há um debate sobre se seriam cotas para estudantes egressos de escolas públicas ou para a população negra. Segundo o Ministério da Educação (MEC), o projeto ainda está em discussão e não tem previsão de aprovação. Quando for aprovado, as universidades deverão adequar-se às regras, mas por enquanto cada instituição tem autonomia para definir sua política afirmativa.
Cerca de 100 mil cotistas são beneficiados no País
Apesar da lei federal para cotas tramitar há 13 anos na Congresso Nacional, a regulamentação estadual do Rio de Janeiro já foi o bastante para provocar um efeito dominó no País. Hoje, são cerca de 100 mil cotistas negros em 32 universidades estaduais e 38 universidades federais de todo o Brasil, conforme apuração da Educafro.
Contudo, os números ainda são baixos. Segundo pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o total de estudantes negros em universidades federais aumentou apenas 3,7% entre os anos de 2004 e 2009. Hoje, somente 8,7% da população de ensino superior são da raça negra.
O advogado Renato Ferreira dos Santos dá rosto aos números. Com formação superior concluída graças a incentivos sociais, Santos se tornou um grande defensor dos sistema de cotas. "Todos os argumentos negativos contra as cotas raciais foram derrotados. Isso é percebido com a adesão de quase todas as instituições de ensino, públicas e particulares, ao sistema", comenta.
Santos graduou-se em Direito na PUC-rio por meio de uma parceria entre a universidade e a ONG Movimento Negro Unificado, fez MBA em Direito na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e depois mestrado em Políticas Públicas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) por meio de cotas raciais. Na universidade estadual, foi pesquisador do Laboratório de Políticas Públicas. Hoje é assessor especial da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Brasília e professor da Faculdade de Direito do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB), onde leciona a disciplina de Direitos Humanos.
"Quando o sistema de cotas surgiu no Rio de Janeiro, os críticos afirmavam que as cotas fariam a qualidade de ensino cair e que os cotistas não seriam bem recebidos, o que poderia dar margem a mais preconceito. Nada disso aconteceu", diz, explicando que nunca se sentiu discriminado em ambiente de ensino e nunca presenciou situações preconceituosas onde leciona.
A professora Hilda, que faz o acompanhamento dos cotistas na Uerj, confirma. "Toda novidade tem uma certa resistência, então, nos primeiros anos, houve preconceito. Hoje as pessoas não enxergam mais a universidade sem as cotas. Os cotistas estão tão integrados que, se você entrar em uma sala de aula e perguntar quem é cotista e quem não é, ninguém vai saber responder", fala.
"Além disso, os números comprovam que os cotistas não tendem a abandonar nem a reprovar nas universidades, como muita gente achou que aconteceria", completa Santos. De acordo com informações da Educafro, no ano de 2009, 19,6% dos cotistas foram reprovados em universidades estaduais do Rio de Janeiro. O número entre os não-costistas foi de 20,7%. O mesmo estudo mostrou que as taxas de abandono por parte dos cotistas em 2009 foi de 21,4% por ano, enquanto 37,1% dos não-cotistas evadiram.
"Várias avaliações realizadas por nossas universidades federais apontam que o desempenho dos estudantes beneficiados por algum tipo de política afirmativa é igual ou superior aos demais estudantes não beneficiados por elas", aponta o presidente da Andifes, João Martins.
Este ano, Santos deu mais um passo em sua escala de conquistas e publicou o livro Ações Afirmativas - A questão das Cotas, que reúne artigos e entrevistas feitas com intelectuais sobre o tema. O objetivo, segundo o organizador, foi perceber como as cotas entram na ordem jurídica brasileira e como são abordadas pelos mais diversos juristas do Brasil. "Trouxemos visões de juristas de gerações diferentes que sempre trabalharam com esta questão da cidadania", fala, citando nomes como Boaventura de Souza Santos, Carlos Roberto Siqueira Castro, Fabio Konder Comparato, Dalmo de Abreu Dallari, Flávia Piovesan, Luís Roberto Barroso, dentre outros.
Para Santos, essas políticas representam um avanço na inclusão de pessoas marginalizadas. Ele conta que foram mais de 120 anos em que a população negra se viu abandonada e excluída do processo mais significativo da cidadania, a educação. O presidente da Andifes concorda: "As cotas raciais vêm para buscar um equilíbrio para a sociedade brasileira e aumentar a representação de alunos negros ou pardos dentro das instituições de ensino. Entendemos que as políticas afirmativas sociais ou raciais são temporárias e deverão contribuir para que nosso país responda por um tecido social mais justo, fraterno e solidário."

sábado, 19 de novembro de 2011

Por greve, estudantes e professores são ameaçados de morte em Rondônia

Manifestantes que exigem melhores condições de ensino na Universidade Federal de Rondônia (Unir) estão sendo intimidados com bilhetes anônimos
18/11/2011
Da Redação
  
Estudantes e professores da Universidade Federal de Rondônia (Unir) estão sendo ameaçados de morte por meio de bilhetes anônimos pregado em portas de laboratórios e departamentos do campus de Porto Velho. Os bilhetes são uma retaliação às protestos que ocorrem na Unir contra o reitor Januário de Oliveira Amaral e pela exigência de mais investimento no ensino da Universidade.
Nos bilhetes, os opositores indicam os nomes de pessoas que podem ser assassinadas. Ao todo, oito foram ameaçadas de morte. No texto, os criminosos dizem: “Não adianta cantar vitória antes do tempo. Muita água ainda pode rolar... Segue alguns nomes que podem descer na enchente do rio”.
Bilhetes com ameaças foram colados em portas de laboratórios e departamentos

No contexto da região amazônica, a expressão “descer na enchente do rio” é associada à prática de desova de cadáveres nos rios. Além de ameaças anônimas, há registro de uma ameaça verbal feita quando uma estudante de psicologia, integrante do comando de greve, foi abordada na porta da sua casa por homens encapuzados, que disseram que ela morreria em breve.
Estas não são as primeiras tentativas de intimidação sofridas pelo movimento docente e discente. No último dia 22 de outubro, o professor de História, Valdir Aparecido de Souza foi preso por dois estudantes da Universidade que também são policiais federais (veja vídeo nesta matéria). Eles não usavam distintivos e acusaram o professor de ter atirado um artefato na direção deles, o que foi negado por estudantes e professores que estavam na manifestação.
Valdir passou uma noite no presídio “Urso Panda”, em Porto Velho, e foi indiciado por incitação à violência, resistência à prisão, desacato à autoridade, entre outros crimes, que somados lhe rendem quatro anos de prisão. A liberdade provisória foi concedida com as prerrogativas do professor não comparecer à sede da Universidade Federal de Rondônia enquanto o movimento grevista estiver em curso.

Pelo que lutam
Reitoria da Unir, ocupada desde 05 de outubro. Manifestantes querem a demissão do reitor Januário de Oliveira Amaral, acusado de corrupção - Foto: Comandodegreveunir.blogspot.com
Estudantes estão em greve desde 14 de setembro e ocupam o prédio da reitoria desdeo dia 05 de outubro, exigindo a demissão do reitor Januário de Oliveira Amaral, acusado de corrupção e improbidade administrativa.
Segundo o comando de greve do movimento, um dossiê com mais de 1.500 páginas foi produzido por estudantes e professores e comprova os crimes cometidos pelo reitor. O documento está sendo investigado por uma comissão de sindicância do Ministério da Educação (MEC).
Professores e estudantes querem investimento em infra-estrutura
e contratação de profissionais
- Foto: Comandodegreveunir.blogspot.com
Professores também estão paralisados. Além da saída de Januário, docentes e alunosquerem investimentos em infra-estrutura e contratação de profissionais para os sete campi da Unir. Eles se queixam da falta de salas de aulas e professores efetivos, a inexistência de restaurantes e hospital universitário, laboratórios e bibliotecas. Pais dos universitários apóiam o movimento.
Em 2008, depois de forte mobilização estudantil, Oliveira assinou um termo de compromisso com os alunos se comprometendo a melhorar a infra-estrutura. Entretanto, segundo os manifestantes, apenas um dos compromissos foi realizado parcialmente.
Veja vídeo que mostra prisão arbitrária do professor Valdir Aparecido de Souza pela Polícia Federal:


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Alunos da Usp x Rede Grobo

Bom, a manipulação mídiatica de eventos considerados transgressores é uma prática corriqueira e tem gente que se baseia para fazer comentários deveras espertos. Os vídeos apresentados demonstram nitidamente o que se diz como verdade e qual é o discurso dos alunos do campus da USP. Um movimento que aparentemente se dizia contra a repressão aos usuários de maconha, é algo mais dinâmico e transformador do que se pensa. Novos atores sociais e novas formas de engajamento. Ainda não enxerguam isso de forma concreta?


Matéria da rede Grobo:


Fala completa dos estudantes da USP

O que Comemorar no dia 20 de novembro?

Vinte de novembro é o chamado “Dia da Consciência Negra”. É um dia com shows de musica negra, milhares de capoeiristas demonstrando sua arte, são várias apresentações de dança-afro, inúmeros concursos de beleza negra etc. em diversos eventos que acontecem por todo Brasil. Essa data não foi escolhida por acaso. Foi em 20 de novembro de 1695 que Zumbi foi assassinado comandando a luta pela libertação do povo preto contra os senhores de escravos – a classe dominante de sua época. Quando esses senhores descobriram que era mais caro manter um escravo do que pagar salário, e que, com tantas revoltas escravas, a qualquer hora o povo preto poderia tomar o poder (como foi no Haiti em 1804), eles aboliram a escravidão. Mas é bom que se saiba que até 13 de maio de 1888 o Brasil era o único país a viver sob um sistema escravista. Por quase 400 anos não foi permitido ao nosso povo se desenvolver como seres humanos, até porque por todo esse tempo fomos vendidos, trocados, comprados, descartados... como coisas. Trezentos e dezesseis anos após a morte de Zumbi, e 123 anos depois da lei áurea vemos que o povo preto ainda não se libertou. Nosso povo ainda é escravo. Escravo das drogas, da TV, prisioneiro da pobreza e da miséria, do desemprego, do subemprego, do analfabetismo, da criminalidade, da violência policial e de todo tipo de atraso. Até hoje nosso povo está acorrentado à ideologia da classe dominante branca que faz com que nos sintamos inferiores em vários aspectos. Faz com que as pretas só se sintam belas se seus cabelos estiverem alisados ou “relaxados”, sem perceber que só quem ganha com essa mentira são, principalmente, os fabricantes dos produtos químicos que elas consomem. E o que é pior: muitos dos nossos irmãos não conseguem nem se reconhecerem como pretos ou negros.
Geralmente recorrem a termos intermediários como moreno/a, mulata/o, marrom bom-bom, entre outros mais esquisitos ainda. Porém, para os vigias que controlam as portas giratórias dos bancos, seguranças de shoppings e lojas de departamento, policiais e empregadores, não existe confusão. Eles sabem muito bem quem é quem. Por exemplo, vejamos o que nos revela pesquisa do IPEA de 2003 sobre a diferença entre os salários de trabalhadores/as preto/as e trabalhadores/as branco/as: O salário médio de um homem branco é de R$ 931,00, enquanto o salário médio do preto é de R$ 428,30. Acrescentando a essa discussão a questão de gênero, as coisas pioram. A mulher branca ganha em média R$ 554,60, ao passo em que as pretas ficam só com R$ 279,70. No país das desigualdades o homem branco ganha em média mais que o triplo que a mulher preta. Dos mais de 14 milhões de analfabet@s no país, 10 milhões são pret@s. Em 2002, segundo a ONU, o Brasil se colocava no 73º lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Porém, se o país fosse dividido em dois – um preto e um branco – o Brasil branco estaria em 44º lugar, enquanto o Brasil preto cairia para 105º colocação. 
A taxa de homicídios entre o povo preto é o dobro da registrada entre @s branc@s. Pesquisa realizada pelo sociólogo Ignácio Cano revela que do total de pessoas mortas pela policia do Rio de Janeiro – a policia que mais mata no mundo todo – 70,2% são pardas e negras. Em outras palavras, para cada mil pessoas que a policia fluminense mata 702 são afrodescendentes. Se você tem ou o cabelo crespo, ou o nariz espalhado, ou os lábios grossos, ou a pele escura, ou mais de uma dessas características e ainda não se considera preto ou preta, a burguesia, o Estado e o seu braço armado não têm a menor duvida. E se o ECA não resolveu os problemas de nossas crianças e adolescentes, nada podemos esperar desse Estatuto da Igualdade Racial – que inclusive se omitiu sobre as cotas raciais nas universidades. Também pouco podemos esperar das secretárias dos Direitos Humanos e da Igualdade Racial. Basta lembrar que no casso das declarações racistas e homofóbicas dadas pelo deputado federal Jair Bolsonáro (PP-RJ) em um programa de TV, o que essas secretárias fizeram de mais relevante foi divulgar notinhas de repudio.
Em curso, temos  os preparativos para os megaeventos esportivos que vem agindo de forma cruel e brutal nas cidades que os sediarão,  impulsionando as remoções das favelas e mandando esses moradores para  lugares longínquos, sem a infraestrutura adequada, tornando suas vidas  ainda mais difíceis. E o Haiti – referencia histórica para o povo preto de todo o mundo por ter sido o primeiro país a ter posto fim ao escravismo colonial, através de uma revolta de escravos – hoje sofre uma violenta intervenção militar comandada pelo Brasil. E o massacre do povo preto haitiano (que o MV Bill escondeu no Faustão, quando da sua aparição no programa mostrando as “benesses” da missão militar naquele país), um compromisso assumido pelo governo Lula e mantido por Dilma, é a moeda com a qual nossos governantes querem pagar por uma cadeira no Conselho Permanente de Segurança da ONU. Isso tudo nos alerta sobre a necessidade de o povo preto estar mobilizado para a luta constantemente. Principalmente por que não podemos contar também com a totalidade da nossa esquerda, já que um amplo setor ou considera a nossa causa fragmentária para a luta de classes, ou dizem que a nossa bandeira é transversal/culturalista, ou temem pôr em risco os privilégios garantidos por suas brancuras, com relação ao povo preto.                                                                                                               

Zumbi teve sua cabeça cortada por Domingos Jorge Velho porque liderava o maior centro de resistência contra a escravidão. Para ele não bastava a garantia de que o quilombo não seria mais atacado – como rezava o acordo firmado entre a classe escravista e Ganga Zumba, antecessor de Zumbi na liderança de Palmares. A sua luta era pela libertação de todo o povo preto do Brasil. Ele não morreu só para que hoje pudéssemos tocar pagode, nem só para que pudéssemos dançar musica afro, nem só para termos o direito de fazer concursos de beleza negra. Ele morreu na luta pela nossa libertação, que não veio com a lei Áurea. Por isso, mais do que ser um dia de manifestarmos a nossa riqueza cultural, esse é um dia de manifestarmos nossos anseios de um mundo sem dominadores e dominados (motivo único pelo qual o homenageado foi morto).             
Que as nossas manifestações artísticas sejam instrumentos de mobilização, e canais de propagação de uma proposta de luta por um mundo sem senhores, como prega o hino da classe trabalhadora, o hino d’A Internacional:

"Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional."
 
  •    PELAS COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS
  • PELA IMEDIATA RETIRADA DAS TROPAS BRASILEIRAS DO HAITI
  • PELA TITULARIZAÇÃO DAS TERRAS DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS
  • PELA REFORMA AGRÁRIA
  • CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DE PRETOS E POBRES
  • PELO FIM DAS REMOÇÕES E DESPEJOS DOS MORADORES DE HABITAÇÕS POPULARES

Assinam este manifesto:  Coletivo de Hip Hop LUTARMADA (RJ), Hip Hop Fronteira (PR), Movimento Hip Hop Aliados Pelo Verso (SE), Movimento Hip Hop Chapecó (SC), Movimento Hip Hop Livre (SP)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Após repressão, ativistas planejam novos protestos nos EUA

Horas após serem expulsos pela polícia de Nova York da praça onde estavam acampados há dois meses, manifestantes do movimento Ocupa Wall Street convocaram novos protestos e uma assembleia geral a ser realizada em outra parte de Manhattan. Eles garantem que a repressão policial não intimidará o movimento. Em Oaklan centenas de policiais expulsaram manifestantes que ocupavam praça central da cidade há mais de um mês.



Cenas da ação policial em Oakland

O movimento Ocupa Wall Street continua atraindo elogios como representante de um novo despertar para resgatar o país, assim como repressões de autoridades em vários pontos do território – o mais recente, em Oakland, na madrugada de segunda-feira [e também em Nova York], além de romances.

Ocupa Wall Street e seus movimentos aliados no país são mais que uma caminhada pelo parque. São muito provavelmente o começo de uma nova era nos Estados Unidos, afirma Jeffrey Sachs, mundialmente famoso e controvertido economista, assessor de vários governos e nomeado em duas ocasiões uma das 100 figuras mais influentes do mundo pela revista Time. Com esta avaliação, ele se soma a uma crescente lista de políticos, intelectuais, estrategistas e figuras de destaque mundial a proclamar que este movimento está transformando os EUA.

Estamos no final da era Reagan de 30 anos, um período que culminou em um crescimento desmedido de renda para um por cento da população e em desemprego ou estagnação de renda para a maioria dos demais. O desafio mais amplo para os próximos anos é restaurar a prosperidade e o poder para os 99% da população, escreveu em um artigo publicado no New York Times, o agora diretor do Earth Institute da Universidade de Columbia, e também assessor especial do secretário geral da ONU, Ban Ki-moon.

Sachs, depois de diagnosticar o panorama da crise atual e suas raízes nas políticas neoliberais implementadas desde a presidência de Ronald Reagan, lembra que em duas épocas da história estadunidense os poderosos interesses empresariais dominaram Washington e levaram os EUA a um estado inaceitável de desigualdade, instabilidade e corrupção. Em ambas as ocasiões, um movimento social e político surgiu para restaurar a democracia e a prosperidade compartilhada: no final do século XIX e, depois, nos anos 20, justamente um pouco antes da grande depressão.

Na atual conjuntura é muito provável que esteja sendo criada uma terceira era progressista, diz Sachs, que deveria ter três metas: ressuscitar serviços públicos cruciais (educação em particular), terminar com as condições de impunidade que permitem as fraudes financeiras dos bancos, e reestabelecer a supremacia dos votos do povo sobre os dólares em Washington.

Ele conclui que os jovens no Parque Zuccotti (Praça Liberdade) e em mais de mil cidades começaram a levar os Estados Unidos para o caminho da renovação e dá algumas recomendações sobre como terão que formular propostas e participar da arena eleitoral e política do país. Adverte que aqueles que acreditam que o inverno colocará um fim aos protestos deverão reavaliar suas previsões. Uma nova geração de líderes apenas está começando. A nova idade progressista já começou.

Mas o nascimento desta nova era continua enfrentando a repressão. Na madrugada de terça-feira, em Oakland, centenas de polícias com equipamento anti-motim cercaram e expulsaram os manifestantes que ocupavam uma praça central há mais de um mês. Foi a segunda vez que se tentou desalojar o acampamento que, em seu melhor momento, contava com mais de 200 tendas de campanha. Em contraste com a primeira tentativa, no dia 25 de outubro, onde o uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha deixou vários feridos, em particular um marine veterano do Iraque que apenas na semana passada saiu do hospital ainda com problemas devido a um traumatismo craniano, nesta ocasião não se relatou violência.

Em resposta à essa primeira tentativa, foram realizados atos de protesto em todo o país, realizou-se uma greve de 24 horas que conseguiu fechar o quinto porto mais importante dos Estados Unidos, e a prefeita Jean Quan foi obrigada a pedir desculpas em público pela ação da polícia.

O pretexto oficial era que se devia garantir a segurança depois que um homem foi baleado e morreu perto do acampamento, em uma disputa que os manifestantes garantem não ter nada a ver com seu movimento. Quando finalmente a polícia chegou às 4 horas da manhã (hora local), havia muito menos ativistas que o esperado, já que alguns decidiram fazer um recuo tático. A operação policial acabou com a prisão de cerca de 32 manifestantes.

A prefeita Quan informou que a praça ficará disponível para os manifestantes durante o dia, garantindo seu direito à liberdade de expressão, mas não poderão pernoitar nela. Os detidos e outros manifestantes gritaram: “vergonha”, “vergonha” e “voltaremos”. Na terça, durante o dia, já havia reuniões entre os manifestantes para planejar seus próximos passos.

Amor e casamento na praça
No último domingo, Ocupa Wall Street em Nova York foi a cena de um casamento entre duas pessoas que se apaixonaram no acampamento depois de se conhecerem há menos de seis semanas. Emery Abdel-Latif, de 24 anos, e Micha Balon, de 19, se encontraram quando buscavam um lugar para orar na Praça Liberdade. O casal muçulmano se casou em uma cerimônia tradicional de seu credo diante um público de manifestantes e garantiu que pretende permanecer no local ao longo do inverno.

Em outubro, também no ocupa Wall Street, em Nova York, um homem se ajoelhou e, utilizando o sistema de microfone humano, pediu sua noiva em casamento, a quem pediu que ocupasse sua vida. Quando ela respondeu sim, repetido através do coro de manifestantes, estourou uma ovação.

Ação policial em Nova York

A polícia desalojou os manifestantes do Ocupa Wall Street Nova York, na madrugada desta terça-feira, retirando-os da praça onde estavam acampados desde que iniciou o movimento de protesto, em uma operação surpresa. A maior parte dos manifestantes que estavam reunidos no parque Zuccotti desde o dia 17 de setembro foram desalojados a força em menos de uma hora pela operação que começou por volta da uma hora da madrugada (hora local). Durante a operação, alguns policiais conduziram grupos de manifestantes para furgões, enquanto outros derrubavam barracas e retiravam cartazes. A polícia se negou a precisar quantas pessoas foram detidas.

Horas após serem expulsos pela polícia de Nova York da praça onde estavam acampados há dois meses, manifestantes do movimento Ocupa Wall Street convocaram novos protestos e uma assembleia geral a ser realizada em outra parte de Manhattan. Eles garantem que a repressão policial não intimidará o movimento.